23/01/2019

Bolsonaro diz a executivos que Brasil ficará no Acordo do Clima

Bolsonaro diz a executivos que Brasil ficará no Acordo do Clima

Em Davos, presidente foi questionado por empresários sobre planos para o meio ambiente.

O Brasil não vai deixar o Acordo de Paris sobre o clima, disse o presidente Jair Bolsonaro em encontro com CEOs em Davos segundo um dos participantes.

Ele já havia feito um aceno nessa direção ao afirmar, na plenária do Fórum Econômico Mundial, que o país pretende estar sintonizado com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação ambiental.

 

Segundo o executivo presente na reunião com o presidente e com o ministro Paulo Guedes (Economia), Bolsonaro foi questionado pelos representantes das multinacionais sobre quais eram seus planos em relação ao ambiente e à questão indígena.

O presidente já chegou a dizer que o país poderia deixar o acordo climático fechado pela ONU em 2015, a exemplo dos EUA. Também já afirmou que era algo a se pensar. Dois dias antes do segundo turno da eleição, Bolsonaro afirmou que, se fosse eleito presidente, manteria o Brasil no Acordo de Paris sobre o clima, desde que a soberania plena da Amazônia fosse preservada.

"Eu perguntaria a vocês: nesse acordo de Paris, nós poderíamos correr o risco de abrir mão da nossa Amazônia? Vamos então botar no papel que não está em jogo o triplo A e nem a independência de nenhuma terra indígena que eu mantenho o acordo de Paris", disse em entrevista coletiva na época. A região chamada por ele de "triplo A" engloba os Andes, o oceano Atlântico e a Amazônia.

Em Davos, ele esclareceu sua posição, seguindo o que dissera seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Informou aos empresários e executivos estrangeiros que seguirá no acordo, mas que espera contrapartida pelo fato de o país ser um dos que menos poluem o planeta.

 

Clima é um dos principais trilhos da agenda em Davos neste ano, e os participantes mostram preocupação com a ação humana no aquecimento do planeta. Nesta terça, o príncipe William entrevistou o naturalista David Attenbourgh a esse respeito na plenária.

No encontro fechado, que reuniu cerca de 30 executivos pouco após seu discurso, incluindo os CEOs do Bank of America, Brian Moynihan, e o da Salesforce, Mark Benioff, Bolsonaro também explicou seu projeto para a reforma da Previdência, sem contudo entrar em muitos detalhes —parte da plateia de seu discurso se frustrara com a ausência de informações sobre o assunto.

A reação dos executivos foi descrita como “muito positiva” por esse participante, embora tenham notado que o presidente ainda precisa passar da palavra à ação (Folha de S.Paulo, 23/1/19)


Bolsonaro disse o que Davos queria ouvir e perdeu chance de mostrar agenda

Em seu primeiro discurso em um evento internacional, o presidente Jair Bolsonaro "falou o que a plateia de Davos queria ouvir", mas perdeu a oportunidade de mostrar a líderes, empresários e personalidades públicas do Fórum Econômico Mundial uma agenda concreta, na avaliação de analistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Para cientistas políticos e especialistas em relações internacionais, a fala de Bolsonaro foi superficial e, em alguns momentos, se aproximou da retórica da campanha eleitoral.

"A questão não foi só o que ele falou, mas o que não falou", diz Leandro Consentino, professor e especialista em relações internacionais do Insper.

Em um painel previsto para durar cerca de 30 minutos, o presidente discursou durante cerca de 6 minutos e respondeu a perguntas de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, por 8 minutos.

Há um ano, em janeiro de 2018, o então presidente Michel Temer falou no mesmo evento por cerca de 20 minutos. Em 2014, a fala da então presidente Dilma Rousseff em Davos durou pouco mais de 35 minutos.

Ambos deram um panorama dos indicadores macroeconômicos do Brasil, citaram a importância da responsabilidade fiscal - ou seja, de manter equilibradas as contas públicas - e prometeram medidas de desburocratização para aumentar a produtividade.

A fala de Bolsonaro incluiu as reformas, sem citar a da Previdência ("gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós") e reforçou o caráter liberal da agenda econômica ("trabalharemos pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas") mas sem falar de medidas específicas.

O discurso passou ainda pela necessidade de o país ser mais aberto ("o Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional, e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste governo") e defendeu a preservação do meio ambiente ("nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis").

No entanto, para Maurício Santoro, professor de relações internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o presidente deveria ter dedicado mais tempo a temas com maior apelo ao público de Davos, que concentra a "elite da economia global". Ele cita a reforma da Previdência e a questão do déficit público, que estão entre as maiores interrogações dos investidores estrangeiros em relação ao país.

"Ele poderia pelo menos apresentar algumas propostas iniciais, dizer se os militares vão estar ou não incluídos na reforma da Previdência. Na entrevista, ele se esquivou dessas perguntas", pondera o especialista, referindo-se à questão colocada por Klaus Schwab durante o painel, sobre os "passos concretos" que Bolsonaro planejava tomar "nos próximos meses para dar início ao processo de transformação do Brasil".

"Era o grande momento para apresentar uma agenda prática de reformas", acrescenta Santoro. "Quando fala que vai promever abertura comercial, isso é o que as pessoas querem ouvir, mas faltou dar exemplos. Você vai abrir a economia brasileira? Com vai fazer isso? Quanto vai reduzir das tarifas? Está tudo vago, mas chegou o momento que as pessoas querem ouvir propostas concretas."

Consentino, do Insper, lembra que o tema da Previdência chegou a ser aventado como parte central do discurso, conforme foi noticiado pela imprensa nos últimos dias, mas foi descartado.

O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que faz parte da comitiva presidencial, afirmou na noite de segunda-feira que a reforma das aposentadorias não seria abordada, pois atenderia "muito mais ao público brasileiro do que ao daqui".

"Mas isso era, na verdade, o que mais interessava a quem estava lá", diz Consentino.

O cientista político e professor do Insper Fernando Schüler discorda. Para ele, o discurso cumpriu seu papel, apresentou a visão de mundo de Bolsonaro e falou "o que o público queria escutar", ao abordar tópicos como privatizações, segurança jurídica e combate à corrupção.

"Não é o caso em Davos de tratar exaustivamente de assuntos internos do Brasil. É como as grandes empresas fazem. Não estão lá para prestar contas, assumir compromissos. No exterior se dá diretrizes, se fala de estabilização da economia."

Schüler diz que o evento oferece outros momentos - reuniões com ministros, por exemplo -, onde as propostas podem ser detalhadas, o que não caberia à fala do presidente.

 

Discurso de campanha

Especialistas avaliam ainda que o discurso de Bolsonaro se aproximou da retórica de campanha em diversos pontos.

"Ele deu sinais claros de que ainda não desceu do palanque", afirma Consentino.

O professor cita como exemplo o trecho em que o presidente pontua que "os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender conosco", a menções a "política sem viés ideológico" ou a declaração, dada em resposta a uma pergunta sobre como integrar o Brasil com a América Latina, de que o governo refuta a "América bolivariana que existia no Brasil até pouco tempo".

Schüler avalia, no entanto, que o fato de Bolsonaro reapresentar os pontos da campanha não diminui a relevância de sua fala. "Ele poderia encomendar um discurso, mas não é o que se espera dele", diz.

"Existe uma diversidade muito grande de perfis de liderança no plano global. Existem homens muito mais sofisticados - Macron, Trudeau, Obama -, mas Bolsonaro é um líder simples, capitão do Exército que não teve esse preparo intelectual, teria sido artificial fazer um discurso intelectual. Ele mostrou autenticidade", completou o cientista político.

Já para Santoro, da UERJ, o fato de o presidente ter se atido aos temas de campanha evidencia o fato de que não há propostas concretas para temas que preocupam os investidores estrangeiros.

"O discurso que ele fez foi muito parecido com as falas de campanha no Brasil. Aqui, sempre que o pressionavam sobre algum detalhe específico de economia, dizia que ia perguntar para [o ministro da Economia] Paulo Guedes. Ele não apresentou nada porque a proposta ainda não está pronta e isso vai repercutir mal perante esse público."

Consentino destaca ainda o fato de o presidente ter repetido parte de seu lema de candidatura: "Deus acima de tudo".

Ele diz que a escolha foi complicada, já que o público de Davos seria cioso do Estado laico.

"Ali havia pessoas de todos os credos, e a gente já teve uma querela envolvendo países árabes", ele afirma, fazendo referência ao estremecimento das relações com países do Oriente Médio após a declaração de Bolsonaro que o Brasil mudaria sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém (BBC Brasil,



Descrição de chapéuFÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

Íntegra do discurso de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos

Presidente falou nesta terça-feira (22) na plenária do evento na Suíça

 

O presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (22) discurso na abertura da sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, evento que acontece em Davos, na Suíça.

Leia a íntegra do discurso.

 

“Boa tarde a todos!

Muito obrigado, professor Schwab!

Agradeço, antes de mais nada, o convite para participar deste fórum e a oportunidade de falar a um público tão distinto.

Agradeço também a honra de me dirigir aos senhores já na abertura desta sessão plenária.

Esta é a primeira viagem internacional que realizo após minha eleição, prova da importância que atribuo às pautas que este fórum tem promovido e priorizado.

Esta viagem também é para mim uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o momento único em que vivemos em meu país e para apresentar a todos o novo Brasil que estamos construindo.

Nas eleições, gastando menos de 1 milhão de dólares e com 8 segundos de tempo de televisão, sendo injustamente atacado a todo tempo, conseguimos a vitória.

Assumi o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica.

Temos o compromisso de mudar nossa história.

Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados. Honrando o compromisso de campanha, não aceitando ingerências político-partidárias que, no passado, apenas geraram ineficiência do Estado e corrupção.

Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós.

Aqui entre nós, meu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro. 

Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos primeiros países em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo. Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso Pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda é pouco conhecido!

Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo.

Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis.

Os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender conosco.

Queremos governar pelo exemplo e que o mundo restabeleça a confiança que sempre teve em nós.

Vamos diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos.

Trabalharemos pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas.

O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional, e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste Governo.

Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios.

Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir.

Para isso, buscaremos integrar o Brasil ao mundo, por meio da incorporação das melhores práticas internacionais, como aquelas que são adotadas e promovidas pela OCDE.

Buscaremos integrar o Brasil ao mundo também por meio de uma defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais.

Vamos resgatar nossos valores e abrir nossa economia.

Vamos defender a família e os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria.

Estamos aqui porque queremos, além de aprofundar nossos laços de amizade, aprofundar nossas relações comerciais.

Temos a maior biodiversidade do mundo e nossas riquezas minerais são abundantes. Queremos parceiros com tecnologia para que esse casamento se traduza em progresso e desenvolvimento para todos.

Nossas ações, tenham certeza, os atrairão para grandes negócios, não só para o bem do Brasil, mas também para o de todo o mundo.

Estamos de braços abertos. Quero mais que um Brasil grande, quero um mundo de paz, liberdade e democracia.

Tendo como lema “Deus acima de tudo”, acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.

Muito obrigado”