27/04/2023

Bolsonaro na Agrishow gera mal-estar e ministro não vai à abertura

O ex-presidente Jair Bolsonaro desfilou em cavalo na Agrishow de 2022, após ter participado de uma motociata do aeroporto à feira agrícola - Isac Nóbrega-25.abr.22/PR

 Jair Bolsonaro  na Agrishow de 2022 - Isac Nóbrega-25.abr.22-PR

 

Nunca um ex-presidente da República participou do principal evento do setor, em Ribeirão Preto; saia justa inédita divide integrantes da organização.

A visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto, na próxima segunda-feira (1º), gerou mal-estar com o governo Lula e deve afastar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do evento.

Principal referência em tecnologia agrícola na América Latina, a Agrishow contava com Fávaro na abertura, mas ele decidiu não participar.

É tradição que o titular da Agricultura compareça ao primeiro dia de evento, especialmente no início de novos governos. Por isso, a ausência dele pode ser vista como um recuo.

Na terça-feira (25), uma conversa entre a direção da Agrishow e Fávaro terminou em impasse. O presidente da feira, Francisco Matturro, informou ao ministro que Bolsonaro participaria da abertura e que isso poderia causar algum tumulto ou constrangimento por manifestações contrárias ao governo —o agronegócio, em sua maioria, apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado.

Segundo relato à Folha, Matturro sugeriu que Fávaro participasse da feira na terça (2), quando haverá reunião da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).

 

A conversa desagradou ao ministro e é possível que não haja representantes do governo federal não só na abertura, mas em nenhum dia da Agrishow, que vai até 5 de maio.

O Ministério da Agricultura confirmou que Fávaro não estará no primeiro dia de evento. Uma visita nos outros dias ainda é incerta.

A ausência frustrará o setor, já que havia a expectativa de que o titular da pasta anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.

Lula já não era aguardado, mas havia a expectativa de que ele fosse representado também pelo seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador paulista e que era visita habitual ao evento.

O convite para Bolsonaro visitar Ribeirão partiu do presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, que também preside a Associação Rural de Ribeirão e é vice-presidente da Assovale (Associação Rural Vale do Rio Pardo).

A ida à Agrishow marcará a primeira viagem do ex-presidente após retornar ao país. Bolsonaro deverá desembarcar no aeroporto de Ribeirão no início da tarde de domingo (30), mas sua agenda ainda não foi divulgada.

Ruralistas disseram que ele participará de um churrasco numa fazenda. Em redes sociais e grupos de aplicativos de celular, apoiadores do ex-presidente têm afirmado que ele poderia participar de uma motociata, de uma reunião com sua base política e até mesmo do último dia do Ribeirão Rodeo Music, que acontece na cidade.

Junqueira afirmou não estar organizando nenhum evento com o ex-presidente no domingo e disse ter enviado o convite como dirigente do sindicato.

"Tive a confirmação de que a Agrishow também enviou convite para ele e imediatamente aceitou. Dou graças a Deus de ser a primeira viagem que ele vai fazer depois que retornou dos Estados Unidos, prestigiando a região de Ribeirão Preto e a feira", disse.

A Agrishow, contudo, disse não ter convidado Bolsonaro, acrescentando que só convida políticos em exercício do cargo. De acordo com representantes do evento, a sugestão a Fávaro foi para que ele ampliasse sua permanência em Ribeirão, e não que deixasse de participar da abertura para visitar o evento no dia seguinte.

Junqueira disse que não passa pela sua cabeça que o presidente da feira, Francisco Matturro, ex-secretário da Agricultura de São Paulo, tenha desconvidado o ministro.

"Ele pode ter dito ‘olha ministro, na abertura da feira estará o Bolsonaro, o governador [Tarcísio de Freitas]’, pode ter dito isso, mas duvido que tenha dito [para o ministro alterar a agenda]."

 

O ruralista afirmou ainda que há um ranço do setor com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por fatores como a aproximação com o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e que "acima de 90% apoia o ex-presidente". "Ele [Stedile] lidera um grupo terrorista", disse.

Desde o início da manhã desta quarta, dirigentes de associações ligadas à organização da Agrishow buscavam contato com o ministério para tentar desfazer o mal-estar.

A feira agrícola publicou uma nota de dois parágrafos no fim da manhã reafirmando o convite a Fávaro para participar da abertura e o elogiou.

"Para a direção da Agrishow, o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor", diz a nota.

A SRB (Sociedade Rural Brasileira), uma das organizadoras da feira, também se manifestou, ao afirmar que a Agrishow é "democrática, apartidária, difusora de tecnologias e aberta a todos".

"A Sociedade Rural Brasileira reitera a importância da participação e o convite ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a toda equipe do governo federal para que participem da cerimônia de abertura, assim como fica imensamente honrada com a presença do governador Tarcísio de Freitas e do ex-presidente da República Jair Bolsonaro", diz a entidade.

Nunca, até a edição deste ano (28ª), um ex-presidente da República participou da feira, e a situação inédita tem dividido integrantes da organização da Agrishow sobre a visita de Bolsonaro, segundo relatos feitos à Folha.

Enquanto uma parte defende a presença por entender que o ex-presidente foi importante para o setor e é apoiado pela maioria dos ruralistas, outra avalia que o agronegócio depende de políticas públicas do governo federal e que ficar ao lado de um rival político de Lula não seria inteligente.

Há dúvida sobre se Bolsonaro estará no palanque oficial na abertura, como nas duas vezes em que a visitou como presidente, ou se ficará na plateia, como ocorreu em 2018, quando esteve na feira agrícola na condição de pré-candidato. No ano passado, ele participou de uma motociata entre o aeroporto e a feira, e entrou no local montado num cavalo.

A Agrishow é organizada por Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e SRB.

Segundo Junqueira, é possível a feira abrigar Bolsonaro e o ministro e disse fazer votos de que "atuem em sinergia para aplicação de boas políticas públicas voltadas para o setor" (Folha de S.Paulo, 27/4/23)


Agrishow: Governo federal pode ficar de fora de abertura por possível presença de Bolsoaro

Carlos Fávaro - Foto Assessoria de Comunicação MAPA.jpg

Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro teria sido aconselhado a evitar eventual constrangimento, mas Agrishow nega; ida de ex-presidente não está confirmada

governo federal poderá ficar sem representantes na abertura da Agrishow, maior evento agrícola do País, devido a um mal-estar causado por um vaivém no convite feito ao ministro da AgriculturaCarlos Fávaro, para participar do evento.

Fontes próximas a Fávaro disseram ao Estadão/Broadcast que o presidente da feira, Francisco Maturro, telefonou ao ministro informando que o ex-presidente Jair Bolsonaro estaria na abertura do evento na companhia do governador do Estado, Tarcísio de Freitas, na próxima segunda-feira (1º). Ele teria sugerido a Fávaro que participasse da feira no dia seguinte para evitar eventual constrangimento. Inicialmente, o ministro havia sido convidado pela organização para a abertura, na segunda-feira.

 

Com o alerta sobre a presença de Bolsonaro e a sugestão da possibilidade de ir em outro dia, o ministro optou por não participar da feira, decisão que deve ser seguida pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A feira realizada em Ribeirão Preto (SP) tem patrocínio do Banco do Brasil.

A reportagem apurou que estava previsto, na feira, o anúncio por Fávaro de R$ 1,030 bilhão em recursos suplementares para a equalização de crédito para o Plano Safra 2022/23. A verba vem sendo negociada pelo Ministério da Agricultura com o Ministério da Fazenda desde o início de março. Os recursos destinados à equalização devem gerar um montante extra de R$ 30 bilhões para a política de crédito agrícola que se estende até 30 de junho.

A assessoria do Ministério da Agricultura confirmou à reportagem que Fávaro não comparecerá à feira. Questionada pela reportagem, a assessoria da Agrishow afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já confirmou presença no evento.

O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, negou ao Estadão/Broadcast que tenha “desconvidado” Fávaro para a abertura da feira ou mesmo que tenha sugerido que ele participasse do evento no dia seguinte.

“Eu convidei o ministro para que ele permaneça em Ribeirão Preto no dia 2 de maio, quando terá uma reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Se ele quiser ficar lá (na feira) todos os dias, terá tapete vermelho”, afirmou Maturro. “Jamais cometeria a deselegância de desconvidar alguém”, reforçou.

Maturro disse ter feito contato por telefone com o ministro na terça-feira, 25, para avisá-lo que circula um folheto na região de Ribeirão afirmando que Bolsonaro estará na abertura oficial da feira. “Como sei que nem tudo chega ao gabinete do ministro, disse a ele que havia esse movimento”, afirmou. Apesar de fazer o alerta, o presidente da Agrishow reiterou que as autoridades se respeitam e que “não há hostilidade na Agrishow”.

Segundo o presidente da Agrishow, o principal evento agrícola do País funciona como uma vitrine para o governo e a organização da feira ainda não foi informada oficialmente da decisão do ministro de não comparecer. “Eu espero que o ministro venha. Precisamos unir o País e reaproximar o agro do governo”, destacou.

Em nota à imprensa, a Agrishow reafirmou o convite feito a Fávaro para participar da abertura. A organização do evento afirmou que, para a direção do evento, “o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro”. “Sua participação na feira é muito importante para todo o setor”, diz o comunicado.

Ainda segundo a Agrishow, o ex-presidente Jair Bolsonaro não foi convidado oficialmente e não disse à organização se irá ao evento.

Reduto bolsonarista

Reduto eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda mantém fortes ligações com o setor, a previsão da sua presença no evento vem sendo amplamente divulgada no interior paulista. Nas redes sociais, circulam convites para apoiadores receberem Bolsonaro e Tarcísio no aeroporto Leite Lope,s no domingo, 30, às vésperas da feira.

Tradicionalmente, em anos eleitorais, a feira recebia autoridades oficiais do governo na abertura e candidatos nos demais dias. No começo deste mês, quando questionado em coletiva de imprensa sobre a presença de autoridades, inclusive para articulação sobre crédito, a organização da feira mencionou a expectativa de presença do ministro da Agricultura ou do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Na ocasião, o presidente da Agrishow disse que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também havia sido convidado e seria “muito bem recebido”, caso pudesse ir à feira.

Perfil conciliador

Em nota publicada nas redes sociais, o Sindicato Rural do Ribeirão Preto (SRRP), a Associação Rural de Ribeirão Preto (ARRP) e a Associação Rural Vale do Rio Pardo (Assovale) condenaram o que chamaram de “narrativa mesquinha” referente à presença de Tarcísio e Bolsonaro no evento e ausência de Fávaro.

Segundo elas, a Agrishow e sua presidência têm um “perfil conciliador”. “SRRP, ARRP e Assovale rechaçam e condenam a narrativa trazida pela imprensa, fazendo votos de que todos os agentes mencionados estejam presentes na abertura da feira e atuem em sinergia para aplicações de boas políticas públicas”, afirmaram na nota.

Um episódio semelhante ao da Agrishow ocorreu no Show Rural Coopavel, realizada pela cooperativa Coopavel, em Cascavel (PR), em fevereiro deste ano, a primeira do calendário de eventos agrícolas após a eleição do presidente Lula.

Fávaro foi convidado para participar do evento por lideranças cooperativistas nacionais e o convite foi, posteriormente, retirado por representantes da organização local que teriam “aconselhado” as lideranças nacionais sobre riscos de retaliação à participação do ministro no evento.

Na ocasião, o futuro secretário de Política Agrícola do ministério, ex-ministro Neri Geller, esteve na feira em uma agenda paralela à organização do evento, promovida pela indústria de máquinas agrícolas.

Nos bastidores, lideranças do setor produtivo repudiam a decisão da organização da Agrishow e alegam que houve descortesia e “politização” da feira ao privilegiar o ex-governo em detrimento do atual.

Representantes de entidades do setor buscam ainda costurar um “entendimento” entre o ministério e a Agrishow para amenizar o mal-estar gerado. “Criou-se uma animosidade desnecessária para início de governo e para aproximação do setor com o novo Executivo”, resume uma fonte (O Estado de S.Paulo, 27/4/23)