Bolsonaro pode colocar Marinha à frente das usinas nucleares
A julgar pelos planos traçados no governo, os militares deverão ter o maior orçamento desde a abertura. De um lado, Jair Bolsonaro pretende retomar ou acelerar os principais investimentos da área de Defesa; do outro, planeja colocar as Forças Armadas à frente de obras públicas estratégicas que hoje estão paralisadas. A primeira ação mais marcante envolveria Angra 3. O projeto sairia do âmbito da Eletrobras/Eletronuclear.
Caberia às Forças Armadas, notadamente a Marinha, acompanhar a construção da usina, suspensa desde 2015, projeto este que deverá ter um sócio operacional estrangeiro. Posteriormente, a área militar poderia ter um papel direto na administração do complexo de usinas de Angra a partir de um modelo de gestão compartilhada com o futuro sócio.
Ressalte-se que a Marinha forma com a Eletronuclear e a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) a santíssima trindade da expertise em geração atômica. Graças ao Programa Nuclear da Armada, o Brasil domina o ciclo completo do enriquecimento de urânio. Coincidentemente ou não, um dos principais especialistas no assunto do país está hoje no Ministério de Minas e Energia, o Almirante Bento Albuquerque.
O governo Bolsonaro fará também um esforço orçamentário para entregar os principais projetos de reaparelhamento do Exército, Marinha e Aeronáutica. No topo das prioridades estão o Sisfron, sistema do Exército para vigilância de fronteiras; os novos caças da Aeronáutica e o programa de submarinos da Marinha. A trinca está orçada em mais de R$ 45 bilhões. Dos três projetos, a compra das aeronaves é o que está mais adiantado.
Talvez não por coincidência, trata-sese do único em que o governo ainda não precisou despender um só centavo. Pelo contrato firmado com a Saab, de aproximadamente US$ 4,5 bilhões, o primeiro desembolso só será feito após a entrega do último dos 36 caças. Por sua vez, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira) é tratado pela área de Defesa como absolutamente fundamental para o confronto com o crime organizado, sobretudo no que diz respeito ao combate à entrada de armas e drogas no país.
O Comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, é um entusiasta do projeto. Aliás, o militar é um dos oficiais do Alto-Comando mais familiarizados com o assunto. Até substituir o General Eduardo Villas Bôas, ele chefiava o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, responsável pela implantação do Sisfron. O projeto, no entanto, segue em ritmo lento. Dos R$ 12 bilhões originais, o governo teria liberado apenas algo como R$ 1 bilhão. A previsão era de que o Sistema estivesse implantado nos 17 mil quilômetros de fronteiras brasileiras até 2021. Até o momento, apenas 600 quilômetros estão cobertos.
Outro desafio do governo é destravar o Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha Brasileira (Prosub). O projeto já consumiu cerca de R$ 17 bilhões ao longo da última década. Estima-se que precisará de outro tanto para ser integralmente implantado. Em dezembro, a Marinha lançou ao mar do primeiro submarino convencional, o “Riachuelo”, que ficará em testes por mais de um ano. A expectativa é que as outras três embarcações convencionais previstas no programa sejam lançadas respectivamente em 2020, 2021 e 2022.
O aumento do espectro de atuação das Forças Armadas e a entrega dos projetos cardeais da área de Defesa funcionariam como um sistema de pesos e contrapesos na visceral relação entre o governo e os militares. O presidente Bolsonaro provavelmente não conseguirá atender, ao menos na medida esperada, alguns dos pleitos do Exército, Marinha e Aeronáutica, a começar pela redução da defasagem salarial.
O aumento dos investimentos na Defesa seria uma forma de compensação para eventuais sacrifícios dos militares, inclusive a provável mudança do seu regime de Previdência (Relatório Reservado, 6/2/19)