Bovinos: Ano de 2018 deve ser melhor, mas com desafios
Passado o momento turbulento e constatada a importância da reorganização e da capacidade de reagir às diferentes intempéries de 2017, o setor pecuário inicia 2018 mais otimista, porém, bastante atento, segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Em termos gerais, espera-se um cenário economicamente favorável neste ano, tanto na esfera internacional como na nacional, que pode beneficiar toda a cadeia da carne bovina.
Para o mercado mundial, estimativas diversas apontam bom crescimento da economia em muitos países. Tal contexto pode levar à diminuição de barreiras, ampliar e/ou até mesmo criar novas possibilidades comerciais para a carne brasileira, o que tende a manter a tendência de aumento das exportações nacionais.
Quanto ao cenário doméstico, esperam-se recuperação da economia e retomada do crescimento, pautadas na diminuição da taxa de juros, no controle da inflação, na relativa estabilidade do câmbio, na redução do índice de desemprego e na melhoria do PIB (Produto Interno Bruto). Esse contexto favorece o aumento no consumo geral da população e, por sua vez, gera expectativa de aquecimento na demanda por carnes, principalmente pela bovina, que é mais sensível à elevação de renda.
O consumo interno, portanto, prejudicado no ano que se encerrou, deve ser aumentado em 2018. Com projeção de crescimento do PIB nacional em torno de 2,7% (estimativa do Banco Central no encerramento de 2017), o Cepea calcula que pode haver aumento de 2,2% no consumo interno de carne bovina.
As projeções otimistas, contudo, podem ser afetadas por fatores que hoje ainda estão incertos, requerendo, portanto, cautela e também ações de operadores do setor pecuário. Aspectos políticos, assim como os relacionados às reformas da previdência e tributária, podem interferir diretamente nos resultados econômicos de 2018.
Assim, neste momento, são de grande importância a implementação de ações que envolvam investimentos (como melhoramento genético), o uso de diferentes instrumentos de comercialização e também que visem o aumento da transparência de mercado. Ações como essas permitem que operadores de mercado diminuam a dependência de aspectos não controláveis e reduzem riscos inerentes à atividade. Além disso, possibilitam um melhor aproveitamento dos possíveis bons resultados que possam ser gerados ao longo do ano.
INTERNACIONAL
Os principais concorrentes do Brasil no mercado internacional, como Estados Unidos, Austrália, Índia e China, têm desafios frente à produção, sejam eles estratégicos, climáticos ou de barreiras.
Os norte-americanos são grandes exportadores, mas são atualmente os maiores importadores mundiais – vendem carne com alto valor agregado e compram carne barata. A Austrália passa por redução de rebanho, devido à seca, o que eleva seus preços e deixa sua carne menos competitiva. Com problemas religiosos e a indecisão de proibição ou não do abate de vacas, a Índia não possui uma cadeia organizada com carne de qualidade e de padrão para oferecer ao mundo. Por sua vez, a China tem grande rebanho, mas custos elevados de produção, sendo uma grande demandante.
Neste ponto, os chineses estão sendo os grandes responsáveis pelos embarques crescentes do Brasil nos últimos anos. O país representou em torno de 40% do total embarcado em 2017, sendo um mercado estratégico e de expansão para a carne bovina.
Vale lembrar que, de acordo com dados do Agribenchmark/Cepea, o Brasil é responsável por cerca de 1/5 da produção mundial de carne bovina, tendo um dos menores custos de produção (Cepea/Esalq, 10/1/18)