Brasil avança em mercados de carne dos EUA
Fazendeiro conduz boiada em fazenda perto de Brisbane, Austrália - David Gray - Reuters
Americano perde potencial de exportação, e brasileiro ocupa parte de seu espaço.
O comércio mundial de carne bovina mantém demanda forte neste ano e 13 milhões de toneladas sairão das fronteiras de países exportadores para importadores.
O Brasil é o destaque. As exportações de janeiro a setembro atingiram o recorde de 2,1 milhões de toneladas, com receitas externas de US$ 9,2 bilhões, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
As perspectivas para o mercado externo brasileiro são de crescimento também em 2025, embora a produção interna deva cair para 11,8 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Na configuração de 2024 e de 2025, Brasil e Austrália ganham participação em mercados ocupados pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Demanda externa, seca, pastagens ruins, abate de fêmeas. Cada país teve seu motivo para aumentar os abates, e a consequência é uma oferta mundial de 61,4 milhões de toneladas dessa proteína no mundo.
A China se encarrega de ficar com boa parte das exportações mundiais. Só no Brasil, os chineses adquiriram 935 mil toneladas até setembro, 45% do total exportado pelo país.
A consequência do aumento de produção de carne neste ano é uma redução do rebanho em 2024 e em 2025. Nas contas do Usda, serão 923 milhões de cabeças de gado no mundo em 2025, 1% a menos do que neste ano.
Isso reduz a produção mundial de carne bovina para 60,9 milhões de toneladas no próximo ano, mas as exportações praticamente ficam sem alterações. A China, que manterá alta no consumo, vai adquirir 3,83 milhões de toneladas em 2025, volume superior ao deste ano.
A produção americana, uma das principais no mundo, perde ritmo e recua para 11,8 milhões de toneladas. Com isso, o potencial de exportação dos americanos cai para 1,18 milhão de toneladas, e a necessidade de importação sobe para 2 milhões.
Boa parte dessa necessidade de compra dos EUA está sendo abastecida pelo Brasil, que, neste ano, já enviou 147 mil toneladas para o país.
Fazenda em Stowell, no Texas - Jonathan Bachman - Reuters
Os australianos, tradicionais exportadores de carne para Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, mercados que remuneram melhor, vão aumentar em 2% a produção no próximo ano, segundo o Ministério da Agricultura.
Os argentinos, que já colocaram 493 mil toneladas de carne bovina no mercado externo até agosto, estão com crescimento de 9% no ano, segundo o Indec (instituto de estatísticas da Argentina). Consumo interno per capita —o menor desde 1920—, pressão da inflação e novas políticas de incentivo às exportações permitem um cenário externo melhor para os exportadores argentinos.
Os uruguaios aumentaram em 11% as exportações de carne bovina no exercício 2023/24, sendo os principais destinos a China, Estados Unidos e União Europeia, segundo o Inac (Instituto Nacional de Carnes).
Na União Europeia, após um aumento no primeiro semestre, a produção fecha o ano com queda de 0,5%, nos cálculos do Eurostat. A tendência continua em 2025, com recuo de 1%, devido à escassez de bovinos em vários países do bloco.
Mesmo com a queda na produção, os europeus esperam alta de 10% nas exportações deste ano. Em 2024, as importações europeias de carne bovina devem cair 2%, voltando a recuar 1,5% em 2025. O quadro global está muito competitivo, e o Brasil está encontrando novos mercados, segundo os analistas da União Europeia.
Consumo mundial
O consumo mundial de carne bovina deverá atingir 59,6 milhões de toneladas neste ano. No próximo, recua para 59,2 milhões, segundo o Usda.
Em 2025, Brasil e Estados Unidos lideram a produção mundial, com 11,8 milhões de toneladas cada um. China e Estados Unidos lideram as importações (Folha, 15/10/24)