Brasil colhe 2,4 bilhões de toneladas de grãos em uma década
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Por Vera Ondei
Como os produtores responderam à demanda interna e global por alimentos e fibras, aumentando a entrega em 1 bilhão de toneladas em 10 anos.
O Brasil produziu nas últimas 10 safras agrícolas um recorde de 2,415 bilhões de toneladas de grãos, de acordo com o Observatório Agrícola, organismos ligado à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento e Preço). A produção nacional de grãos cresceu 1 bilhão de toneladas entre as safras 2013/2014 e o ciclo encerrado na semana passada – quando foi anunciado o 12º Levantamento de Safra que encerra mais um ciclo no campo –, na comparação com o período de 10 anos anteriores, que vai da safra 2003/2004 à safra 2012/2013. Nessa década, a produção foi de 1,434 bilhão de toneladas de grãos.
Confira, a seguir, a produção de cada um desses 10 anos de safra, comparado com a produção do mesmo ano da década anterior.
Safra 2022/23
Produção: 322,752 milhões de toneladas
Crescimento na década: 71%
Safra 2012/13: 188,658 milhões de toneladas
Produtividade e área cultivada vão em sentidos opostos
Os produtores rurais fizeram a lição de casa não apenas aumentando a produção, mas promoveram um movimento poupa terra extraordinário. Isso porque, enquanto a produção cresceu, o aumento da área cultivada não se deu no mesmo ritmo. Isso significa que a produtividade, que é a produção por hectare, subiu de patamar.
Por emprego de tecnologias e uma melhor gestão do negócio, a produtividade da safra 2022/2023 foi de 4.111 quilos de grãos por hectare. Na safra de 2013/2014, a produtividade era de 3.433 quilos por hectare. Isso significa um aproveitamento atual de terras da ordem de quase 20% acima.
Para comparação, caso a produtividade tivesse se mantido a mesma da safra 2013/2014, a área de terra necessária para plantar a safra 2022/2023 teria sido de 94,01 milhões de hectares. Mas não foi o que aconteceu. A área utilizada foi de 78,5 milhões de hectares, ou seja, foram poupados 15,5 milhões de hectares.
O próximo levantamento de safra, o primeiro do ciclo 2023/2024, será anunciado no início do mês de outubro. Não há estimativa, por ora, de que possa vir um novo recorde imediato por conta de custos e de preços em queda das commodities. Mas os recordes são inevitáveis, como tem ocorrido na última década. Nesse período, em apenas três ciclos os produtores não superaram a safra anterior. Foram elas, as safras 2015/2016, 2017/2018 e a de 2020/2021.
Aumentos consecutivos de produção e produtividade são dados como certo pela história que o Brasil vem construindo no campo. A tropicalização dos cultivos, principalmente da soja, se deu nas décadas 1970 e 1980 (quando a oleaginosa se espalhou pelo Cerrado). Do total de 78,5 milhões de hectares de grãos e fibras da última safra, 44 milhões de hectares foram de soja. Para o total das commodities, as aguardadas 100 milhões de toneladas de grãos e fibras somente vieram na safra 2000/2001, ou seja, depois de 30 anos. Mas, para 200 milhões de toneladas foi necessário metade desse tempo. Na safra 2016/2017, pela primeira vez a produção brasileira foi de 238,622 milhões de toneladas. Para os 300 milhões de toneladas de grãos e fibras, que ocorreram na safra encerrada de 2022/2023, foram necessárias apenas seis safras.
O International Grains Council (Conselho Internacional de Grãos) estimou para a safra global de 2022/23 uma produção de 2,263 bilhões de toneladas de grãos, elevando para 2,294 bilhões de toneladas a safra 2023/2024. É nessa conta que o Brasil entra.
As safras acompanhadas pela Conab são as de algodão, amendoim, arroz, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja e sorgo, mais as culturas de inverno, como aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale. A metodologia de avaliação de safras da Conab o que preconiza o Banco Mundial e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), que tem solicitado aos países-membros uniformização nos procedimentos de avaliação, de modo a reduzir as fortes discrepâncias nas suas estatísticas de produção (Forbes, 12/9/23)