Brasil desperdiça oportunidade de se mostrar ao mundo na Cúpula do Clima
Bolsonaro e Ricardo Salles – arquivo
Imagem: Reprodução
Legenda: Bolsonaro e o seu desministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, destoam da nova narrativa mundial de defesa do meio ambiente e, ao contrário, insistem em defender princípios e ações que colocam os brasileiros como predadores, incendiários e irresponsáveis. O Brasil deve ser duramente criticado e sairá defenestrado da Cúpula de Líderes Sobre o Clima promovida pelo presidente Joe Biden nos Estados Unidos
Por Ronaldo Knack
Nenhum País do planeta teria tanto para mostrar nesta Cúpula de Líderes Sobre o Clima do Clima, que será promovida nestas 5ª feira e 6ª feira, sob o comando e liderança do presidente Joe Biden nos Estados Unidos, como o Brasil. Deixando de lá os crimes e abusos ambientais cometidos pelas nações colonialistas até 1970, a partir daí o Brasil começou uma trajetória e assumiu um protagonismo ambiental inédito e pioneiro no mundo graças a implantação do ProÁlcool e a produção de biocombustíveis em larga escala.
Curiosamente não foram os cartéis do petróleo e da indústria automotiva que se interpuseram a este projeto genuinamente “verde e amarelo”, mas sim a estatal brasileira Petrobras que através de seus sucessivos “gestores” que tentaram de “toda$ a$ forma$” boicotar a produção da energia limpa e renovável do etanol, da bioeletricidade e mais recentemente, do biodiesel. Prova de que os governantes de plantão nem sempre, ou quase sempre, estão alinhados com interesses contrários aos que investem e produzem e acreditam na democracia e no livre-mercado.
Hoje ninguém que se preocupe, verdadeiramente, com o meio ambiente, pode negar as vantagens da experiência e expertise brasileira que não ficou apenas na produção dos biocombustíveis. Os mesmos princípios nortearam a migração da agricultura e pecuária predatórias, para o moderno conceito do agronegócio que está transformando o Brasil no líder mundial da produção alimentar do planeta, com a utilização de tecnologia e ciência estimulados pela nova geração de gestores, filhos e netos dos pioneiros que ocuparam o “hinterland” e formaram a nova fronteira agrícola nacional.
Há apenas três anos, juntos com a Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, o BrasilAgro promoveu evento inaugurando a “Arena do Conhecimento da Agrishow”, trazendo pela primeira vez a discussão em alto nível do agronegócio digital que, ao que tudo se prenunciava, substituirá a agricultura e a pecuária analógicas. Hoje tecnologias como as surgidas pós-internet como as startups, inteligência artificial, dados e logaritmos, blockchain, drones e veículos autônomos, dentre outras, criaram um novo e desafiante ambiente.
A imagem do agricultor caipira preocupado apenas em sobreviver da “porteira para dentro” passou a ser substituída pela do produtor rural, pelos empreendedores bem formados e, melhor ainda, muito bem informados a partir do conhecimento formado pelas nossas universidades e centros de pesquisa. Há alguns meses, em entrevista concedida ao TV BrasilAgro, o ex-ministro e Professor Emérito pela USP, Delfim Netto, assim resumiu a mudança que está ocorrendo na comparação quando, na década de 70 foi ministro da Agricultura, e o agronegócio que está colocando o Brasil na liderança mundial das cadeias alimentares:
“Estive a poucos dias em Rondonópolis (MT) para proferir palestra a um grupo de agricultores. A platéia era formada em sua maioria por jovens, todos contectados por “iphones” e “tablets”. Curioso, interrompi minha explanação e perguntei porque todos estavam tão atentos aos seus aparelhos e obtive, como resposta, que eles estavam acompanhando a abertura das operações da Bolsa de Commodities de Chicago. E, mais, a partir destas informaçõe em tempo real, estavam assumindo decisões e posições de compra e venda”. Ou seja, produtores distantes dos grandes centros, estavam conectados com o mundo para tomarem suas decisões. Acabaram-se as fronteiras geográficas.
A indústria vinícola brasileira não deve nada aos tradicionais produtores europeus e sul-americanos. Há 30 anos, produzia-se aqui vinho e espumantes de baixíssima qualidade. Hoje, com a modernização e investimentos em tecnologia, nossa produção não deve nada em termos de qualidade aos melhores produtos e marcas mundiais.
Já produzimos soja e milho em três safras anuais. As experiências da Embrapa para produzir trigo no cerrado já apresentam excelentes e animadores resultados. A produção e exportação de frutas é um negócio que só tende a aumentar. O etanol de milho cresce a cada usina instalada no Centro-Oeste.
A produção e exportação de cafés “especiais” cresce e representa importante agregação de valor à nossa cafeicultura que, durante décadas, se limitava a exportar grãos verdes para serem industrializados na Europa. Em que pesem os reflexos da pandemia do Covid nossas exportações de algodão estão crescendo.
O Brasil é destaque mundial na produção de carnes (bovinas, suínas e aves) e de florestas plantadas (celulose e papel) É, também, mercado preferido do cartel internacional de defensivos e herbicidas europeus, que, em seus países já baniram os produtos que exportam livremente ao Brasil. Este cartel se une e patrocina políticos e “pseudo-ambientalistas” para criticar, com veemência, a política ambiental brasileira aproveitando-se do que o negacionista Bolsonaro pensa e faz, em contradição ao que vem sendo feito pela nova geração de empresários do agronegócio.
Infelizmente este novo cenário e as oportunidades que se abrem para transformar e colocar o Brasil no protagonismo mundial da produção alimentar e preservação ambiental, distoam das posições retrógradas, predatórias e até mesmo infames defendidas pelo presidente Bolsonaro e estimuladas por parte da cúpula de militares que se instalaram no Palácio do Planalto e por ruidosos simpatizantes incapazes de discernir o que é bom e saudável e o que não o é. Dentre eles o desministro Salles.
Prova do negacionismo que só prejudica os brasileiros, é a gestão da pandemia do Covid-19, a indicação do general Eduardo Pazuello para o Ministério da Saúde, a indicação de tratamentos precoces que não tem nenhuma base científica e as quase 400 mil mortes de brasileiros. Com este “handicap” e o silêncio e a inação da nossa ministra Tereza Cristina que teimosamente insiste em não bater de frente com o desministro – além de permitir e estimular a importação de arroz, milho e soja... - e com parte significativa das “pseudo-lideranças” das entidades de classe do agronegócio que preferem permanecer omissas e coniventes, que o Brasil sairá defenestrado desta Cúpula do Clima.
Quem viver, verá... (Ronaldo Knack é Jornalista e bacharel em Direito e Administração de Empresas. É fundador e editor do BrasilAgro, sistema líder em comunicação do agronegócio brasileiro; ronaldo@brasilagro.com.br)