Brasil deve exportar até 35 mil t de ovos sem prejudicar mercado interno

ABPA avalia que, por terem uma representatividade pequena, as exportações pouco influenciam os preços do ovo no Brasil. Foto Erika Varga – Pixabay
Em entrevista à Rádio CBN, presidente da ABPA, Ricardo Santin, afirmou que uma “confluência de fatores” levou à alta dos preços do produto no país.
O Brasil deve aumentar as exportações de ovos em 2025, em função de fatores como a gripe aviária, que tem dizimado galinhas poedeiras em várias partes do mundo. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Ele diz, no entanto, que as vendas externas representam uma pequena parte da produção brasileira, sem riscos para o abastecimento no mercado interno.
Em entrevista à Rádio CBN, com participação do editor-executivo da Globo Rural, Cassiano Ribeiro, Santin afirmou que as vendas externas de ovos brasileiros, considerando o produto in natura e processado, deve ficar entre 30 mil e 35 mil toneladas, ainda em linha com as projeções iniciais da ABPA, mas de 60% acima do registrado no ano passado, de 18,4 mil toneladas.
“A exportação tende a aumentar. O Brasil vai exportar mais, mas não vai influenciar o abastecimento interno. A nossa exportação em fevereiro foi 0,8% da produção total. O porcentual de exportação é sobre bases pequenas e vão continuar quase que inferiores ou próximas de 1% da produção. Minha meta é chegar a 1%”, afirmou.
Em fevereiro de 2025, o Brasil exportou 2,527 mil toneladas de ovos in natura e processados, 57,5% a mais que no mesmo mês em 2024, quando o volume foi de 1,604 mil toneladas. Em receita, as exportações somaram US$ 4,936 milhões, um aumento de 63,2% em relação ao resultado de fevereiro de 2024, que foi de US$ 3,024 milhões.
Os Emirados Árabes Unidos foram o principal destino, com 548 toneladas importadas, queda de 2,6% na comparação anual. Os Estados Unidos foram o segundo, com 503 toneladas, aumento de 93,4%.
Na entrevista à CBN, Santin explicou que os Estados Unidos compravam, inicialmente, ovos do Brasil apenas para uso como ingrediente de ração animal. E, recentemente, passaram a habilitar exportações para o consumo humano, mas apenas como ingrediente da indústria de massas e de panificação.
A avicultura americana foi fortemente atingida pela gripe aviária, que dizimou planteis de poedeiras no país. Segundo Ricardo Santin, mais de 170 milhões de galinhas morreram devido à doença. Para efeito de comparação, ele informou que o Brasil aloja, em média, por ano, 130 milhões de poedeiras, em um plante total de 240 milhões de aves.
“Os Estados Unidos perderam quase que um ano inteiro de produção do Brasil em pouco mais de dois anos. Estão com um problema sério, por causa da gripe aviária”, ressaltou o presidente da ABPA.
Mercado interno
Ainda durante a entrevista, Ricardo Santin, descartou a influência da crescente exportação na alta dos preços do ovo no mercado interno. A produção brasileira, segundo a ABPA, é de pouco mais de 59 bilhões de unidades. Ele reconheceu que o preço subiu “mais do que o normal”, e disse que houve uma “confluência de fatores” para deixar o produto mais caro para os consumidores.
Um dos fatores é o aumento do custo de produção para o avicultor, especialmente do milho, principal componente da ração dos planteis. Santin afirmou que o valor de uma saca do cereal passou da casa dos R$ 65 para os R$ 90. As embalagens para os ovos também ficaram mais caras para a cadeia produtiva, por causa, principalmente, da tributação sobre as resinas plásticas.
Outro é o período da Quaresma, em que, tradicionalmente, muitos praticantes da religião Católica deixam de consumir carne, aumentando a demanda por ovos. Procura reforçada pelo próprio aumento de preços de carnes, que também tende a estimular a substituição por proteínas com preço mais competitivo para o consumidor.
“Houve também um problema de calor muito grande, e isso causou a perda de algumas galinhas, especialmente as mais velhas. E essa reposição leva 18 semanas”, disse Santin. “Houve a confluência de fatores importantes: o custo de produção, o período da Quaresma e o calor”, acrescentou.
A expectativa, de acordo com o presidente da ABPA, é de uma acomodação dos preços do ovo depois da Páscoa. Santin diz esperar que a entrada da nova safra de milho, com boa expectativa de produção, a tendência é de redução de custos para o avicultor (Globo Rural, 26/3/25)