10/09/2018

Brasil e China expõem dificuldades e caminhos nas relações comerciais

Li Jinzhang, embaixador da China no Brasil, faz apresentação no seminário Brasil-China, realizado pela Folha em São Paulo

Em seminário feito pela Folha, brasileiros reclamam e chineses acenam para esforço conjunto.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, mostraram nesta quinta-feira (6) como são árduas as negociações comerciais entre dois países.

A China, principal parceira do Brasil na área agropecuária, dificulta a entrada de alguns produtos brasileiros. Em alguns casos, como os da carne de frango e do açúcar, colocam pesadas taxas nas importações, o que está levando o Brasil a entrar na OMC (Organização Mundial de Comércio).

No seminário Brasil-China, realizado pela Folha em São Paulo, Maggi disse que a China não é um país aberto e que ela regula os mercados.

Após a participação no seminário, o ministro brasileiro afirmou à imprensa que existe uma má vontade dos chineses com relação às questões brasileiras.  Segundo ele, ao menor risco, os chineses fecham seus mercados.

“Quando eles querem comprar, compram. Quando a gente quer vender nem sempre é possível.”, disse o ministro. Ele citou o caso da soja, bem aceita, e o das carnes, que encontram dificuldades.

Durante o seminário, o embaixador chinês disse que o país está trabalhando para abrir os mercados, mas é necessário um esforço conjunto para isso.

Se referindo ao açúcar, Li deu os motivos da reação chinesa ao produto brasileiro. São pelo menos 4,7 milhões de produtores de cana no país, que têm uma produtividade bem abaixo da obtida no Brasil. “Eles não conseguem competir,” disse.

Para ele, “a responsabilidade de um governo é proteger os produtores de seu país”. A China não fecha as portas, mas protege o mercado interno, afirmou.

Apesar das reclamações contra a China, Maggi apontou que parte dos empresários brasileiros também adota a mesma postura. Ele citou um exemplo. Há uma negociação para a entrada de pera chinesa no Brasil, em troca de melão e de melancia. Os produtores brasileiros de maçã, porém, se opõem.

Para o ministro, há uma dificuldade muito grande em se fazer acordos. Empresas e produtores precisam se adequar.

Maggi adverte também que os brasileiros precisam entender mais a China. O país asiático não está mais no estágio de há uma década. Agora eles querem produtos de qualidade e, muitas vezes, os empresários brasileiros não percebem isso.

 “O não respeito à qualidade e àquilo que está no contrato faz o Brasil perder preferências no mercado da China”.  Os brasileiros reclamam que o país asiático não abre o mercado, mas é preciso que aqui também se faça a lição de casa, afirma.

A respeito da disputa comercial entre Estados Unidos e China, Maggi diz que “em briga de elefantes, quem perde é a grama, que somos nós”. Li acrescentou que o Brasil também já é elefante.

Nesse imbróglio entre americanos e chineses, a conta pode sobrar para o Brasil. Segundo o ministro, a soja cai em Chicago e sobe no Brasil, devido às compras chinesas. Isso significa menos custos para os produtores de ração e de proteína nos Estados Unidos, mas mais elevação no Brasil. O país perde competitividade.

Os chineses mencionaram durante o seminário da Folha a possibilidade de elevar a compra de produtos de maior valor agregado. O ministro brasileiro disse, na entrevista à imprensa, que poderiam começar por cotas de farelo e de óleo de soja, já solicitadas pelo Brasil (Folha de S.Paulo, 7/9/18)


Brasil precisa ser menos protecionista em agronegócio para ganhar mercados

O Brasil, uma potência agrícola, precisaria ser menos protecionista em agronegócio para ganhar mais mercados para seus produtos agropecuários, afirmou o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, nesta quinta-feira.

“Tenho dito ao setor: se a gente quer vender, a gente precisa querer comprar, o contêiner que leva é o contêiner que traz alguma coisa. Temos de estar abertos a este tipo de situação”, declarou Maggi, após participar do seminário Brasil-China, em São Paulo.

“Se nos julgamos muito competitivos, por que temos medo?”, declarou ele, para emendar: “Tem uma mentalidade nossa de protecionismo, mas a vinda de produtos ajuda o Brasil”.

Ele citou como exemplo o camarão. Segundo o ministro, após uma tentativa de abertura do mercado, produtores foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para vetar a mercadoria importada.

“Depois de muita luta, abrimos o camarão, os produtores foram ao Supremo para não trazer sob risco ambiental...”, disse ele, citando ainda exemplos da banana do Equador e do trigo da Rússia, este último já liberado também para importação, após os russos fazerem exigências relacionadas ao mercado de carnes.

No passado, Maggi se envolveu em um debate com produtores de café, produto que o Brasil lidera na produção e exportação. Cafeicultores se mostraram contrários à autorização do Brasil para compras externas de café verde, em um período de escassez da oferta do grão do tipo robusta.

O ministro afirmou ainda que está discutindo a abertura do mercado de suínos dos Estados Unidos para o país.

“Isso, para o Brasil, traz vantagens, somos grandes produtores, eles têm custos maiores, por que temos medo de venderem para cá?”, afirmou Maggi.

Segundo áudio da entrevista distribuída pela assessoria de imprensa do ministério, Maggi não tocou no assunto do chamado “custo Brasil” enfrentado por empresários brasileiros, diante de um sistema tributário com alta carga que carece de reformas.

“A China, com todas as dificuldades, ela já está maior na venda de produtos de agro do que o Brasil, porque eles compram, processam e vendem, é isso que tem que ser feito.”

Os chineses, maiores compradores globais de soja, possuem taxas para a importação de farelo de soja, por exemplo, com o objetivo de proteger sua indústria.

Enquanto isso, o sistema de cobrança do ICMS favorece a exportação de matérias-primas, como a soja, em vez de produtos de valor agregado.

CONTRA BARREIRAS

O ministro, contudo, criticou os chineses por imporem barreiras ao açúcar e à carne de frango do Brasil, produtos que o país lidera nas exportações. E reiterou que o governo está decidido em seguir adiante com processos na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a China.

Na semana passada, o Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou, em caráter de urgência, pedido do Ministério da Agricultura de abertura de consultas para questionar na OMC salvaguardas chinesas aplicadas à importação de açúcar.

“Estamos decididos a fazer, não só o Ministério da Agricultura, mas os demais ministros, na área de açúcar e carne de frango, que são as duas coisas que mais nos incomodam.”

Ele disse ainda não ter previsão de quando a Rússia voltará a comprar carnes suína e bovina do Brasil, mas ressaltou que uma das demandas russas, de vender trigo aos brasileiros, já foi viabilizada pelo governo.

A Rússia suspendeu as compras de carnes bovina e suína do Brasil no fim de novembro, após supostamente encontrar vestígios do aditivo alimentar ractopamina em alguns lotes importados.

Ainda na área de carnes, Maggi disse que o governo está tomando “todas as providências” para retomar o mercado da União Europeia (UE). “Estamos criando ambiente novo para reapresentar as empresas, estamos caminhando bem”, disse ele, que ressaltou que no que se refere à produção halal, que segue preceitos muçulmanos, as empresas já estão se adaptando para atender à Arábia Saudita.

Questionado sobre a tabela de fretes mínimos rodoviários, que ampliou o custo do agronegócio e outros setores da indústria, Maggi afirmou que, se nada for feito, a área agrícola do país pode ser reduzida no futuro.

“Este ano não deve ter recuo na safra, pois o produtor já se organizou, ficou protegido com aquilo que já tinha comercializado. Se (o tabelamento) permanecer para o ano que vem, não há dúvida” que haverá impacto, concluiu (Reuters, 6/9/18)