Brasil encara subsídios e salvaguardas externas ao açúcar
O agronegócio da cana encara desafios em três frentes externas e uma interna que prejudicam o açúcar e o etanol brasileiros. No front internacional, os costumeiros subsídios aos produtores asiáticos – e sempre em novas edições – e, no interno, a derrama de etanol de milho importado dos Estados Unidos.
Mesmo o Brasil retirando de 5 a 6 milhões de toneladas na safra que se iniciou, levando mais para o etanol a cana, o açúcar no mercado internacional caminha para 12 cents libra-peso, na Bolsa de Nova York (ICE Futures). Parte disso pelo superávit indiano da safra 17/18 (a ser concluída nos próximos meses), turbinado nos últimos dias. O governo vai pagar 55 rúpias – US$ 0,84 – por cada produtor que vender uma tonelada às usinas.
Isso depois de o país liberar as mais de 500 usinas de uma taxa de exportação de 20% e forçado as indústrias jogarem o excedente no mercado internacional. Depois de recuperação nas lavouras, após uma ciclo de baixa pelas adversidades climáticas, o maior consumidor mundial já vai para a segunda safra com excedente e deve produzir 30 milhões de toneladas de açúcar, com de 4 a 5 milhões sendo embarcadas.
O Paquistão vem com crescimento médio de quase 9%, segundo o USDA, com estoques saltando mais de 1 milhão de toneladas de açúcar, para mais de 2 milhões. Apesar de pequeno, mais ainda se comparado com o Brasil, ajuda a manter o estrago nos preços, inflando o excedente mundial. Com uma série de subsídios cruzados – do corte nas tarifas de importação de 40% à ajuda aos produtores com preços mínimos, da retirada do imposto de exportações à cotas -, tem tudo para continuar puxando sua produção.
Na soma com a Tailândia, e suas 12 milhões de toneladas de produção, o que a torna o segundo maior exportador mundial, a Intl Fc Stone e o Rabobank registram, respectivamente, 6,9 milhões de toneladas e 7,6 milhões do tamanho da sobre de açúcar que o mundo deverá ter.
Diga-se, ainda, de passagem, que a Tailândia também está na mira do governo brasileiro e da Unica, que agrega as indústrias nacionais, porque ela havia prometido em retirar subsídios, evitando que o Brasil recorresse à Organização Mundial de Comércio (OMC), mas ainda não o fez, disse Elizabeth Farina, presidente da entidade, ao Notícias Agrícolas no final de fevereiro.
Vale lembrar que o mercado internacional de açúcar ainda se depara com o previsto aumento do açúcar de beterraba sacarina da Europa, cuja produção deve chegar a quase 20 milhões de toneladas, também segundo a FC Stone. A União Europeia desregulamentou a produção, o que liberou a produção. E, como disse Maurício Murici, da Safra & Mercados, é um açúcar que vai tirar pedaços do açúcar brasileiro no Oriente Médio, pelos ganhos logísticos, tornando-o mais barato.
China
A terceira frente externa que tem tomado conta dos negociadores brasileiros do governo e da Única é a China, com as salvaguardas impostas ao açúcar brasileiro em 2017. E pela qual o Brasil pode entrar na OMC.
Nada nada o governo chinês impõe 95% de taxas ao açúcar importado, derrubando as exportações brasileiras para 300 mil toneladas, de 2,5 milhões em 2016.
O então principal destino do adoçante nacional alegou que as salvaguardas eram legais pois combinavam alguns fatores, como prejuízo à indústria local e surto de importação, porém com fragilidades a serem explorados como afirmou diretor executivo da Unica, Eduardo Leão de Sousa.
Etanol americano
E em plena safra iniciada no Centro-Sul, mais alcooleira, o Brasil deve fechar o mês com 220 milhões de litros de etanol de milho dos Estados Unidos. O dobro da comparação anual. Mesmo com a taxa aplicada a total que ultrapassou a cota de 150 milhões por trimestre.
Etanol barato pois barato é o milho americano, com mais de 300 milhões de toneladas por safra, mais que todas a produção brasileira de grãos.
E etanol que a despeito de ir mais para o Nordeste, agora que a entressafra começou por lá, também entrou na mistura com o etanol de cana no Centro-Sul em 2017. Ou seja, com a safra em andamento, tendendo a pressionar os preços pela maior oferta, vem mais etanol concorrer com o daqui.
E como já disse Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar Pernanmbuco, ao Notícias Agrícolas, “é uma falácia a necessidade regular a oferta no Nordeste, pois além de não baratear na bomba, temos também o etanol do Centro-Oeste para nos servir”.
Além disso, essa liberação, proporcionalmente maior às cotas que os Estados Unidos estabelecem para o açúcar brasileiro, tira o poder de estimular a maior produção nordestina (Notícias Agrícolas, 9/4/18)