19/06/2024

Brasil está entre países mais bem posicionados para transição energética

Brasil está entre países mais bem posicionados para transição energética

Usina Fotovoltaica Flutuante (UFF) na represa Billings, em São Paulo; planta flutuante de energia solar conta com 10,5 mil paineis fotovoltaicos. Foto Divulgação

Por João Pedro Capobianco

 

Segundo estudo do Fórum Econômico Mundial, no entanto, ritmo global tem desacelerado.

 

O Brasil está entre os países mais bem posicionados para fazer a transição energética, à frente mesmo de nações desenvolvidas, de acordo com relatório do Fórum Econômico Mundial publicado nesta quarta (19).

Na 12ª posição, o país está à frente do Reino Unido (13º), da China (17º) e dos Estados Unidos (19º) —os dois últimos, os maiores poluentes do mundo.

O uso amplo de energia hidrelétrica e de biocombustíveis contribui para o bom desempenho do Brasil no ranking, mas contribuem também para o ranking avanços institucionais.

O Índice de Transição Energética (ETI) avalia 120 países, atribuindo-lhes pontos em 46 indicadores que resultam em uma nota final medida de zero a 100.

A média global foi de 56,5 pontos, e o Brasil registrou pontuação de 65,7 em 2024. A Suécia, que aparece em primeiro lugar no ranking, marcou 78,4.

Os quesitos avaliados se subdividem em duas categorias: "performance do sistema", que considera os fatores sustentabilidade, segurança energética e equidade, e "prontidão para a transição energética", que leva em conta o cenário político-econômico, o nível de educação e capital humano, a infraestrutura e a inovação.

Apenas seis países do G20 —grupo das maiores economias globais— estão entre os 20 melhores desempenhos no ETI 2024: França (5º), Alemanha (11º), Brasil (12º), Reino Unido (13º), China (17º) e Estados Unidos (19º). O topo da lista é ocupado, respectivamente, por Suécia, Dinamarca, Finlândia e Suíça.

"Conhecido mundialmente por ter uma das matrizes mais limpas, o Brasil viu uma expansão continuada na sua indústria de renováveis", diz trecho do relatório. "O comprometimento de longo prazo do Brasil com a energia hidrelétrica e com os biocombustíveis, combinado com avanços recentes na energia solar, colocaram o país no caminho para se tornar um líder".

O documento menciona a participação brasileira, anunciada em julho de 2023, na Iniciativa de Descarbonização Industrial Profunda, um esforço global em setores da indústria pesada (cimento, aço, alumínio e petroquímicos). Segundo o relatório, a presença do Brasil na iniciativa permite que o país, ao abordar os desafios da indústria, busque sustentabilidade e justiça social.

A presidente executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias), Elbia Gannoum, vê com cautela a trajetória brasileira. Ela diz que, nos últimos 18 meses, o Brasil tem posicionado de forma adequada, mas com alguma demora para tirar discussões do papel.

"Nós enxergamos na transição energética uma grande oportunidade para a economia brasileira. O Brasil tem, sim, o potencial de ser protagonista, mas vamos ter que transformar essa potencialidade em realidade", diz.

Dados da Agência Internacional de Energia (AIE) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentados no Balanço Energético Nacional 2024 demonstram que 49,1% da matriz energética brasileira é, hoje, composta por energias renováveis. A média mundial fica em 14,7% e, entre os países da OCDE, em 12,6%.

A China, país mais poluente, se destaca pelo uso em larga escala de energia solar fotovoltaica. Em 2023, a nação asiática produziu a mesma quantidade de energia solar que todo o planeta havia produzido no ano anterior.

Na América do Sul, o Chile (20º no ranking 2024) também se destacou por avanços na transição. Com 35% de sua matriz representada por energia solar e eólica, o país tem avançado, em especial, no setor de infraestrutura. "Notadamente, Brasil e Chile emergem com bons desempenhos em 2024, entre os 20 melhores países e ao lado de economias avançadas na Europa", diz o documento.

 

RITMO DA TRANSIÇÃO ENTRA EM QUEDA NO MUNDO

Na última década, 107 dos 120 países avaliados apresentaram algum progresso em transição energética, sendo que 30 deles aumentaram suas notas no índice em mais de 10%. Mesmo assim, segundo o Fórum Econômico Mundial, há uma diminuição no ritmo geral da transição.

No último ano, 83% dos países regrediram em ao menos uma das três principais dimensões avaliadas: sustentabilidade, segurança energética e equidade. No período 2021-2024, a melhoria nas notas do ETI foi quatro vezes menor do que a observada entre 2018 e 2021.

Parte da diminuição no ritmo da transição energética pode ser explicada pela elevação nos preços de energia, pressionados, entre outros motivos, pelo aumento de tensões geopolíticas.

"O índice deste ano deixa uma mensagem clara: é necessária uma ação urgente. Tomadores de decisão precisam fazer movimentos audaciosos", afirma Espen Mehlum, chefe de transição energética inteligente e aceleração regional do Fórum Econômico Mundial.

Nos últimos três anos, países como Reino Unido, Itália, Turquia, Angola e Kuait tiveram reveses em suas trajetórias rumo à transição energética. No caso britânico, o desempenho fraco é explicado por crises no setor de energia e pelo aprofundamento da dependência do gás natural, fenômeno também observado na Itália.

A Turquia, por sua vez, teve um desempenho ruim na categoria equidade, influenciado pela alta nos preços de eletricidade e gás. O Kuwait, entre os 20 últimos no ranking 2024, permanece como uma das economias mais intensivas em carbono, e o baixo desempenho angolano foi puxado por uma redução dos investimentos em energias renováveis.

O relatório destaca uma mudança no "centro de gravidade" da transição a nível global, com os países em desenvolvimento diminuindo a diferença em relação a países desenvolvidos. Indica, também, a necessidade de as economias mais avançadas facilitarem a transição em nações em desenvolvimento, respeitando soluções locais desenhadas para problemas específicos de cada país.

As últimas posições do ranking ETI 2024 são ocupadas por República Democrática do Congo (120º), Iêmen (119º), Tanzânia (118º), Moçambique (117º) e Mongólia (116º). O relatório destaca, porém, que alguns dos países com as menores notas têm conseguido diversificar suas matrizes, o que impacta as principais dimensões avaliadas.

15 MELHORES DESEMPENHOS

1º - Suécia (78,4)
2º - Dinamarca (75,2)
3º - Finlândia (74,5)
4º - Suíça (73,4)
5º - França (71,1)
6º - Noruega (69,9)
7º - Islândia (68,0)
8º - Áustria (67,9)
9º - Estônia (67,8)
10º - Holanda (66,7)
11º - Alemanha (66,5)
12º - Brasil (65,7)
13º - Reino Unido (65,6)
14º - Portugal (65,4)
15º - Letônia (65,2)

15 PIORES DESEMPENHOS

106º - Honduras (48,3)
107º - Moldova (48,1)
108º - Nigéria (46,9)
109º - Bangladesh (46,8)
110º - Jamaica (46,6)
111º - Senegal (46,6)
112º - Zimbábue (46,3)
113º - Paquistão (46,2)
114º - Nicarágua (46,0)
115º - Botsuana (45,6)
116º - Mongólia (45,4)
117º - Moçambique (45,3)
118º - Tanzânia (44,3)
119º - Iêmen (43,8)
120º - República Democrática do Congo (42,0) (Folha, 19/6/24)