Brasil já era líder mundial na produção de soja e não sabia
Revisão de dados pela Conab mostra que brasileiros superaram americanos já na safra 2017/18.
O Brasil já era líder mundial na produção de soja em 2018, e não sabia. Há três anos, ninguém entendeu como o país conseguiu exportar 84 milhões de toneladas da oleaginosa.
Os números de produção, de estoque e de consumo interno não permitiam se chegar a um volume tão elevado de vendas externas.
A pergunta era: de onde saiu tanta soja? A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) deu a resposta nesta terça-feira (26).
Colocados em xeque pelo mercado, os dados brasileiros de produção dos anos recentes foram revisados, e o órgão governamental constatou que, apenas nas últimas três safras, a produção de soja foi 12,4 milhões de toneladas acima do que tinha sido apurado antes. Consideradas as sete safras mais recentes, o aumento foi de 14,4 milhões.
Sergio de Zen, diretor-executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, diz que os levantamentos de produção foram se perdendo ao longo do tempo e houve a necessidade de um ajuste.
Guilherme Soria Bastos Filho, diretor-presidente da Conab, destacou que dados e inteligência agropecuária são importantes para a condução do setor de forma estratégica e essencial. Toda a sociedade se beneficia.
O principal problema estava na apuração da produtividade. Os novos números da Conab indicam que ela foi, na verdade, 3,6% superior ao que se estimou nas três safras mais recentes. Nas anteriores, o desvio foi menor.
A Conab está incorporando novos métodos de levantamento de safra, inclusive com viagens a campo a serem feitas pela equipe de pesquisa.
Dentro desses novos critérios, a entidade governamental está revisando a safra atual de grãos para 257 milhões de toneladas. Para 2020/21, a produção deverá atingir 279 milhões.
Os grandes saltos no próximo ano serão de soja, milho e arroz, itens que somam 93% da produção nacional de grãos.
Os 37,9 milhões de hectares que serão destinados à cultura da soja deverão render 133,5 milhões de toneladas em 2021. Esse aumento de área em 2,8% será sustentado pelo crescimento das demandas interna e externa.
Manutenção de bons preços e boa rentabilidade também incentivam o produtor a aumentar a área de cultivo.
Com demanda externa e câmbio favoráveis, as exportações brasileiras deverão subir para 87 milhões de toneladas no próximo ano. Neste ano, ficam em 82 milhões.
O milho também registrará boa evolução em 2020. A safra deverá atingir 113 milhões de toneladas, 12% mais do que a deste ano.
Preços bons, embalados pela produção de proteínas e pela demanda externa, vão incentivar o produtor a aumentar a área semeada com milho para 19,8 milhões de hectares, 7% mais do que na atual.
O consumo interno do cereal será de 72 milhões de toneladas no próximo ano, 5% mais. Já as exportações deverão atingir 39 milhões, 13% mais do que as atuais, mas inferiores às do ano passado.
Impulsionados pelos preços recordes, os produtores de arroz também vão elevar a área de plantio de arroz. A Conab estima uma evolução de 12%, o que poderá gerar uma produção de 12 milhões de toneladas.
A produção total de feijão —são três safras no ano— poderá atingir 3,18 milhões de toneladas em 2020/21, com crescimento de 5,4%. A área fica estável, em 2,9 milhões de hectares, mas a produtividade sobe 5,5%, segundo estimativas da Conab.
Assim como fez com a soja, o órgão governamental vai revisar as produções de milho, café, algodão, arroz, trigo e feijão.
O bom desempenho da agropecuária tem permitido ao setor, apesar da crise do coronavírus, manter um ritmo positivo. Neste ano, o PIB do setor deverá aumentar 1,5%. No ano que vem, 3,2%.
As estimativas são do Ipea, que vê melhor desempenho das lavouras neste ano: alta de 3,6%, Em 2021, a pecuária, que terá evolução de 5%, superará os 3,2% das lavouras (Folha de S.Paulo, 26/8/20)