Brasil manterá postura combativa durante discussões da COP26, diz Mourão
MOURAO E BOLSONARO Foto Brasil 247 REUTERS Ueslei Marcelino REUTERS Ricardo Moraes
País renovará seu pedido as demais nações para que paguem pela preservação da Amazônia.
O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) manterá a postura combativa durante a conferência sobre o clima COP26, na qual renovará seu pedido aos demais países para que paguem o Brasil pela preservação da Amazônia, disse o vice-presidente, Hamilton Mourão, nesta segunda-feira (25).
O Brasil defenderá o que considera um interesse nacional-chave com as "armas da diplomacia" na reunião que começa no próximo domingo (31) em Glasgow, no Reino Unido, declarou Mourão, que também chefia o Conselho da Amazônia, órgão responsável pelas políticas de combate ao desmatamento no bioma.
Na última Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a COP25, em 2019, o Brasil foi um dos responsáveis por bloquear as negociações climáticas. A expectativa é que elas sejam enfim concluídas agora, durante o evento no Reino Unido —o encontro deveria ter acontecido no ano passado, mas acabou adiado devido à pandemia de Covid.
Na edição de dois anos atrás, a delegação brasileira, sob a figura do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, já defendia publicamente a ideia de pedir dinheiro para manter a floresta em pé.
Poucos meses antes, porém, o governo Bolsonaro tinha paralisado o bilionário Fundo Amazônia, que dava dinheiro para projetos de conservação da floresta, por afirmações de Salles de que havia irregularidades em contratos do fundo —o qual era alvo de auditorias internacionais anuais. Além disso, um decreto de Bolsonaro extinguiu os comitês gestores do fundo.
"Praticamente 50% do país é o bioma amazônico. Se temos que manter 80% desse bioma intacto, não só pela nossa legislação, mas também para cooperar com o restante do mundo, impedindo essa mudança drástica no clima, são dez Alemanhas que temos que preservar", afirmou o vice-presidente, durante entrevista a correspondentes estrangeiros nesta segunda (25).
"Acho que deve haver uma negociação no sentido de o país ser compensado por realizar esse trabalho em prol do restante da humanidade", completou Mourão.
Desde que assumiu o poder, em 2019, Bolsonaro enfrenta críticas internacionais pelo aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, bem como pela falta de liderança do seu governo nas discussões sobre o clima.
O atual presidente brasileiro exige insistentemente que os demais países paguem para o país proteger o trecho da floresta amazônica que está dentro de suas fronteiras. O desmate na região é o principal responsável pelas emissões de gases do efeito estufa do Brasil.
Às vésperas do início da COP26, o governo brasileiro lançou nesta segunda um programa de "crescimento verde" para fomentar "iniciativas sustentáveis", embora não tenha detalhado ações ou investimentos concretos.
Seu objetivo é "a redução de emissões de carbono, a conservação florestal e o uso nacional de recursos naturais com a geração de emprego verde", afirmou o atual ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, durante cerimônia em Brasília.
"Somos uma potência verde e agora vamos levar para fora o Programa de Crescimento Verde. Não é possível que o Brasil seja tratado como vilão da poluição internacional. Quando pegamos os fluxos de poluição, o Brasil tem 1,7%, a Europa tem 15%, os Estados Unidos têm 15%, a China tem 30%. Como pode o país que menos polui, ser o mais agredido internacionalmente? Evidentemente há interesses políticos e comerciais por trás", disse o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O Brasil se comprometeu, mas ainda não oficializou, a meta de alcançar em 2050 a neutralidade de carbono, ou seja, o equilíbrio entre o que se emite o que se absorve. O país também prometeu acabar com o desmatamento ilegal até 2030.
Mourão disse nesta segunda-feira que o Brasil vai anunciar em Glasgow a antecipação em dois ou três anos do compromisso de erradicar o desmatamento ilegal e também atribuiu as críticas a divergências políticas.
O vice-presidente sustentou que o Brasil, o maior exportador mundial de carne —parte considerável dela criada na região amazônica— tem que defender o direito de desenvolver sua economia.
Mourão lançou dúvidas sobre qual será a posição do país em relação aos critérios da regulação do mercado de carbono, a partir do amplamente falado artigo 6, um tema-chave da COP26 que travou as negociações da última conferência. Esse artigo trata da criação de um mercado internacional de carbono para incentivar ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
"Não compete a mim desvendar todas as nuances dessa estratégia", disse Mourão, que não viajará para Glasgow.
A COP26 será realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro e é considerada como uma das reuniões de cúpula sobre o clima mais relevantes desde as discussões do Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu metas ambiciosas de combate às mudanças climáticas (AFP, 27/12/21)