07/04/2022

Brasil pede licença aos EUA para comprar fertilizante de país sancionado

Legenda: O chanceler Carlos França e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em sessão no Senado nesta quinta - Roque de Sá - 24.mar.22/Agência Senado

 Carlos França e Tereza Cristina Foto  Roque de Sá - 24.mar.22 Agência Senado

 

Objetivo é comprar fertilizantes russos, segundo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França.

ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, pediu ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, uma licença especial para que o Brasil compre fertilizantes de países que estão sob sanções em decorrência da guerra na Ucrânia, inclusive da Rússia.

A declaração foi dada em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores no Senado nesta quarta-feira (6).

Em diversas ocasiões nas últimas semanas, o Ministério da Agricultura destacou que o Brasil tem estoque suficiente de fertilizantes para chegar à próxima safra, que começa a ser plantada em outubro. É a partir daí que a limitação à importação preocupa.

Quarto maior mercado consumidor de fertilizantes, o Brasil importa cerca de 85% do que usa —a Rússia é origem de 23% desse estoque. Com grande percentual de fertilizantes importados vindo justamente do Leste Europeu, o conflito na Ucrânia colocou o agronegócio em alerta devido ao risco de falta do produto.

França esclareceu que o diálogo com os Estados Unidos ocorreu para que as empresas brasileiras consigam negociar com países que estejam sob sanção e tenham a garantia de que não irão sofrer penalidades caso isso ocorra. Ele citou como exemplo o Irã e a Rússia.

"Pedi uma garantia de que a empresa possa fazer negócio com a empresa iraniana e não vai ser sancionada depois. O negócio com o Irã normalmente é mínimo em relação a essas empresas. Elas querem todas é poder fazer negócio com a Europa e com os Estados Unidos", declarou.

Ele disse que o governo americano prometeu achar uma solução. Acrescentou ainda que não desistiu de negociar com a Rússia.

"E nós não desistimos também da Rússia. A Rússia é um produtor que temos contrato e o que estamos tentando fazer agora é vencer as dificuldades logísticas e garantir também ao importador brasileiro de que nós não teremos problema, eles não terão problema em negociar com a Rússia apesar das sanções", disse França.

O embaixador da Rússia no Brasil, Alexei Kazimirovitch Labetski, já havia dito um dia antes que Moscou trabalha para manter a exportação de fertilizantes ao Brasil, em meio a restrições ao comércio ligadas à imposição de sanções contra o país devido à guerra na Ucrânia.

 "Confirmamos a nossa vontade de continuar fornecendo os fertilizantes de todos os grupos para a República Federativa do Brasil", afirmou.

"Na situação atual, em que foram empreendidas as sanções ilegítimas contra nosso país, estamos abertos para trabalhar e criar os novos procedimentos necessários para a logística, que é muito importante, e para o pagamento dos produtos, dos fertilizantes e dos produtos agrícolas brasileiros fornecidos para a Rússia."

França disse que o Brasil também conversa com outros países, como o Canadá, Arábia Saudita e Nigéria. Ele acrescentou que o trabalho para que país consiga resolver a situação do fertilizante tem sido feito com a ajuda de diversos ministérios do governo federal (Folha de S.Paulo, 7/4/22)