Brasil pode enfrentar aperto na oferta de fertilizante por crise na Ucrânia
FERTILIZANTES Foto David Stobbe Reuters
Preços do insumo, que já estavam subindo por causa de problemas de logística global, agora tendem a um cenário ainda mais turvo.
As exportações agrícolas brasileiras podem perder sua vantagem competitiva devido ao aumento dos preços dos fertilizantes e à escassez de suprimentos, se a invasão russa na Ucrânia desencadear sanções ocidentais aos fornecedores do país, segundo analistas.
O Brasil depende de importações para cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes. A Rússia é seu maior fornecedor de matérias-primas para adubos.
Mesmo antes do conflito na Ucrânia, os preços dos fertilizantes estavam subindo devido a problemas de logística global, sanções dos EUA à Belarus e ausência da China do mercado desde outubro.
A crise na Ucrânia significa que os produtores brasileiros de soja e outras commodities agrícolas estão potencialmente prestes a enfrentar um momento difícil. “É a tempestade perfeita”, disse Jeferson Souza, analista da Agrinvest Commodities. “Dentre os grandes produtores de soja, o Brasil é o que tem mais a perder”, disse ele, acrescentando que concorrentes como Estados Unidos e Argentina não usam tanto fertilizante de potássio quanto o Brasil.
A situação levanta dúvidas sobre se o Brasil pode expandir sua área plantada com soja para a safra 2022/2023, pois os custos podem se tornar proibitivos, disse Souza.
A Anda, uma associação que representa empresas de fertilizantes no Brasil, não fez comentários imediatos sobre as preocupações após a invasão da Ucrânia. Em entrevista recente à Reuters, um executivo da entidade havia dito que a geopolítica moldaria o mercado neste ano.
O Brasil comprou cerca de 40 milhões de toneladas de produtos fertilizantes em 2021, um recorde, com a Rússia respondendo por cerca de 9 milhões de toneladas de importações, segundo dados compilados pela Agrinvest.
Há uma real possibilidade do Brasil enfrentar uma “crise de suprimento de potássio” no curto prazo, disse Marcelo Mello, chefe da mesa de fertilizantes da StoneX, referindo-se à commodity que mais preocupa os agricultores. Ele disse que sanções simultâneas à Rússia e à Belarus deixariam os agricultores sem fertilizante suficiente.
“Esse impacto já poderá ser sentido imediatamente, uma vez que o fornecimento de fertilizantes já vinha sendo prejudicado pela baixa disponibilidade de transporte marítimo”, disse o advogado do agronegócio Frederico Favacho.
Favacho observou que outras áreas do comércio também serão afetadas por uma escalada do conflito na Ucrânia, já que a Rússia é um grande comprador de carnes brasileiras. Possíveis sanções financeiras contra a Rússia também prejudicariam esse comércio, ele disse (Reuters, 24/2/22)