Brasil precisa acelerar regionalização das importações de frango

Cova aberta em granja em Montenegro (RS) onde foi verificado caso de gripe aviária. Foto Diego Vara Reuters
Principais clientes deixam de comprar 149 mil toneladas com suspensão total do país.
A gripe aviária chegou, e o surgimento do primeiro caso em granja comercial força o país a buscar novos protocolos de negociações com os parceiros comerciais. O país se tornou gigante na oferta de proteínas, mas a relação comercial com o exterior ainda necessita de mudanças. China, União Europeia, México, Chile, África do Sul e Coreia do Sul vão deixar de importar 149 mil toneladas de carne de frango por mês, enquanto o país não voltar a ficar livre da doença.
Esses cinco países e a União Europeia, que deixam de importar do país como um todo, compraram apenas 10,7 mil toneladas do Rio Grande do Sul em abril. China e Chile, aliás, já estavam ausentes do mercado gaúcho. Com dimensões continentais, o Brasil precisa acelerar o processo de regionalização na comercialização com os demais parceiros. Os países citados, e outros que provavelmente virão, deixarão de comprar carne de frango de Mato Grosso devido a um problema ocorrido no Rio Grande do Sul, a mais de 2.000 km.
O processo de regionalização está sendo negociado com os importadores, mas deve ser implementado com urgência, principalmente com os grandes parceiros. Na recente viagem do governo ao Japão, o país conseguiu aprovar essa regionalização. Caso contrário, esse país asiático, o terceiro maior importador brasileiro de carne de frango, também estaria na lista dos que suspenderam as importações de todo o país.
Em conversa com a coluna, Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, diz que essas negociações realmente têm de avançar. Já ocorreram com o Reino Unido e com o Japão e avançarão com outros parceiros. "É um protocolo, e, para alterá-lo, precisamos de garantia de eficiência e boa diplomacia." Na avaliação do ministro, se o país sair bem desse episódio, o que ele acredita que deverá ocorrer em 28 dias, terá credenciais para negociar a regionalização.
Segundo dados da Omsa (Organização Mundial de Saúde Animal), o cenário mundial, no entanto, tem mostrado que o combate à gripe aviária tem sido muito difícil. O relatório de abril da entidade indicou que, de outubro de 2023 a setembro de 2024, ano sazonal adotado pela organização, 40 países indicaram nova presença do vírus. De outubro de 2024 a abril último, em apenas sete meses, já são 43 países.
Entraram nessa lista Dinamarca, Hungria, Coreia do Sul, Polônia, Turquia, Reino Unido, Vietnã e Estados Unidos. Pelo menos 3,8 milhões de aves morreram no mês passado pela doença ou foram sacrificadas por pertencer a granjas infectadas.
Enquanto não houver um sistema eficiente de combate ao vírus H5N1, que provoca a gripe aviária, o mundo vai ter de conviver cada vez mais com a doença. De 2005 a 2024, foram abatidos 633 milhões de aves no mundo.
O primeiro caso de gripe aviária em estabelecimento comercial no Brasil vai dificultar as exportações, mas a interrupção deverá ser restrita ao longo dos meses, se o problema persistir. Muitos países que estão deixando de importar já convivem com a doença, e o Brasil é o principal fornecedor mundial. Sem ele, a demanda não seria suprida, e os preços subiriam muito.
Os Estados Unidos, mesmo com a presença do vírus em todos os seus estados, exportaram 3,5 milhões de toneladas no ano passado, apenas 500 mil a menos do que em 2022, ano do retorno da doença ao país (Folha, 20/5/25)