Brasil tem uma oportunidade única para integrar o agro ao setor de energia
PAINEIS ENERGIA - Foto Tiago Queiroz Estadão
Focar na segurança energética e alimentar, e fazer um planejamento que olhe todos os atributos de cada fonte de energia, é cada vez mais fundamental para enfrentarmos as crises sanitárias, geopolíticas e econômicas.
Por Adriano Pires
Focar na segurança energética e alimentar é cada vez mais fundamental para enfrentarmos as crises sanitárias, geopolíticas e econômicas.
Todos os países que se apressaram a fazer a transição energética, aumentando de forma açodada a participação das fontes renováveis intermitentes, hoje convivem com as mais altas contas de eletricidade do planeta. Além de ficarem reféns do clima em tempos de mudanças climáticas.
Sem preocupação com a segurança energética, descarbonizar e eletrificar o mundo ficará cada vez mais caro, e os principais prejudicados serão os países menos desenvolvidos. A segurança energética, o acesso à energia e a acessibilidade energética do ponto de vista da população mais carente precisam caminhar juntos. Caso contrário, negaremos aos países mais pobres as oportunidades de alcançar o desenvolvimento socioeconômico básico.
E o que a segurança energética tem a ver com a segurança alimentar? Hoje, para produzir alimentos, três coisas são essenciais: água (irrigação), energia (pivôs centrais e máquinas agrícolas) e fertilizantes (que precisam de fontes despacháveis de energia – gás natural – para serem produzidos). Se tivermos um regime hidrológico ruim, iremos comprometer o nível e a recuperação dos reservatórios (incluindo os subterrâneos, os aquíferos). Isso tornará o preço da energia mais alto, acarretando o que chamamos de inflação energética.
E mais ainda, se não tivermos fontes despacháveis como o gás natural para garantir a segurança do suprimento, esse preço torna mais cara a produção de fertilizantes e, consequentemente, a produção de alimentos. Com inflação de eletricidade e combustíveis – que representam parcela significativa da renda – e a consequente inflação na produção de alimentos, provocamos queda no crescimento econômico que leva a um efeito ruim no bem-estar social.
Isso tem levado a protestos. A Europa vive desde o fim do ano passado uma crise que há muito tempo o Velho Continente não passava, com os produtores rurais fazendo grandes manifestações. Um dos pontos de maior insatisfação é a política ambiental que demonizou os combustíveis fósseis, fazendo com que o preço da energia seja o mais caro do mundo.
Portanto, focar na segurança energética e alimentar e fazer um planejamento que olhe todos os atributos de cada fonte de energia, e não só o preço, é cada vez mais fundamental para enfrentarmos as crises sanitárias, geopolíticas e econômicas.
Nesse cenário de garantir a segurança energética e alimentar, o Brasil possui uma grande vantagem comparativa, já que somos um dos principais produtores de alimentos e proteínas do mundo e ao mesmo tempo temos uma grande diversidade de oferta de energia limpa. Sem falar que somos uma espécie de Arábia Saudita da água. Portanto, não podemos deixar escapar a oportunidade de construir políticas que aproximem o setor do agronegócio do da energia. Esse é um desafio no contexto da transição energética (Estadão, 30/3/24)