24/04/2025

Brasil vai carregar desafio de abastecer mundo com café, aponta Troyjo

Brasil vai carregar desafio de abastecer mundo com café, aponta Troyjo

Encontro Nacional da Indústria do Café (Encafé) começou nesta quarta-feira (23-4) em Campinas (SP). Foto Isadora Camargo Globo Rural

Colheita cafeeira do país deve cair 6,4% nesta safra, afirma Rabobank.

O Brasil pode ser a grande potência do café nos próximos 25 anos, diante da pressão das quebras de safras globais, redução de estoques do grão no mundo e volatilidade nos preços da commodity, que vem atingindo recordes históricos desde o final de 2024. A projeção é do economista Marcos Troyjo, que abriu a 30ª edição do Encontro Nacional da Indústria do Café (Encafé), que começou nesta quarta-feira (23/4) em Campinas (SP).

Ele também reforçou que a "trumpulência", conceito do momento para classificar as recentes decisões comerciais do governo Donald Trump, é capaz de modificar as relações de negócios globais do café. "A geopolítica voltou ao centro das atenções e a trumpulência se tornou um conceito que inclui as disputas dos Estados Unidos em relação ao comércio global, implementando uma política que não tem exceção e gera combate para todos os países parceiros, gerando atritos e turbulência", explicou.

Outra tendência global que deve mexer com o mercado do café, segundo Troyjo, é o crescimento populacional de nove países asiáticos e africanos até 2050, entre eles a Índia, Paquistão e Nigéria, qualificando novos bebedores de café.

Para ele, o Brasil é a nação capaz de suportar essas demandas, porque possui vantagem competitiva na produção de alimentos, inclusive do café, apesar de alterações climáticas.

O desafio, por outro lado, vai ser agregar valor e manter café de qualidade para o mercado doméstico. Ainda assim, o economista acredita que o consumo de café está se multiplicando em número e escala, oportunidade para o Brasil que se fortalece neste ano com turbulências geopolíticas, em especial com a recente postura dos Estados Unidos sobre as tarifas recíprocas entre países, pesando mais sobre a China. Se o vaivém comercial de Washington continuar, há mais oportunidade internacional no Brasil, acrescenta Troyjo, mesmo sendo perigoso para outros países, como é o caso da China e do Canadá.

De acordo com o economista, o Brasil tem a principal vantagem competitiva do cenário atual: ser grande produtor e exportador de alimentos, além de ter encaminhado uma desburocratização tributária que pode favorecer a ampliação de parcerias com outros países, sem depender dos Estados Unidos.

"O Brasil é o maior país ter superávit comercial com a China, ao mesmo tempo que está entre as 12 nações que pode ter déficit comercial com os EUA", destacou Troyjo.

Projeção de safra do café

Consumo de café está se multiplicando em número e escala, gerando oportunidades para o Brasil.Foto Tony Oliveira CNA

Enquanto isso, o banco holandês Rabobank revisou para baixo a safra de 2025/26 do café no Brasil, para 62,8 milhões de sacas. O volume representa uma queda de 6,4% em relação ao ciclo anterior. As estimativas são baseadas em uma ronda pelas lavouras cafeeiras em fevereiro e março deste ano, resultando no balanço de abril, divulgado ontem pela instituição.

Para o café arábica, a redução esperada é de 13,6%, enquanto o robusta deve atingir um recorde de 24,7 milhões de sacas, crescendo 7,3%.

"O clima seco em 2024 afetou significativamente o pegamento da florada e, consequentemente, a produção de café arábica. No entanto, estima-se excelentes produtividades para o café robusta, apesar de uma perspectiva pessimista para o estado de Rondônia", afirmou o banco.

O Rabobank também pontuou a desaceleração nos embarques de café brasileiro. No primeiro trimestre de 2025, as exportações totalizaram 10,7 milhões de sacas, 11% a menos do que no mesmo período de 2024.

Contudo, a instituição afirmou que situação pode melhorar com a entrada da nova safra brasileira de 2025/26 a partir de junho ou julho (Globo Rural, 23/4/25)