Brasil verde, Brasil líder – Por Flavio Zaclis
Fernando Llano/AP/VEJA/VEJA/VEJA/VEJA - Publicado em 14 jul 2022, 10h54
BANDEIRA DO BRASIL FOTO Fernando Llano AP VEJA - Publicado em 14 jul 2022, 10h54
O País pode e deve ir além. Podemos exportar não só grãos e alimentos, como também conhecimento e tecnologia aplicada à agricultura.
Acompanho de perto o ecossistema de inovação no agronegócio brasileiro há mais de 15 anos e vejo com preocupação a disseminação de informações equivocadas sobre a agropecuária nacional, setor fundamental não apenas para o desenvolvimento do País, como para a sustentabilidade do planeta. Além de representar 10% da produção de alimentos de todo o mundo, o Brasil abriga 30% das florestas tropicais e a maior parcela de recursos hídricos do planeta.
Segurança alimentar, descarbonização da economia e sustentabilidade são temas que preocupam o mundo inteiro. Segundo a FAO, a demanda global por alimentos aumentará em 70% até 2050. É preciso produzir mais e de forma mais sustentável. Neste quadro, sustentabilidade e eficiência exigem-se mutuamente. E aqui está a oportunidade para o País. O Brasil tem todas as condições de ser o grande líder desta revolução verde, produzindo mais por hectare com menores taxas de emissão de carbono. Não é ufanismo, não é mera pretensão de grandeza. Esse cenário promissor pode ser comprovado com fatos.
Historicamente, o País tem sido muito competente em inovar no campo. Ao longo das décadas, desenvolveu, por meio de investimento em ciência, um grande conhecimento agrícola, como tropicalização de lavouras, correção de solo, fixação biológica de nitrogênio e plantio direto. Essas novas tecnologias permitiram que o agronegócio brasileiro se tornasse, em comparação com o de outros países, muito mais eficiente e sustentável.
Fator fundamental, o território é também propício para a liderança nesta revolução verde. Hoje, o Brasil tem 66% de seu território coberto por vegetação nativa (primária e secundária), sendo 45% áreas legalmente protegidas. É um porcentual impressionantemente alto em comparação com países mais desenvolvidos. Apenas 8% do território é usado para produção agrícola e 18% para pastagens.
O Brasil produz cerca de metade de toda a soja vendida no mundo, exportando 83% (105 milhões de toneladas) de sua produção. Cerca de 70% da produção de milho e soja é destinada à alimentação animal (bovina, suína e de aves). O Brasil também é um dos maiores exportadores de café, açúcar e suco de laranja.
As pastagens produtivas representam 8% (porcentual similar à área destinada à agricultura). Com o maior rebanho comercial do mundo, o Brasil é o maior exportador de proteína animal, com participação de mercado de 22% de toda a carne comercializada no mundo, vendendo para 120 países.
As áreas de pastagens degradadas (terras improdutivas) representam 10% do território (80 milhões de hectares). Esse alto porcentual revela um dado importante. Essas áreas podem ser transformadas e recuperadas para a agricultura sustentável e atividades de captura de carbono, o que permitiria mais do que dobrar a produção atual na agricultura, sem perda do atual ecossistema ou impacto ambiental negativo. A área é tão grande que existe espaço para ampliar a agricultura e, ao mesmo tempo, reflorestar áreas degradadas.
Assim, além da tecnologia desenvolvida e do competente histórico de produção, o País tem uma das maiores áreas disponíveis para a nova agricultura do mundo. Não é por outra razão que o Brasil é percebido internacionalmente como um dos principais atores do mercado de produção de alimentos – e cada vez mais forte. Internamente, no entanto, temos dificuldade de reconhecer as muitas oportunidades daí decorrentes.
Para a produção mundial de alimentos aumentar de forma sustentável, é preciso desenvolver e implantar uma série de novas tecnologias nessas cadeias. Só assim será possível melhorar a produtividade e a eficiência no uso dos recursos naturais (água, solo, insumos, etc.), além de promover a regeneração de áreas degradadas. Haverá demanda crescente por inovação no campo.
Segundo a FAO, o Brasil responderá por 40% do aumento da produção global, produzindo 24% de todos os grãos até 2026, para se tornar até 2030 o maior produtor mundial de alimentos. É um panorama muito positivo, mas o Brasil pode e deve ir além. Podemos exportar não apenas grãos e alimentos, como também conhecimento e tecnologia aplicada à agricultura. Devemos liderar a produção mundial, mas também temos todas as condições de liderar o desenvolvimento e a adoção dessas novas tecnologias.
Mesmo com todas as dificuldades, já temos uma grande vantagem competitiva. Se enfrentarmos as ineficiências locais e aproveitarmos as oportunidades internacionais (aumento de demanda e de preço), seremos capazes de uma nova era do agronegócio brasileiro, com impacto sobre toda a economia.
É preciso pensar de forma estratégica e realista. O agro brasileiro não é terra de atraso. Já hoje é sinônimo de inovação tecnológica, criação de empregos qualificados e respeito ao meio ambiente. Temos de comunicar, interna e externamente, o que somos e o que podemos ser: referência mundial na produção de alimentos. Alimentar o mundo e liderar o desenvolvimento de tecnologias aplicadas ao agronegócio, credenciando-nos como o país que mais e melhor produz alimentos no planeta (Flavio Zaclis é fundador da Barn Investimentos e formado em Administração de Empresas pela Goizueta Business School em Emory University; O Estado de S.Paulo, 26/8/22)