BRF derruba as ações da Minerva
Em meio a dificuldades financeiras, a BRF está se desfazendo de parte da fatia de 11,6% que detinha na Minerva Foods – terceira maior empresa de carne bovina do país – com um prejuízo contábil que supera 40%. O movimento vem exercendo forte pressão negativa sobre as ações da Minerva.
Conforme apurou o Valor, a BRF começou a vender ações da Minerva na primeira semana de junho. Desde então, as ações da empresa de carne bovina recuaram quase 20% na B3, atingindo o menor patamar em mais de seis anos. O valor de mercado da Minerva atingiu R$ 1,4 bilhão ontem, ante R$ 1,6 bilhão no início deste mês. Nesse mesmo intervalo, o Ibovespa também recuou, mas em um ritmo inferior – 6,9%.
Além disso, o número de ações negociadas da Minerva quase dobrou desde então, passando de uma média de 1,1 milhão de ações por dia nos primeiros cinco meses do ano para mais de 2 milhões por dia em junho. As ações da Minerva, que chegaram a atingir R$ 8,00 no dia 5 de junho, agora são negociadas por menos de R$ 7,00.
Ontem, os papéis da Minerva fecharam a sessão a R$ 6,41 na B3, queda de 1%. O Ibovespa subiu 2,2% no pregão de ontem.
A BRF se tornou acionista da Minerva em 2014, quando vendeu os dois abatedouros de bovinos que tinha em Mato Grosso e, em troca, recebeu 29 milhões de ações da Minerva. Quando a incorporação dos ativos de bovinos foi aprovada, em 1o de outubro daquele ano, a ação da Minerva valia R$ 12,17. Para a BRF, a fatia na Minerva representava cerca de R$ 350 milhões. Isso significa que a BRF chegou a vender os papéis por um valor mais de 40% menor.
“Às vezes, é melhor dar as mãos para não perder os braços”, comentou um analista de um grande banco sobre a decisão da BRF de vender as ações a preços muito baixos. A avaliação desse analista é que, diante dos graves adversidades enfrentadas pela BRF no segundo trimestre (embargo europeu, fechamento temporário de fábricas e paralisação dos caminhoneiros), a venda das ações pode ser uma forma “de fazer caixa em um momento mais urgente”.
Ao Valor, três fontes próximas à BRF sustentaram que a decisão não tem relação com a necessidade de caixa. De acordo com essas fontes, a dona da Sadia e Perdigão tem uma posição de caixa robusta. No fim do primeiro trimestre, a empresa contava com um caixa de R$ 6,5 bilhões, além de uma linha de crédito rotativo de cerca de US$ 1 bilhão. Procurada, a BRF informou que “qualquer movimentação dessa participação será informada ao mercado”.
Além disso, ponderaram algumas das fontes, o total de ações da Minerva que a BRF tinha ao fim do primeiro trimestre representava menos de R$ 200 milhões, montante considerado insuficiente para as necessidades de longo prazo.
A venda das ações da Minerva pela BRF faria parte de uma revisão estratégica. “Os papéis já estavam disponíveis para a venda”, disse uma fonte, argumentando não ter sentido manter ações da empresa em tesouraria. De acordo outra pessoa ouvida pela reportagem, a BRF pretende se desfazer das ações da Minerva pelo menos desde 2017. Em meados do segundo trimestre do ano passado, ainda sob a gestão do então CEO Pedro Faria, BRF vendeu 3 milhões de ações da Minerva, reduzindo sua participação na empresa para 26 milhões de ações.
Um importante acionista da BRF também minimizou a relevância da perda contábil na venda dos papéis. Segundo esse acionista, a Minerva também enfrenta dificuldades e, nesse cenário, é possível que os papéis valham ainda menos.
Por outro lado, também chamou a atenção de observadores o fato de a BRF ter iniciado a venda de ações da Minerva depois de virem à tona notícias sobre a eventual combinação entre as duas companhias. “Vender a participação tira as dúvidas e deixa de perturbar dirigentes, empregados e acionistas da BRF”, avaliou um acionista que se opõe à combinação dos negócios das empresas. Procurada, a BRF reiterou “não ter recebido qualquer proposta da Minerva”. A Minerva não comentou (Assessoria de Comunicação, 20/6/18)