BTG entra na disputa por usinas da Atvos
O BTG Pactual avalia adquirir o controle das usinas sucroalcooleiras da Atvos, que pertencem ao grupo Odebrecht e estão em recuperação judicial desde maio de 2019, apurou o Valor. A divisão do banco de André Esteves que investe em empresas em dificuldades financeiras, conhecida como “special situations”, deu início a conversas com os reestruturadores da Atvos nas últimas semanas para fazer um aporte de cerca de R$ 500 milhões na companhia.
Com dívidas financeiras de cerca de R$ 11 bilhões, a Atvos está em busca de novos investidores para dar continuidade às suas operações. Dona de nove usinas localizadas na região Centro-Sul, a Atvos é uma dos maiores companhias do setor, com moagem de 26 milhões de toneladas de cana - a capacidade total de suas unidades operadoras é de 37 milhões de toneladas -, mas foi abatida pelas dificuldades financeiras do grupo baiano Odebrecht, envolvido na Operação Lava Jato.
A companhia precisa de capital para renovar e expandir sua área agrícola e se manter competitiva no mercado. Nesta safra, a situação do setor piorou com a queda da demanda por etanol por conta da pandemia do coronavírus e afetou particularmente a Atvos, dada sua elevada dependência do mercado de etanol.
No fim do ano passado, a consultoria RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, engatou negociações com o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, para injetar capital na companhia. Os investidores árabes negociaram um aporte de cerca de R$ 800 milhões, mas como não chegaram a um acordo com os principais bancos credores sobre o total de participação que teriam na Atvos, as conversas esfriaram. O entendimento é que poderiam ter cerca de 70% do negócio.
Nesta atual fase, a divisão de negócios do BTG propõe colocar cerca de R$ 500 milhões e trabalha para definir o tamanho de sua fatia na empresa. As conversas ainda são iniciais, segundo fontes. O banco, porém, vem demonstrando interesse por ativos do setor sucroalcooleiro nos últimos meses, segundo uma fonte.
Além das discussões sobre a injeção de capital e compra do controle, pesa nas negociações a disputa societária entre o grupo Odebrecht, hoje controlador de 100% da Atvos, com um dos seus credores, o fundo americano Lone Star, que investe em empresas problemáticas.
Pelo plano de recuperação da Atvos - aprovado pelos credores em maio deste ano e homologado pela Justiça em agosto -, os bancos credores da companhia BNDES, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander podem converter em capital os bônus de subscrição equivalentes a uma parte dos créditos que possuem na Atvos para fazer a transferência de controle da companhia, explicou um executivo da companhia. Esses bancos podem subscrever 90% do capital da empresa - a Odebrecht, os 10% restantes.
Em litígio com a Odebrecht, a Lone Star é considerada uma insegurança jurídica para o futuro comprador. O fundo abutre americano pagou US$ 5 milhões (quase R$ 30 milhões) por ações dadas em garantia pela Odebrecht a bancos pelo gasoduto no Peru e exigiu tomar o controle da Atvos. Esse movimento foi questionado pelo conglomerado baiano e levado à Câmara Arbitral Brasil-Canadá.
De acordo com a defesa da Atvos, a Lone Star representaria uma ameaça concreta se conseguisse derrubar o plano de recuperação da companhia na Justiça e se ganhasse a arbitragem. Neste momento, porém, o plano está em execução, e os bônus de subscrição aos bancos já estão em processo de emissão. Além disso, segundo fontes ligadas à empresa, decisões da Justiça contra a Lone Star estão diluindo essas ameaças. Ainda que o fundo americano consiga assegurar seu direito à participação na Atvos, ele só conseguiria obter os 10% de participação da Odebrecht, segundo fontes.
Procurados, BTG Pactual, Atvos, RK Partners, Mubadala e Lone Star não comentam o assunto (Valor Econômico, 14/10/20)