27/05/2025

Café de Rondônia capta 2,3 vezes mais carbono do que emite

Café de Rondônia capta 2,3 vezes mais carbono do que emite

Café de Rondônia Foto Seagri Divulgação

 

Estudo da Embrapa com robusta indica que a maior emissão vem dos nitrogenados.

 

cafeicultura é importante meio de subsistência para um grande número de produtores, e boa parte da atividade é exercida por pequenos. O setor passa por um período de forte influência climática e por ameaças comerciais, como a nova lei da União Europeia, que não permitirá a importação de café de áreas com a derrubada de florestas.

 

Diante desses desafios, pesquisadores da Embrapa buscaram avaliar o balanço das emissões de gases de efeito estufa do setor e o sequestro de carbono por meio da fitomassa e do solo. O resultado indicou que o sequestro de carbono é 2,3 vezes maior do que as emissões.

 

A emissão é de 2.991,5 kg CO2 equivalente por hectare por ano nos cafezais amazônicos da espécie robusta. O sequestro na planta é de 6.874,8 kg, com um balanço favorável de 3.883.3 kg, segundo Carlos Cesar Ronquim, pesquisador da Embrapa que esteve à frente do estudo ao lado do bolsista Guilherme Amorim Favero.

 

O trabalho toma como base a produção de robusta em 250 propriedades na região das Matas de Rondônia, a principal produtora de café da amazônia. Eles querem entender como mitigar o efeito das emissões e dar mais resiliência ao setor diante das mudanças climáticas.

 

O equilíbrio entre emissões e sequestro de carbono na cafeicultura depende de vários fatores, como práticas de manejo, tipo de solo, fatores climáticos, densidade de plantio, capacidade das espécies de armazenar carbono e reutilização da biomassa.

 

O estudo apontou que a emissão total de gases de efeito estufa na cafeicultura por área, na fase de produção, vem basicamente da aplicação de calcário (12,3%), fertilizantes nitrogenados (79,7%), fertilizantes orgânicos de palha de café (6,1%), óleo diesel dos tratores (0,5%), gasolina nas máquinas roçadeiras (0,9%) e energia elétrica na irrigação (0,4%).

 

Em algumas áreas indígenas, a emissão é muito pequena, mas com boa produtividade. Novos estudos serão necessários para avaliar essas áreas, que podem direcionar a produção para sistemas mais sustentáveis.

 

A produção na região é considerada de baixa emissão de carbono (0,84 kg CO2 equivalente por kg de café verde), principalmente devido à produtividade de 68,5 sacas por hectare, uma das mais elevadas do Brasil. Por ser cultivado em pequenas áreas (média de 3,3 hectares), o manejo do café é manual, com pouca emissão provocada por combustíveis fósseis.

 

A produção na região das Matas de Rondônia é promissora, mas tem desafios. É necessária a seleção de novos clones que visem não só a produtividade mas também resistência à seca, às elevadas temperaturas e à suscetibilidade a pragas e doenças.

 

Ronquim recomenda o uso eficiente de fertilizantes nitrogenados, redução do espaçamento das plantas e transição para a produção agroflorestal. "Talvez passar para um sistema mais sombreado, cultivado com cacau e com açaí. É uma nova fase à qual o produtor tem de se adaptar", afirma.

 

O café de Rondônia, que passou por um ciclo de grande produtividade, agora deve visar mais a sustentabilidade. Esse esforço pode gerar novas receitas vindas da venda de crédito de carbono e facilidades nos financiamentos. O produtor terá uma planilha eletrônica que auditará suas emissões e servirá de base para os financiamentos bancários, diz o pesquisador (Folha, 27/5/25)