11/07/2025

Café e suco de laranja estão entre os mais afetados pelas tarifas de Trump

Café e suco de laranja estão entre os mais afetados pelas tarifas de Trump

CAFÉ E SUCO DE LARANJA IMAGEM FREEPIK

 

Setores foram pegos de surpresa.

 

A imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo Trump terá efeitos deletérios sobre importantes segmentos do agronegócio. Os EUA são os maiores compradores de suco de laranja e de café do Brasil, o segundo maior importador de carne bovina e também um cliente relevante de açúcar.

 

Técnicos do governo que atuam na área de comércio internacional afirmam reservadamente que a taxação “inviabiliza” o embarque dos produtos agropecuários para os EUA. Uma fonte defendeu a negociação diplomática no que for possível, mas salientou que o Brasil não vai se “submeter” aos EUA e que o agronegócio vai se adequar, buscando outros mercados.

 

“Fomos pegos de surpresa [com o anúncio] e ainda vamos analisar os impactos, mas é péssimo para o setor como um todo.

 

Entendemos que essa medida afeta não apenas o Brasil, mas toda a indústria de suco dos Estados Unidos que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como principal fornecedor externo há décadas”, afirmou Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

 

Em abril, quando Trump anunciou uma tarifa adicional de 10%, a CitrusBR já estimava perdas de R$ 1,1 bilhão por ano em exportações. À época, a associação previu custos adicionais de R$ 585 milhões por ano ao considerar a projeção de exportação anualizada de 235,5 mil toneladas aos EUA e o câmbio do momento.

 

Café

 

Os exportadores de café também avaliam que a tarifa de 50% vai onerar toda a cadeia, além do consumidor americano. Com a taxação, a alíquota vai superar os 60%, segundo fontes do mercado. O diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, observou que o Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA, respondendo por cerca de 30% das importações americanas

 

“O Cecafé acompanha com muita atenção as discussões das tarifas dos Estados Unidos. É o país mais importante em termos de consumo de café”, disse. Ele afirmou que a entidade tem buscado construir uma agenda positiva com os EUA, por meio de contatos com parceiros como a National Coffee Association (NCA), que representa o segmento no país.

 

Para cada US$ 1 de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana”, afirma Marcos Matos

 

O Brasil fornece o café em grão e o produto é industrializado nos EUA, gerando resultados relevantes para a economia local. “Para cada US$ 1 de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana. São 2,2 milhões de empregos, cerca de 1,2% do PIB norte-americano. Cerca de 76% dos americanos tomam café”, disse Matos.

 

Carnes

 

Na importação de carne bovina, os EUA estão atrás apenas da China. No primeiro semestre, o país comprou 181,4 mil toneladas de carne brasileira, um negócio de US$ 1,04 bilhão. Com a nova tarifa, o imposto cobrado sobre o produto passará de 80%.

 

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) afirmou que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um “entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina”.

 

A entidade reforçou a importância de que “questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”.

Açúcar

 

No segmento de açúcar, a avaliação é que a tarifa de 50% pode inviabilizar os embarques do produto das usinas do Nordeste e gerar desemprego na cadeia. Atualmente, as empresas têm cota de 150 mil toneladas por safra, que rendem até R$ 600 milhões. Ainda não há clareza no setor produtivo nordestino se a taxação vai afetar as cotas estabelecidas pelos EUA.

 

“Essa tarifa pode inviabilizar essa cota. Temos que fazer as contas, mas é um ataque desestruturador para essas exportações do Nordeste”, afirmou Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio). É um ataque desestruturador para essas exportações do Nordeste”, afirma Renato Cunha

 

Resposta firme

 

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) reagiu com preocupação à decisão de Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A bancada ruralista pediu que a diplomacia brasileira dê uma “resposta firme”.

 

“A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras. Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”, diz o texto.

 

A bancada do agronegócio foi atuante para a aprovação da Lei da Reciprocidade, que estabelece medidas de reação a políticas tarifárias de outros países.

 

Relatora do projeto no Senado, a líder do PP na Casa e vice-presidente da FPA, Tereza Cristina (PP-MS), pregou cautela e destacou que ambos os países têm mecanismos legais para negociar. “As nossas instituições precisam ter calma e equilíbrio nesta hora. A nossa diplomacia deve cuidar dos altos interesses do Estado brasileiro. Brasil e Estados Unidos têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados. Ambos têm instrumentos legais para colocar à mesa de negociação nos próximos 22 dias”, pontuou Tereza.

 

A parlamentar foi ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro. O ex-presidente é citado na carta de Trump como um perseguido político do Supremo Tribunal Federal e é apontado como um dos motivos para o aumento tarifário (Globo Rural, 10/7/25)