30/09/2024

Café ficará pior e mais caro devido à mudança climática, diz especialista

Café ficará pior e mais caro devido à mudança climática, diz especialista

Barista Tim Wendelboe prepara café em sua cafeteria, em Oslo - Klaudia Koldras Divulgação

 

Por David Lucena

 

 

Norueguês Tim Wendelboe afirma que aquecimento global aumenta pressão de pragas e doenças.

mudança climática tornará o café, de maneira geral, pior e mais caro, segundo o norueguês Tim Wendelboe, considerado um dos melhores baristas do mundo.

O especialista afirma que o café mais comercial só vai piorar em qualidade, enquanto o especial –provavelmente cultivado com práticas agrícolas regenerativas– até se tornará melhor, porém mais caro.

Um dos primeiros vencedores do World Barista Championship, que elege anualmente o melhor profissional da área, Wendelboe já foi descrito pelo jornal Financial Times como o René Redzepi dos cafés –em referência ao chef do Noma, restaurante eleito o melhor do mundo cinco vezes segundo o The World’s 50 Best Restaurants.

Questionado sobre suas cafeterias preferidas no mundo, Wendelboe menciona a paulistana Coffee Lab e diz que, se pudesse escolher qualquer pessoa para tomar um café e ter dois dedos de prosa, escolheria o naturalista britânico David Attenborough.

Esta é a seção "Um Café e Dois Dedos de Prosa", na qual toda semana alguma personalidade –seja especialista ou mera apreciadora– responde cinco perguntas sobre a bebida.

 

Confira abaixo a entrevista com Wendelboe e não deixe de voltar toda sexta-feira para conferir as respostas dos próximos participantes. Aliás, se você, leitor, pudesse indicar qualquer personalidade para participar desta seção, quem gostaria de ver por aqui?

Um café e dois dedos de prosa com... Tim Wendelboe

  1. Se tivesse que escolher um café para tomar pelo resto da vida, como seria?

Isso é difícil, mas com certeza seria preparado como café filtrado, seja por método manual ou similar. O café provavelmente seria um bourbon lavado de uma fazenda de alta altitude na América Central. Eles podem ser tão complexos e equilibrados ao mesmo tempo, com notas de frutas vermelhas, acidez vinosa e muita doçura.

  1. O que não pode faltar na sua pausa para o café?

Tempo. Eu odeio beber café com pressa. Também prefiro ter o café em uma jarra separada para poder encher a xícara em pequenas quantidades de cada vez. Dessa forma, a xícara não ficará muito cheia e o café esfriará até a temperatura ideal para beber mais rápido.

  1. Qual sua cafeteria preferida no mundo?

Na verdade, uma das minhas favoritas é o Coffee Lab em São Paulo. Adoro a maneira como Isabela Raposeiras consegue brincar com o café e também mostrar diferentes perfis de sabor apenas servindo cafés brasileiros. O ambiente também é muito divertido, lúdico e casual ao mesmo tempo.

  1. O café do futuro será…

De menor qualidade. Com isso quero dizer que a maioria dos cafés provavelmente será de pior qualidade devido às mudanças climáticas. A combinação de como o café é cultivado sem sombra, uso de agroquímicos e monocultura, junto com o aquecimento global, aumenta a pressão de pragas e doenças para os cafés arábica que cultivamos hoje.

Acho que o café comercial, portanto, só vai piorar em qualidade, pois os agricultores terão que plantar outras espécies de café, como o robusta, que são mais resistentes a doenças.

Mas ainda haverá agricultores que tomarão medidas e se especializarão na produção de cafés de alta qualidade. Esses cafés provavelmente serão cultivados com práticas agrícolas regenerativas, onde a construção da saúde do solo, o plantio de árvores de sombra e a diversificação das culturas nas fazendas serão a chave para o sucesso. Acho que esses cafés se tornarão melhores em qualidade, mas obviamente também mais caros.

  1. Se pudesse escolher qualquer pessoa, com quem gostaria de tomar um café e ter dois dedos de prosa?

David Attenborough. Ele testemunhou como o mundo e a natureza mudaram e se degradaram dramaticamente no último século e acho que devemos ouvir, aprender e agir com base em seu conhecimento e experiência (Folha, 28/9/24)