Café: Na beira do precipício! – Por Marcelo Fraga Moreira
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Apesar da semana atípica com apenas 3 pregões completos (feriado nos EUA na segunda feira – dia do trabalho – e no Brasil na quinta-feira – independência do Brasil) o mercado bem que tentou respirar. Infelizmente o Dez-23 encerrou a semana na beira do precipício! Fechamento da sexta-feira anterior / máxima / mínima / fechamento da semana atual respectivamente @ +151,90 / +155,00 / +148,05 / +148,65 centavos de dólar por libra-peso).
Na terça-feira o Dez-23 chegou a assustar beliscando novamente o suporte da Banda de Bollinger dos 50 dias (negociou na mínima do dia @ +148,55 centavos de dólar por libra-peso). Os “comprados” conseguiram segurar a queda acionando novas ordens de compra e o Dez-23 terminou o dia @ +153,50 centavos de dólar por libra-peso.
Na quarta-feira tivemos novo ânimo no mercado com o Dez-23 negociando na máxima da semana @ +155,00 centavos de dólar por libra-peso. Porém os “comprados” encontraram resistência importante na média móvel dos +50 dias @ +157,00 centavos de dólar por libra-peso e os “vendidos” conseguiram “derrubar” as cotações com o Dez-23 encerrando o dia @ +153,80 centavos de dólar por libra-peso.
Nos últimos 2 pregões da semana o mercado não aguentou e voltou a testar novamente o suporte da Banda de Bollinger* dos +50 dias. Na quinta-feira a mínima do dia foi @ +149,50 centavos de dólar por libra-peso e na sexta-feira a mínima do dia foi @ +148,05 centavos de dólar por libra-peso. O mercado “foi e parou no suporte”, testando esse importante nível nos +147,50 centavos de dólar por libra-peso. Será que o mercado está apenas “consolidando” para na próxima tentativa ir e romper esse suporte?
O Dez-23 terminou a semana @ +148,65 centavos de dólar por libra-peso (com base no ajuste) e o último negócio do dia foi @ +148,05 centavos de dólar por libra-peso. O piso da Banda de Bollinger* dos +50 dias terminou @ +147,70 centavos de dólar por libra-peso! O indicador “estocástico*”, apesar de já estar na região “sobrevendido”, terminou a semana ainda indicando “venda”!
De acordo com o último relatório do CFTC* os “fundos + especuladores” terminaram o período de apuração (quarta-feira da semana anterior até a terça-feira da semana presente) comprando +1.949 lotes e ainda vendidos em -24.960 lotes! Essa recompra acelerou nos últimos 3 pregões do período de apuração quando o Dez-23 chegou a negociar @ +157,60 centavos de dólar por libra-peso na quinta feira e @ +156,35 centavos de dólar por libra-peso na sexta-feira da semana passada e @ +153,95 centavos de dólar por libra-peso na terça-feira dessa semana! Pelo jeito os “vendidos” estão com receio do Dez-23 voltar a romper essa importante resistência da media móvel dos +50 dias!
Por outro lado, se esse suporte @ +147,70 centavos de dólar por libra-peso romper na próxima semana poderemos ver novos “stops de venda” sendo acionados com o Dez-23 buscando os +120 / +110 centavos de dólar por libra-peso!
Entre a máxima e a mínima dessa semana o Dez-23 caiu -4,48% (máxima / mínima respectivamente @ +155,00 / +148,05 centavos de dólar por libra-peso). Com base no fechamento oficial o Dez-23 caiu “apenas” -2,13% (fechamento sexta-feira semana anterior e fechamento nessa sexta-feira respectivamente @ +151,90 / +148,65 centavos de dólar por libra-peso).
O R$ terminou a semana praticamente inalterado @ +4,98 R$/US$.
A pressão vendedora e o pessimismo no mercado do café voltaram no radar dos investidores com a expectativa do FED* podendo novamente elevar os juros americanos mais uma vez até o final do ano de 2023. Os dados do desemprego divulgados na quinta-feira voltaram a confirmar que a economia americana continua firme e forte (o índice de gerentes do setor privado ISM – considerado mais preciso que o S&P Global pelos investidores – subiu a +54,5 pontos em agosto contra +52,7 em julho e contrariando a projeção de queda a +52,5. O indicador da atividade dos serviços em agosto subiu para +57,3 pontos contra +57,1 em julho. O índice do emprego subiu para +54,7 pontos – o mais alto desde novembro de 2021 quando estava em +50,7. E o índice dos preços subiu para +58,9 pontos em agosto contra +56,8 em julho. Já o índice que mede as novas encomendas subiu para +57,5 pontos contra +55 pontos em julho).
Na zona do euro a EUROSTAT* revisou para baixo o pib* da zona do euro do segundo semestre para apenas +0,1% contra previsão anterior em +0,3%. E a produção industrial da Alemanha em julho voltou a cair para -0,8% enquanto o mercado esperava uma queda menor em “apenas” -0,4%! E a inflação na Alemanha segue firme acima dos +6% ao ano!
O banco central do Canadá manteve a taxa de juros nos +5% ao ano! O Brasil irá definir nova redução na taxa de juros também na próxima reunião do dia 19 e 20 de setembro – provavelmente a redução será mesmo apenas -0,50 pontos. O FED* americano deverá divulgar a sua decisão também no próximo dia 20 – as 15 horas horário do Brasil – e o Banco Central do Brasil após as 18 horas do mesmo dia.
Os dados vindos da China também não empolgaram. Apesar do índice da produção industrial ter vindo acima dos +52 pontos veio abaixo do esperado pelo mercado (acima dos +54 pontos). Nesse final de semana a China irá divulgar novos dados sobre inflação, crescimento e já teremos reflexos logo na próxima segunda-feira.
O petróleo voltou a subir com os países membros da Opec+ e Rússia sinalizando nova redução na oferta do produto até dez-23 (o petróleo tipo wti e o tipo brent terminaram a semana respectivamente @ +87,23 e +90,44 US$/barril).
No curto prazo quem manda no mundo ainda é o FED*! Se o FED* sinalizar novo aumento de juros na próxima reunião do dia 20 de setembro o reflexo nas commodities agrícolas, juros ao redor do mundo e petróleo deverá ser imediato!
Com petróleo mais alto ao redor do mundo o mercado já vêm prestando atenção ao potencial cenário recessivo com a expectativa do aumento dos custos nos combustíveis / transportes e mais inflação. Para combater a inflação os bancos centrais serão obrigados a aumentar novamente os juros. Juros mais altos irão gerar crescimento menor; crescimento menor irá gerar mais desemprego; aumentando o desemprego teremos reflexo no consumo… E, menor consumo teoricamente vai sobrar café! Mais café e uma “super florada” brasileira com uma “super safra 24/25” já sendo estimada pelo USDA* e grandes bancos/tradings >= +70/75 milhões de sacas = preços para baixo!
Os estoques certificados terminaram a semana com apenas +450.153 sacas e com +17.500 sacas pendentes para aprovação de origem Brasil. O menor nível dos últimos 3 anos!
O Vietnam confirmou a redução nas exportações em -4,90% nos primeiros 8 meses do ano para apenas +20.120.690 sacas. E confirmou a expectativa para a safra 23/24 ser a menor dos últimos 4 anos em apenas +27,84 milhões de sacas!
A OIC* confirmou a redução nas exportações globais no período out-22/julho-23 em -5,7% (apenas +103,74 milhões de sacas). Essa redução foi em função da “falta de demanda” ou “falta de produto”?
A OIC* também confirmou a produção global total para a safra 22/23 em apenas +171,27 milhões de sacas com um consumo em +178,53 milhões de sacas – um déficit global em -7,26 milhões de sacas (vale lembrar que o USDA* e outros bancos/corretoras estimam ainda um superávit no mesmo período em +1,7 milhões de sacas).
Os produtores brasileiros (e provavelmente todos ao redor do mundo) estão se sentindo injustiçados pelo “mercado”, com preços praticados muito aquém do esperado e bem próximo do “break-even” do custo de produção. Saudades quando o produtor não vendeu acima dos +1.500 R$/saca!
Até quando os produtores irão continuar “se vitimizando”? Nenhum comprador está colocando o “revolver” na cabeça do produtor exigindo que o produtor venda seu produto aos preços atuais. O produtor vende porque quer. Se os produtores saírem do mercado por 10-15 dias colocando preços, por exemplo, @ +1.000 R$/saca exigindo/justificando um prêmio pela qualidade e/ou um prêmio de performance pelo seu produto e/ou um prêmio pelos certificados exigidos tenho certeza que os preços irão melhorar! É melhor vender 1.000 sacas por R$ 1.000 reais ou vender +1.250 sacas por R$ 800?
As indústrias locais ainda precisam comprar e garantir seu fluxo de produção / entregas para os próximos meses. Quanto custa para uma indústria “desligar uma caldeira”, demitir e depois readmitir / treinar novos funcionários? Idem para os exportadores com seus compromissos logísticos e contratos já assumidos?
Novamente, os produtores e as cooperativas precisam se unir e definir politicas de compra, de hedge/proteção. Pelo quadro da oferta e demanda mundial os próximos 3-5 anos serão críticos. E APENAS o Brasil terá condições para atender eventual aumento na demanda mundial.
Ainda acredito em preços até o final do ano / primeiro trimestre 2024 voltando aos +1.000 R$/saca para o café tipo arábica e +700/+800 R$/saca para o café tipo robusta. Porém, como sempre, recomendo a compra de um seguro contra eventuais quedas garantindo uma receita que cubra o seu custo de produção.
Venho recomendando proteção há varias semanas para a safra 24/25, desde quando o Set-24 estava negociando acima +180,00 centavos de dólar por libra-peso e o mercado pagando +1.000 R$/saca (apenas para lembrar nossos leitores, entre abril-setembro-23 o Set-24 estava negociando acima dos +180 centavos de dólar por libra-peso).
Nessa semana um produtor conversou comigo e “achou caro” pagar +60 R$/saca para comprar um seguro para a próxima safra 24/25, contra o Set-24, garantindo um preço mínimo ao redor dos +850 R$/saca! Há 2-3 meses era possível fazer a compra desse mesmo seguro, garantindo um piso/teto entre +1.000 / +1.250 R$/saca a “custo zero”! Depois que a oportunidade passa infelizmente não adianta mais “correr atras do rabo”.
O Dez-23 encontra agora forte suporte @ +147,70 / +144,50 / +144 e resistências @ +157,10 e +169,10 centavos de dólar por libra-peso.
Protejam-se! Se vier nova crise mundial com aumento nos juros e petróleo voltando aos +100 US$/barril poderemos ver as cotações em NY voltando a negociar nos +120 centavos por libra-peso (com liquidação equivalente abaixo dos +600 R$/saca).
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