01/07/2024

Café: Revisões em andamento nos números da safra brasileira 24/25

Café: Revisões em andamento nos números da safra brasileira 24/25

 

Por Marcelo Fraga Moreira

 

Apesar do Set-24 negociar na máxima da semana na segunda-feira @ 237,55 centavos de dólar por libra-peso NY realizou e voltou a cair -1.550 pontos com a “ajuda” da desvalorização do R$ e das novas previsões climáticas. O Set-24 oscilou entre a abertura / máxima / mínima / fechamento respectivamente @ 225,50 / 237,35 / 222,05 / 226,80 centavos de dólar por libra-peso – desvalorizando -4,52%. Já o R$ encerrou a semana / semestre na mínima do ano @ 5,6145 R$/US$ (desvalorizando na semana -4,36% e no ano -14,12%)!

Em R$/saca o mercado interno continuou negociando entre 1.100 / 1.450 R$/saca para o café arábica e entre 1.150 / 1.250 R$/saca par ao café robusta (dependendo da peneira / qualidade / ponto de entrega / certificados). O mercado do café tipo robusta continua sendo negociado com um desconto para o café do Vietnam entre -250/-300 R$/saca! Até quando?

Após NY abrir a segunda-feira com uma alta de +1.200 pontos (e negociando na máxima da semana @ 237,55 centavos de dólar por libra-peso) os outros pregões praticamente foram “ajustes” em função da desvalorização do R$ e com expectativas da chegada de uma frente fria para  os próximos dias trazendo humidade / chuvas para as principais regiões produtoras. Existem várias regiões que estão sem chuvas há 60-90 dias! E muita preocupação com o desenvolvimento das lavouras já para a próxima safra 25/26. Aparentemente os “baixistas” do mercado continuam monitorando as lavouras através de monitores e não realizando visitas presenciais. Varias consultorias já anunciaram que estão revendo as projeções iniciais publicadas no inicio do ano, com redução por enquanto entre 3-5 milhões de sacas (dependendo da consultoria). A quebra da safra brasileira 24/25 já é considerada como liquida e certa por todos os participantes locais. Considerando que muitos estavam projetando uma safra entre 66/70 milhões de sacas (e o USDA* em 69,90 milhões de sacas) então aparentemente agora o “mercado” já está estimando uma safra entre 61/65 milhões de sacas – ainda assim um pouco acima da previsão da Conab* (em +58,80 milhões de sacas)!

Muitos produtores continuam preocupados reportando quebras acima dos 40/50% nas suas lavouras. Um dos maiores produtores de café do mundo também está muito assustado considerando inclusive uma safra abaixo dos 55 milhões de sacas!

Considerando a exportação brasileira em junho-24 em +3,45 milhões de sacas, então o mês de junho-24 terá sido o “junho” recorde das últimas 4 safras totalizando 47,15 milhões de sacas! E, com base nos dados do USDA*, o estoque de passagem da safra 23/24 para a safra 24/25 deverá ficar em apenas +1,23 milhões de sacas!

Considerando a próxima safra 24/25 (sendo otimista) em +65 milhões de sacas e um consumo interno em +22 milhões de sacas, então o Brasil poderá exportar no próximo período julho-24/junho-25 apenas +43 milhões de sacas (+3,58 milhões de sacas/mês x uma média nesta última safra 23/24 em 3,93 milhões de sacas)! Se a safra vier em +60 milhões de sacas, então a exportação média mensal deverá ficar no máximo em +3,17 milhões de sacas!

Com o mundo de olho no Brasil e no Vietnam a VICOTA (Associação de Café e Cacau do Vietnam) atualizou sua estimativa para a safra 23/24 e 24/25 respectivamente em +26,70 milhões de sacas e entre +21,40 / +22,70 – rebatendo novamente o USDA* com +29,10 e +29,00 milhões de sacas.

Ou seja, apenas as 2 principais origens (dados oficiais – CONAB* e VICOTA) estão contestando o lado da oferta do USDA* em -19 milhões de sacas!

O consultor Gustavo Rennó, muito respeitado no setor e com “o pé no barro” também “trucou” o USDA* e não acredita nos números apresentados. Ou seja, o USDA* está virando uma Conab*, sendo contestado por todos! Em breve saberemos quem está certo!

O Set-24 conseguiu se “segurar” acima da média-móvel dos 50 dias (218,42 centavos de dólar por libra-peso). Agora encontra resistências @ 227 / 235 / 243 centavos de dólar por libra-peso e suportes @ 218,40 / 204 / 196 centavos de dólar por libra-peso.

As próximas semanas serão cruciais para determinar o próximo movimento do mercado! Ainda continuo positivo com o mercado podendo testar os 250/300 centavos de dólar por libra-peso em função do índice “estoque x consumo” apresentar um “índice” explosivo (para quem tiver dúvidas, acessar o comentário semanal anterior)!

Sugestão para o produtor: comprar uma proteção contra eventual baixa, com um piso ao redor dos +1.200/+1.100 R$/saca para o café arábica tipo 6, através da compra de uma opção de venda “put*” ou da compra de uma estrutura “put-spread*”. E continuar aguardando e vendendo o saldo da sua safra 23/24 e 24/25 “bem devagar”…

Já para a indústria / produtor que já vendeu e está com quebra na sua produção: comprar uma opção de compra “call*” ou uma estrutura “call-spread” ao redor dos +1.500/+1.650 R$/saca e ir comprando no “spot” apenas o necessário para suprir suas necessidades.

Notícias vinda de Brasília nos próximos dias poderão dar um “refresco” para o R$ porém o “piso” agora esperado pelo mercado é para um R$ no próximo semestre trabalhando entre +5,25/+6,00 R$/US$!

Obs: os fundos + especuladores estão comprados em +50.744 lotes! Aumentaram a posição comprada em +4.662 lotes durante o último período de apuração. Considerando a posição em aberto no mercado de café em NY em aproximadamente 249.600 lotes (sem considerar a posição em opções), cada 5.000 pontos representam aproximadamente 67 US$/saca. Considerando, para efeito de “exercício / stress test”, que a posição vendida foi montada em +200 c/lb, então, para todo esse mercado, cada 5.000 pontos representam uma “chamada de margem potencial” em +4,20 bilhões de dólares! Se os fundos + especuladores decidirem levar o mercado para os +300 c/lb, então teremos uma potencial chamada de margem nos próximos meses podendo chegar/ultrapassar os +8,30 bilhões de dólares! (Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting; 29/6/24)