Câmbio eleva custo da Dreyfus para venda da Biosev
A alta do dólar frente ao real aumentou os custos da Louis Dreyfus para vender a Biosev.
No mês passado, a trading de commodities agrícolas controlada pela bilionária Margarita Louis-Dreyfus chegou a um acordo para vender a empresa para a Raízen, joint venture entre Royal Dutch Shell e Cosan.
Como condição para fechar o negócio, a Dreyfus precisa resolver questões com credores e investidores. Para isso, a empresa fez uma oferta para comprar 61 milhões de ações de investidores minoritários da Biosev por US$ 2 cada, com o valor pago em reais.
As ações da Biosev foram negociadas ao equivalente a US$ 1,50 cada na segunda-feira, o que aumenta a probabilidade de que esses investidores aceitem a oferta.
Com isso, a compra de ações sairia mais cara para a Dreyfus devido à desvalorização do real, que perdeu 4,7% em relação à moeda americana desde o anúncio do acordo em 8 de fevereiro. Com base no fechamento de segunda-feira, o custo para a Dreyfus seria de cerca de R$ 690 milhões se todos os acionistas minoritário aderissem à oferta.
O real é a moeda com pior desempenho nos principais mercados emergentes este ano. O Banco Central tem feito intervenções no mercado de câmbio para segurar a alta do dólar.
Vender a Biosev será um alívio para a Dreyfus que injetou cerca de US$ 1 bilhão para resgatar a divisão de açúcar em 2018. Os R$ 3,6 bilhões que a Raízen vai pagar para adquirir a Biosev serão usados para quitar cerca da metade da dívida da empresa, enquanto o restante – cerca de R$ 4,1 bilhões – continuará sob responsabilidade da Dreyfus (Bloomberg, 16/3/21)
Cosan/Raízen: 70% do crescimento deve vir de produtos renováveis
A Raízen espera que 70% do crescimento futuro da companhia venha de materiais renováveis. "Há grande potencial de crescimento em energias renováveis", afirmou o CEO da empresa, Ricardo Mussa, durante o Cosan Day. "Vamos expandir produtos e estamos aumentando a plataforma digital. Cerca de 70% do crescimento da Raízen virá de produtos renováveis. Estamos transformando a empresa." O crescimento até aqui, disse ele, já foi impressionante: de R$ 3,7 bilhões de Ebitda em 2011 para R$ 10 bilhões esperados em 2021.
Uma das possíveis fontes de crescimento mencionadas por ele é o etanol de segunda geração. "Foi um produto muito demandado, no ano passado, quando iniciamos a safra, vendemos a produção inteira em menos de 11 dias", disse Mussa. "E além disso, a tecnologia é desenvolvida por nós. Então também podemos exportar a tecnologia. Mesmo um país fechado para o etanol brasileiro não está fechado para tecnologia, então podemos cobrar royalties por ela", afirmou. "O crescimento virá de plantas adicionais - queremos garantir contratos para criar novas plantas - e a segunda fase é a exportação de tecnologia."
Mussa também falou sobre o biogás. "Hoje, o projeto é que substitua o diesel. Se pudermos substituir o diesel, vamos reduzir o impacto de carbono", disse. Mussa afirmou que também é possível converter o biogás em eletricidade, e que isso já foi testado em uma planta. Ele destacou que a Raízen tem a maior carteira de biomassa do mundo, controla os insumos e tem sua própria tecnologia. "Temos usina perto de São Paulo que tem biogás, cogeração, em breve terá etanol de 2ª geração e até químicos."
Por ser a maior empresa de etanol atualmente, disse o CEO, a Raízen tem grandes quantidades de informação proprietária, o que permite que a companhia comercialize mais de três vezes o que produz. "Sabemos o que acontece com a produção, temos tanto short quanto long. Com açúcar e energia é a mesma coisa."
O executivo afirmou que a Raízen tem vantagens por estar no lugar certo - Brasil, com disponibilidade de terra e clima favorável -, com a cultura certa e na empresa certa. "A cana é uma cultura fantástica, tem potencial único de converter energia solar em biomassa."
Quanto à questão ambiental, Mussa diz que a empresa já é uma "campeã verde", que evitou emissão de 5,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2020, e espera que esse volume suba para 10,5 milhões de toneladas em 2030. "Outras empresas traçam metas para 2050, e nós já estamos cumprindo essas metas hoje." Ele comparou a empresa com a Tesla, que em 11 anos evitou emissão de 3,7 milhões de toneladas (Broadcast, 16/3/21)