Cana: Chuva dos últimos dias no Centro-Sul ajuda mas pode ser insuficiente
As chuvas voltaram ao Centro-Sul do Brasil após meses de tempo seco, mas o volume pode ser insuficiente para o desenvolvimento da nova safra de cana-de-açúcar, que começa a ser colhida em abril do ano que vem. "Vamos ter que ver como as chuvas vão se comportar", disse ao Broadcast Agro o diretor da divisão de açúcar e etanol da StoneX, Bruno Lima. "As chuvas de outubro no Centro-Sul estão abaixo da média histórica e também da média no ano passado", diz ele. Historicamente, a região costuma receber 120 milímetros no mês, e as chuvas até o momento estão na casa dos 20 mm - embora haja previsão de que, até o fim de outubro, alcance 130 mm. A avaliação da StoneX é de que, para novembro, a média deve ficar um pouco acima do patamar histórico, que é de 25 a 30 mm; e, em dezembro, ficará próximo da média histórica, de 70 a 75 mm. Hoje essa incerteza climática já influencia o desempenho dos contratos futuros de açúcar na Bolsa de Nova York (ICE Futures US).
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Franco Vilela diz que o Estado de São Paulo, principal produtor de cana do País, vem tendo problemas com o tempo seco desde o primeiro semestre. "Em julho e em setembro todo o Estado teve precipitação abaixo da média. Em agosto, o norte e centro-norte já tinham tido esse problema", destacou. No caso específico do norte paulista, a seca é observada desde março. "Na região da Mogiana, até Alta Mogiana, parece que deve normalizar (a chuva) em outubro, e pelo menos os primeiros dez dias de novembro devem ter precipitações dentro ou acima da média", diz.
A meteorologista Maria Clara Sassaki, da Somar, acrescenta que, mesmo mais frequente, a chuva ainda não é a ideal para as lavouras de cana-de-açúcar. "Em São Paulo e em Mato Grosso do Sul o volume é baixo", diz, o que explicaria o solo seco nas régios produtoras paulistas. "Mas a tendência é que, em novembro, fique mais frequente e, até o final do mês, volumes fiquem mais expressivos."
Para o analista sênior da S&P Global Platts, Claudiu Covrig, é necessário chuvas regulares até o fim do ano e, principalmente, entre janeiro e março de 2021. "Se esse tempo úmido continuar, a cana vai se recuperar do período de seca dos meses anteriores", afirmou. Covrig alertou para o fenômeno climático La Niña, que se caracteriza por clima mais seco no Centro-Sul do Brasil. Para os próximos 15 dias - projeções mais confiáveis, destaca - a expectativa é de volumes positivos de chuva, "principalmente em São Paulo, Minas Gerais e outros Estados".
Com base no atual cenário climático, a StoneX projetou há duas semanas uma queda de 1,2% na moagem de 2021/22 no Centro-Sul, para 590,4 milhões de toneladas, recuo de 8,7% na produção de açúcar, para 34,6 milhões de toneladas, e leve avanço de 0,6% na produção de etanol de cana, para 26,7 bilhões de litros. Lima disse que "se a chuva ficar aquém" a consultoria pode revisar esses dados para baixo.
Na ICE Futures US, o contrato mais líquido do açúcar, com vencimento em março do ano que vem, acumula valorização de cerca de 10% em um mês. O Brasil, maior produtor e exportador do adoçante, se tornou o principal provedor do mundo, principalmente na atual temporada. Outros grande produtores passam por problemas diferentes, o que reduz ainda mais a oferta global. A Índia vive incerteza política em relação ao subsídio às importações na safra global atual. Já a Tailândia, um dos principais exportadores, deve ter mais uma temporada de produção baixa.
Há também preocupações relacionadas ao etanol. A demanda pelo biocombustível vem se recuperando à medida que a economia do País é reaberta após as restrições feitas no combate à covid-19, e a produção pode ficar em patamares baixos por causa do mix mais açucareiro das usinas brasileiras. Uma vantagem são os estoques relativamente altos do biocombustível em decorrência dos meses de consumo baixo enquanto o isolamento era seguido com mais rigidez (Broadcast, 21/10/20)