Cana: Usinas antecipam safra e elevam expectativa por etanol mais barato
Legenda: Usina Batatais antecipa colheita da cana-de-açúcar
ANP apontou recorde no preço do biocombustível em janeiro em SP. Economista diz que valor da gasolina deve cair devido ao surto de coronavírus e pressionar queda geral nas bombas.
A safra da cana-de-açúcar só começa oficialmente entre em abril na região de Ribeirão Preto (SP), mas algumas usinas antecipam os trabalhos e o início da colheita aumenta a expectativa dos motoristas, que esperam pela queda no preço do etanol nas bombas.
Em fevereiro desse ano, pela primeira vez na história, o valor médio do litro do biocombustível no estado de São Paulo passou de R$ 3, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em Ribeirão, os postos chegaram a vender o litro do etanol por R$ 3,27.
“Não sei por que na nossa região o álcool é tão caro desse jeito. Para ter combustível, você tira de outra coisa. Eu gasto, em média, R$ 400 por semana. Em média são R$ 1,5 mil, até R$ 2 mil por mês com combustível”, reclamou o mecânico Mizael Alexandrino.
Instrutor de autoescola, Valdemir Pedroso de Lima disse que, geralmente, os preços caem com o início da produção de etanol, que passa a ser distribuído aos postos. Mesmo assim, ele afirmou não espera uma redução tão significativa em função da carga de impostos.
“Essa é a esperança, mas, do jeito que a gente está no Brasil, nunca baixa [o preço], baixa 15 dias e nos próximos 20 dias aumenta R$ 0,50. A gente só fica no prejuízo. Brasileiro só paga imposto. Está muito caro, sem condições, caríssimo”, criticou.
Motorista de aplicativo, Luis Teles da Silva Neto afirmou que gasta cerca de R$ 200 por semana para abastecer o carro com etanol e destacou que o preço poderia ser menor, justamente porque as usinas produtoras estão na região de Ribeirão Preto.
“O combustível está puxado, poderia ser mais em conta. Sabemos que tem muitos impostos, encargos que poderiam ser aliviados. Sempre dizem que a safra está boa, mas nunca baixa o preço do combustível. A esperança é que possa melhorar”, disse.
Safra antecipada
Presidente da Usina Batatais, Bernardo Biagi afirmou que o grupo iniciou a colheita já nesta quarta-feira (4), mantendo a tradição de ser uma das primeiras unidades sucroenergéticas a dar a largada na moagem de cana na região Centro-Sul do país.
A usina tem uma área de cultivo de 60 mil hectares, sendo 75% deles pertencentes a parceiros. Mas, a cana colhida até 31 de março será contabilizada na safra 2019/2020. Segundo Biagi, o preço do etanol só deve cair nas bombas entre abril e maio.
“Esse ano temos uma produção de cana muito boa. As chuvas têm sido bastante generosas, então haverá produção um pouco maior de açúcar falando em termos de Centro-Sul, mas prevalecendo a maior parte da matéria prima ao etanol”, afirmou.
Dólar e coronavírus
Especialista em agronegócio, o economista José Carlos de Lima Junior disse concordar com a afirmação do usineiro, explicando que o reflexo no preço nas bombas de combustível nunca é imediato, já que o estoque da safra passada ainda está sendo escoado.
“Todo inicio de safra sempre é um momento em que você tem primeiro a liberação dos estoques de passagem e, consequentemente, a própria produção de um novo produto, um novo etanol, que vai ser colocado no mercado”, afirmou.
Ainda segundo Lima Junior, o surto de coronavírus está afetando a economia, influenciando nas cotações do dólar em diversos países e também no preço do barril de petróleo no mercado internacional, o que deve provocar a queda no preço da gasolina.
“Isso fará uma segunda pressão no preço do etanol, para que ele acompanhe essa queda, até porque, se aquela proporção de 70% do preço do etanol em relação a gasolina ficar muito distante, o consumidor pode optar pela gasolina”, finalizou (G1, 5/3/20)