15/12/2017

Carne bovina ajuda e Brasil consegue elevar exportação de proteínas

Carne bovina ajuda e Brasil consegue elevar exportação de proteínas

As exportações brasileiras de carnes devem fechar 2017 em alta ante 2016, com os embarques da proteína bovina compensando as perdas com as vendas de suína e de frango em um ano marcado por problemas políticos, comerciais e sanitários para todo o setor nacional.

Ao todo, o Brasil deverá exportar 6,54 milhões de toneladas de proteínas em 2017, avanço de 0,4 por cento sobre 2016, segundo compilação da Reuters que considera carne in natura e processada, de acordo com dados de associações do setor (ABPA e Abiec).

Em receita, o aumento deverá ser mais expressivo, de 9 por cento, para 15 bilhões de dólares, o que indica preços mais altos em dólar e também forte demanda pelo competitivo produto do maior exportador global de carnes de frango e de boi.

O balanço geral pode ser considerado ainda mais positivo para o segmento se levados em conta os vários problemas enfrentados pela cadeia exportadora ao longo do ano.

A lista de adversidades começa com a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março; passa pelas delações de executivos da JBS, que afetaram praticamente todo o mercado; e termina com os embargos de Rússia e Estados Unidos, sem falar das indefinições quanto à cobrança retroativa do Funrural.

No caso de bovinos, os números mostram apenas um impacto momentâneo da Carne Fraca, enquanto as indústrias de frango e suínos foram mais afetadas, em um caso que envolveu até mesmo unidade da BRF.

“A Operação Carne Fraca teve muito pouco impacto em conceito de qualidade... Houve retomada imediata das exportações... Ficou constatado que outros players internacionais não conseguiram suprir a oferta de carne brasileira, e os compradores voltaram importando em grandes volumes”, disse nesta quinta-feira o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli.

Pelos dados da associação, logo após a Carne Fraca as exportações de carne do Brasil caíram para 93,15 mil toneladas, de 125,25 mil toneladas em março. Em maio, contudo, voltaram a subir para 118,35 mil toneladas, continuaram a avançar até um pico de cerca de 150 mil toneladas em agosto e devem fechar 2017 em alta de 9,3 por cento sobre 2016, a 1,53 milhão de toneladas.

Essa expansão nas vendas de carne bovina compensará as quedas esperadas para as de frango e suína neste ano.

Na comparação com 2016, as vendas desses dois últimos devem cair 1,5 e 5,3 por cento, para 4,32 milhões e 690 mil toneladas, respectivamente.

“Os equívocos nas generalizações na divulgação da operação Carne Fraca deixaram, de imediato, marcas profundas no setor produtivo, seja junto ao público brasileiro ou aos mercados internacionais”, analisou o presidente da ABPA, Francisco Turra, em nota na quarta-feira.

A associação estimou que o país, que responde por cerca de 40 por cento das exportações globais de frango, poderia ter exportado mais 200 mil toneladas de carnes de frango e de porco, não fosse o impacto da operação Carne Fraca.

ANO QUE VEM

Para 2018, prevalece o otimismo, com todas as categorias de carnes projetando crescimento em meio a um cenário de abertura de novos mercados.

A Abiec avalia que os embarques de carne bovina poderão ir a 1,68 milhão de toneladas, alta de 9,8 por cento sobre 2017, com o início de vendas para países como Indonésia e Coreia do Sul, além da retomada de EUA e Rússia.

Já a ABPA não dá um número fechado, mas diz que as exportações de carne de frango podem se elevar de 1 a 3 por cento em volume, com a recuperação dos níveis de embarques para a União Europeia, de importantes mercados do Oriente Médio e da China, país este que deve autorizar mais plantas brasileiras a exportar.

No caso da carne suína, a ABPA projeta expansão de 4 a 5 por cento nas vendas, puxadas pela abertura do mercado peruano e por uma maior demanda da Rússia, que será sede da Copa do Mundo justamente no próximo ano (Reuters, 14/12/17)

 


Pecuária poderá virar problema social, diz analista

A pecuária brasileira corre o risco de se tornar um sério problema social, mais do que ambiental. Nos próximos cinco anos, o setor deverá liberar 30 milhões de hectares de pastagens. Destes, 6 milhões deverão ser incorporados pela agricultura.

A avaliação é de Maurício Palma Nogueira, da Agroconsult. Essa liberação de área de pastagens deverá ser feita devido a um aumento de produtividade no setor: maior produção de carne por hectare.

O problema, segundo Nogueira, será o produtor que não conseguir acompanhar essa evolução da pecuária e ficar com uma produtividade inferior à da média do setor. "Ele será excluído da produção."

Há grande probabilidade de o pequeno produtor estar nessa estatística e passar a fazer parte do problema social. O analista da Agroconsult alerta para o fato de que a cadeia tem margens baixas de lucratividade e riscos elevados. Quem não conseguir margens vai ficar excluído.

Boa parte das áreas de pastagens que serão desativadas virará florestas, muitas delas em áreas isoladas, sem uma conexão entre elas.

EFICIÊNCIA

O avanço da produtividade da pecuária já pode ser visto. Em 1990, a área de pastagem era de 190 milhões de hectares, com produtividade de 1,62 arroba de carne por hectare por ano.

Neste ano, a área é de 165 milhões de hectares, e a produtividade atinge 3,88 arrobas por hectare.

Uma das alternativas para a pecuária são as exportações. O ideal seria que, até 2020, o país conseguisse colocar 3 milhões de toneladas de carne no mercado externo. As exportações vão garantir produção e expansão do setor, segundo Nogueira.

Setor cresce em 2017

A pecuária viveu um ano de turbulências em 2017. Mesmo assim, os números finais de exportações e de receitas do ano surpreenderam.

As exportações de carne bovina somaram 1,53 milhão de toneladas, superando em 9% as de 2016.

Com a valorização dos preços externos, as receitas atingiram US$ 6,2 bilhões, 13% mais do que em 2016, conforme dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).

A Operação Carne Fraca, uma das que mais afetaram o setor, anunciava um desastre. De imediato, 60 países reagiram à operação, interrompendo compras ou pedindo explicações ao Brasil.

Em abril, as exportações recuaram 25%, em relação às de março, mês em que a Carne Fraca foi efetuada pela Polícia Federal.

Passados os primeiros meses, os mercados fechados foram reabrindo, e as vendas externas, voltando ao normal.

Ao contrário do desastre inicial, a Carne Fraca e os demais momentos de crise no setor —suspensão das importações dos Estados Unidos, Operação Carne Fria e a delação premiada de diretores da JBS— deixaram lições para os meses seguintes, segundo Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec.

Essas adversidades provocaram uma adequação da atividade e forçaram uma revisão de conceitos por parte de todos. A indústria ficou mais perto do produtor, e o governo buscou um controle maior da qualidade. "Com isso, o ano chegou ao final com perspectivas excelentes", diz Camardelli.

O Brasil exportou carne bovina para 134 países em 2017. Os maiores importadores foram Hong Kong, China e Rússia.

Para 2018, a Abiec estima vendas externas de 1,68 milhão de toneladas e receitas de US$ 6,9 bilhões.

Esse crescimento poderá vir das exportações para países que atualmente estão fora da lista dos importadores do Brasil: Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia e outros.

Esses países, como o Japão, não aceitam o conceito de regionalização e impõem barreiras ao produto brasileiro porque o Brasil é considerado livre da febre aftosa, mas com a necessidade de vacinação.

O Japão é um caso à parte. As negociações com os japoneses não avançam, e a Abiec vai pedir ao governo que "engrosse a voz", com a abertura de um painel na OMC (Organização Mundial do Comércio), segundo Camardelli (Folha de S.Paulo, 15/12/17)