23/01/2025

Carne bovina pode liderar produção global, e mira exterior

Carne bovina pode liderar produção global, e mira exterior

FRIGORÍFICO BOVINO-FREEPIK

Abiec espera alta de 10% nas exportações, em ano em que Brasil pode superar EUA.

 

O Brasil poderá, pela primeira vez, assumir a liderança mundial na produção de carne bovina, ocupando o posto dos Estados Unidos. Pelos números do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), ambos devem produzir 11,8 milhões de toneladas neste ano. As condições da pecuária americana, no entanto, apresentam mais dificuldades do que a brasileira.

 

Os americanos veem ano a ano uma elevação de custos e redução no rebanho, e os brasileiros esperam que, com a safra recorde de grãos, o país aumente o rendimento de carne por animal abatido neste ano.

 

É nesse cenário que Roberto Perosa, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), espera uma evolução de 10% nas exportações de 2025.

 

Avaliando o comportamento da pecuária mundial, o Brasil deverá sair favorecido neste ano. Os Estados Unidos estão em ciclo de baixa, a Austrália merece mais atenção, e a queda de produção no Brasil deverá ser marginal, acredita o executivo.

 

Apesar do aumento das exportações, o preço da carne bovina não sobe internamente, na avaliação de Perosa.

 

Pelo menos 70% da carne bovina produzida fica no mercado interno, e a que é exportada é composta por cortes não muito atrativos para o consumidor brasileiro.

 

"Não sei se estou muito otimista, mas pelo menos estou confiante. Sendo bastante transparente, os dados que nós temos hoje nos levam a crer que nós vamos ter uma exportação recorde neste ano", diz Perosa.

 

Se confirmada a evolução de 10%, as exportações ficariam próximas de 3,2 milhões de toneladas neste ano. Em 2024, foram de 2,89 milhões.

 

O novo presidente da Abiec diz que o foco deste ano é a Ásia. A China aumenta as compras, mas um bom mercado a ser conquistado também é o da Indonésia, que atualmente impõe taxas pesadas de 50% ao produto brasileiro. Esse mercado já está aberto, mas o Brasil precisa desenvolvê-lo melhor, diz o presidente.

 

A Abiec vai apostar muito também em quatro países, que representam 1,5 milhão de toneladas da demanda mundial de carne bovina: Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Turquia.

 

Os dois primeiros pagam bem pela carne, enquanto o Vietnã aumenta a demanda pela proteína, devido à evolução rápida da economia, e a Turquia consegue uma forte agregação de valor à proteína.

 

O mercado americano, apesar de Donald Trump, vai continuar favorável ao Brasil. Nos primeiros vinte dias deste mês, o país já preencheu a cota de exportação de todo o ano, que é de 65 mil toneladas. "Então, de agora a 31 de dezembro, nós já estaremos pagando 26,4% de taxa."

 

Das exportações do ano passado, 70% do que o Brasil colocou nos Estados Unidos foram fora da cota, pagando 26,4%. Os americanos precisam de carne, e as exportações para eles vão crescer, mesmo com a tarifa atual, afirma o presidente da Abiec.

 

O mercado da China continua atrativo, mas os chineses não estão aumentando muito as compras mundiais de carne bovina. Apenas fizeram uma opção pelo Brasil, o que elevou as exportações nacionais para aquele país asiático, em detrimento de outros exportadores.

 

Os motivos da opção chinesa pelo produto brasileiro são vários, segundo Perosa. Ele destaca as questões de sanidade, qualidade da carne, além da expertise de produtores e de exportadores em atender às demandas chinesas.

 

Ele aponta também a proximidade política dos dois governos como um ponto positivo. A China passou a acreditar mais no Brasil, favorecendo as exportações. "Mudaram a chave", diz o presidente da entidade.

 

A salvaguarda que está sendo estudada pela China nas importações de carne bovina não deverá resultar em efeitos práticos para os brasileiros, acredita ele. Ela visa importação rápida em curto prazo e efeitos prejudiciais às indústrias, o que não está ocorrendo.

 

Com relação à Europa, Perosa diz que a atitude dos europeus é uma ação protecionista desprovida de fundamentos.

 

Do lado econômico, a cota colocada para o Mercosul é de 99 mil toneladas. Desse volume, o Brasil teria direito a 42,5%, próximo a 42 mil toneladas, mas o país exportou 80 mil no ano passado.

 

O mercado europeu é um pouco mais sofisticado e formador de opinião. Deve ser tratado como um nicho, e, como tal, não vai prejudicar a produção interna dos europeus, afirma.

 

Além dos custos internos de produção, vindos de insumos, mão de obra, entre outros fatores, o presidente da entidade diz que câmbio e juros interferem muito no mercado.

 

O câmbio não pode ter uma desvalorização agressiva. Já os juros freiam os investimentos feitos no incremento de produtividade.

 

A indústria bovina brasileira, que produz 340 kg de carne por segundo e exporta 5.500 kg por minuto, quer avançar ainda mais. Entre os objetivos da Abiec estão o de maior internacionalização, abrindo escritórios de representação nos Estados Unidos, na Europa e na China, e o de abertura de novos mercados e consolidação dos atuais (Folha, 23/1/25)