Carrefour:CEO se desculpa em carta a ministro por ataque à carne brasileira
ALEXANDRE BOMPARD- PRESIDENTE CARREFOUR- FOTO REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO iSTOCK
Alexandre Bompard diz que produto brasileiro tem alta qualidade, respeito às normas e sabor; na quarta-feira, 20, executivo havia dito que deixaria de vender, na França, a carne do Mercosul.
O CEO do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, pediu desculpas ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, pela confusão gerada com a declaração recente do Carrefour França. Em carta enviada ao ministro, obtida pelo Estadão/Broadcast, Bompard afirma que a declaração de apoio do Carrefour França aos produtores franceses gerou discordâncias no Brasil e que, como diretor-presidente do grupo, deve esclarecer isso.
“Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”, disse Bompard, no documento entregue pela Embaixada da França ao Ministério da Agricultura.
A carta de Bompard põe fim a uma crise entre o Grupo Carrefour e o agronegócio brasileiro, em especial a indústria de carnes, iniciada na última quarta-feira (20), quando Bompard comunicou que a varejista se comprometia a não comercializar carnes provenientes do Mercosul na França, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer, afirmando que esses produtos não respeitam os requisitos e normas do mercado francês. Em represália à medida, frigoríficos brasileiros suspenderam o fornecimento de carnes ao Grupo Carrefour no Brasil e condicionaram a retomada do fornecimento de produtos ao Carrefour Brasil a uma retratação pública de Bompard.
Na carta a Fávaro, Bompard se diz um “amigo de longa data do País”. “O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil”, afirmou Bompard.
O executivo destaca que, na França, o Carrefour compra quase toda a carne utilizada nas suas atividades dos produtores franceses. “E assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais”, explicou Bompard.
No Brasil, segundo ele, também o Grupo Carrefour compra quase toda a totalidade de carne necessária para as atividades dos produtores locais. “E seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos”, afirmou.
Bompard ressaltou que, sob sua gestão, o Brasil foi o país onde o Carrefour mais investiu nos últimos anos. “Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil”, pontuou.
“O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros”, concluiu Bompard.
Comunicado na França
Na França, o Grupo Carrefour publicou um comunicado para tentar esclarecer as divergências provocadas pela declaração de Bompard na última quarta-feira. Na nota, o grupo diz lamentar a confusão causada pela comunicação na França e afirma que reconhece a alta qualidade, atendimento às normas e sabor da carne brasileira.
“Nunca opomos a agricultura francesa à agricultura brasileira, pois os nossos dois países do coração têm em comum o amor à terra, a sua cultura e a boa alimentação”, diz o Carrefour.
Veja íntegra do comunicado:
“Nossa declaração de apoio ao mundo agrícola francês, feita na última quarta-feira em relação ao acordo de livre-comércio com o Mercosul, gerou divergências no Brasil que é nossa responsabilidade apaziguar. Nunca opomos a agricultura francesa à agricultura brasileira, pois os nossos dois países do coração têm em comum o amor à terra, a sua cultura e a boa alimentação.
Na França, o Carrefour é o principal parceiro da agricultura francesa. Compramos quase exclusivamente nossa carne francesa na França e continuaremos a fazê-lo. A decisão do Carrefour França não busca alterar as regras de um mercado francês já amplamente estruturado em torno de suas cadeias de abastecimento locais. Ela visa assegurar legitimamente os agricultores franceses, mergulhados em uma grave crise, a continuidade de nosso apoio e de nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, compramos quase toda a nossa carne brasileira no Brasil e continuaremos a fazê-lo. São os mesmos valores de enraizamento e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o mundo agrícola brasileiro, cujo profissionalismo e apego à terra e à pecuária conhecemos e reconhecemos diariamente. Lamentamos que nossa comunicação tenha sido entendida como uma contestação de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela.
Temos orgulho de sermos o principal parceiro e promotor histórico da agricultura brasileira. Conhecemos melhor do que ninguém os padrões que a carne brasileira atende, sua alta qualidade e sabor. Continuaremos a valorizar as cadeias agrícolas brasileiras, como temos feito no Brasil há quase 50 anos. Por meio de nosso desenvolvimento, contribuímos para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, numa lógica que sempre foi de parceria construtiva.
O grupo Carrefour está comprometido em trabalhar, tanto na França quanto no Brasil, em prol de uma agricultura sustentável e próspera, seguindo o norte de sua razão de ser: a transição alimentar para todos” (Estadão.com, 26/11/24)