Cartaz no Fórum Econômico Mundial diz que futuro é IA (inteligência artificial). Foto Denis Balibouse - 16.jan.2024-Reuters
Cartaz no Fórum Econômico Mundial diz que futuro é IA (inteligência artificial). Foto Denis Balibouse - 16.jan.2024-Reuters
CEOs reunidos no Fórum Econômico Mundial deste ano disseram que a tecnologia atual ainda tem muito a provar.
Faixas brilhantes anunciam a promessa da inteligência artificial ao longo do calçadão principal de Davos, mas os executivos reunidos no Fórum Econômico Mundial dizem que estão tendo dificuldades para descobrir como ter retorno com o investimento na tecnologia.
Vários presidentes-executivos de companhias reunidos no fórum deste ano disseram à Reuters que a tecnologia atual de inteligência artificial generativa ainda tem muito a provar.
O presidente da empresa de segurança de sistemas de computação em nuvem Cloudflare, Matthew Prince, disse à Reuters que os próximos meses podem até parecer uma "decepção de IA".
"Todo mundo pensa, sim, eu posso criar essas demonstrações legais, mas onde está o valor real?", disse ele, ecoando um tema entre os líderes empresariais presentes no evento em Davos.
O rápido crescimento do ChatGPT é, de certa forma, uma exceção. Nos dois primeiros meses desde seu lançamento em novembro de 2022, o chatbot atingiu cerca de 100 milhões de usuários, o que o torna um dos aplicativos de crescimento mais rápido da história.
O chatbot trouxe a chamada IA generativa para a ponta dos dedos dos consumidores, permitindo que as pessoas escrevam num campo de busca o que querem e obtenham um poema, uma redação escolar ou coletem informações sobre temas variados.
O produto também se mostrou um bom colaborador para o desenvolvimento de ideias em "casos de uso de baixo risco e não críticos para os negócios", disse Victor Riparbelli, presidente-executivo da startup de geração de vídeos por meio de IA Synthesia.
Mas "aplicações para empresas definitivamente não estão realmente prontas" para essa IA baseada em bate-papo, disse o executivo.
Um dos problemas citados por Riparbelli é que não há um caminho claro para acabar com as chamadas "alucinações", ou conteúdo com informações erradas gerado por IA.
Embora os cientistas da computação tenham desenvolvido métodos para restringir os locais de onde os chatbots podem extrair respostas, os líderes empresariais talvez não queiram correr esse risco.
Outras preocupações, disse Ana Paula Assis, presidente da IBM para Europa, Oriente Médio e África, são impedir que a IA do chatbot reproduza preconceitos humanos.
"Os clientes ainda estão muito preocupados com a forma de trazer essas soluções para dentro dos limites das regulamentações e da conformidade", disse ela.
O primeiro-ministro da China, Li Qiang, disse em Davos que a IA precisa servir ao bem comum, mas deve ser adequadamente governada, pois "apresenta riscos à segurança e à nossa ética" e o presidente chinês, Xi Jinping, quer que as Nações Unidas desempenhem um papel central nas discussões sobre IA, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, na quarta-feira (17).
Enquanto isso, cerca de 90% de uma amostra de 1.400 executivos de alto escalão disseram que esperam que a IA generativa dê um passo além da popularidade recente ou que estão fazendo apenas experimentos e pilotos limitados, segundo os resultados de pesquisa publicada pela consultoria BCG.
Mas grandes empresas de tecnologia, incluindo Microsoft, Alphabet e Amazon.com, seguiram em frente, cortejando milhares de empresas para que experimentem sistemas de IA mais recentes.
O presidente-executivo da Microsoft, Satya Nadella, disse em um evento da empresa em Davos na quarta-feira (17) que a IA está pronta para aumentar a produtividade e potencialmente acelerar a própria ciência.
No entanto, a receita e o lucro das empresas com os esforços recentes ainda não estão claros.
"SEJA REALISTA SOBRE IA"
Enquanto uma placa em Davos convidava pessoas a "caírem na real sobre IA", os esforços para encontrar um mercado para ela levaram os desenvolvedores a considerarem diversos lugares.
A Cohere, uma startup de IA de alto nível voltada para empresas, vê a ajuda aos vendedores como um caminho de receita.
"A ideia é que seja no lado das vendas e que torne as equipes de vendas mais produtivas", disse o presidente-executivo da Cohere, Aidan Gomez, à Reuters. A esperança seria "ajudá-los a fazer mais contatos, mais acompanhamentos e automatizar grande parte desse processo".
Por outro lado, a medicina é mais complicada. Embora acelerar a tomada de notas para os médicos seja uma tarefa digna da IA, automatizar a profissão médica não é, pois isso poderia arriscar vidas, disse Gomez.
"Devemos nos concentrar em ajudar os humanos, não em substituir os médicos e ter um médico chatbot", disse Gomez.
O presidente-executivo da Novartis, Vasant Narasimhan, disse que a farmacêutica trabalha com a Microsoft com o objetivo de implantar mais amplamente a IA para fornecer amostras à equipe que envia de 20 a 30 mil respostas a questionamentos de reguladores por ano. A "próxima oportunidade", disse ele no evento da Microsoft, seria a IA para o design de medicamentos.
Tejpreet Chopra, presidente-executivo do BLP Group, uma grande operadora de energia eólica e solar na Índia, disse à Reuters que a empresa está pronta para incorporar a tecnologia de bate-papo com IA, "mas apenas para uso interno, para escrever um bom inglês, não para conteúdo".
ELEIÇÕES
As eleições são uma área de alto risco para as empresas de IA, já que os eleitores de todo o mundo vão às urnas em 2024.
Com relação ao uso de IA em campanhas de desinformação, Gomez disse que as políticas da Cohere proíbem a personificação, enquanto Riparbelli disse que a Synthesia não permite que os clientes criem conteúdo político por meio de sua plataforma de vídeo de IA.
A OpenAI, que também proíbe a personificação abusiva por meio de sua tecnologia, disse na segunda-feira que está trabalhando com a Associação Nacional de Secretários de Estado dos EUA e começará a direcionar os usuários para o CanIVote.org para perguntas relacionadas às eleições.
Entender como o conteúdo é criado é uma preocupação fundamental entre as empresas e os autoridades de política monetária, disse Arati Prabhakar, diretor do Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia da Casa Branca.
"Se (as pessoas) virem um vídeo ou uma imagem, elas devem poder saber se foi gerado por IA ou por humanos", disse Prabhakar à Reuters.
Para Srini Pallia, executivo da empresa de consultoria e serviços de tecnologia Wipro, o burburinho sobre IA em Davos é alto e claro, preenchendo o vazio deixado pelas criptomoedas.
"É IA, IA e mais IA", disse Pallia (Reuters, 18/1/24)