Carvalhaes cita número não desprezível de cafezais atingidos por geadas
O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de café de Santos, citou em boletim semanal relatos “de um número não desprezível de cafezais atingidos” pelas geadas da semana passada em áreas produtoras do Brasil.
“Circularam muitas fotos e depoimentos pela internet, mas ainda não se tem um relatório confiável da extensão dos danos. É preciso aguardar o levantamento dos agrônomos para termos a extensão dos estragos nos cafezais pela massa de ar polar”, disse Carvalhaes, em boletim divulgado por email hoje (5).
A semana passada foi marcada pela passagem de uma forte massa de ar frio, de origem polar, trazendo um acentuado declínio da temperatura em grande parte do país. As geadas afetaram principalmente lavouras de milho e cana, segundo meteorologistas.
Nos canaviais, as perdas ainda estão sendo avaliadas, mas consultorias privadas já divulgaram números preliminares sobre problemas para o milho segunda safra, que já havia sido fortemente castigado pela seca.
As regiões de café no Brasil foram atingidas com mais força nas madrugadas da última terça, quarta e quinta-feira (1).
“A massa de ar polar trouxe temperaturas baixas e geadas pontuais, que queimaram folhas e ponteiros, em diversas áreas produtoras de café do Paraná, São Paulo e sul de Minas Gerais”, disse Carvalhaes.
Para a safra atual, que está sendo colhida, os efeitos das geadas são mínimos, mas há preocupações com a próxima temporada.
“Com certeza houve perdas para a safra 2022 nas propriedades atingidas. A passagem da massa de ar polar é mais um desgaste para os cafezais brasileiros, já debilitados pela seca do segundo semestre do ano passado e do primeiro semestre deste ano.”
Apesar da massa de ar polar, os contratos de café negociados na ICE Futures US, nos EUA, apresentaram uma semana de queda.
“Com Nova York trabalhando em queda no decorrer da semana, em plena passagem de uma forte frente fria sobre os cafezais do Paraná, São Paulo e sul de Minas, o mercado físico brasileiro permaneceu sem vendedores. Continuou o interesse comprador, mas o valor das ofertas recuou, afugentando os cafeicultores”, observou o relatório, destacando que o recuo na bolsa ICE reflete interesses de curto prazo de operadores e especuladores.
“Os fundamentos de alta do mercado continuam robustos, os mesmos que levaram à escalada dos preços nos últimos meses, e apontando para um ano-safra 2021/2022 com dificuldades para o abastecimento do mercado mundial de café”, acrescentou a corretora.
Os estoques brasileiros e mundiais de café são baixos, e apesar da pandemia de Covid-19, o consumo global cresceu 1,9% no ano safra 2020/2021, disse Carvalhaes (Reuters, 5/7/21)
Cafezais da Alta Mogiana e sudoeste de MG terão perdas com geadas
Legenda: Frio abaixo de 10 graus queima a gema floral, ainda não floriu, mas a gema floral já está formada (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)
Áreas produtoras de café arábica da Alta Mogiana e sudoeste de Minas Gerais sofreram com geadas e baixas temperaturas na semana passada, disseram nesta segunda-feira representantes de produtores nessas regiões, citando que o fenômeno climático resultará em perdas para a safra do próximo ano.
Em Ibiraci (MG), município que respondeu por cerca de 1% da produção brasileira de café em 2020, a geada atingiu mais de 10% das lavouras, deixando-as com folhas “queimadas”.
“A lavoura ficou preta. Pegou entre 1.500 e 2.000 hectares no município de Ibiraci. Mas o impacto para a próxima safra vai ser maior do que isso, vai abortar muita gema floral”, disse o presidente do Sindicato Rural de Ibiraci, Anivair Teles Rodrigues, à Reuters, por telefone.
Ele explicou que, além daquelas lavouras queimadas pelas geadas, outras que foram afetadas apenas pelas temperaturas baixas produzirão menos em 2022, uma vez que as floradas para os frutos do ano que vem serão prejudicadas.
“Frio abaixo de 10 graus queima a gema floral, ainda não floriu, mas a gema floral já está formada”, comentou.
Segundo ele, as produtividades ficarão entre 20% a 25% menores em 2022 ante o potencial, somente em função das geadas e do frio intenso. As áreas já produziriam menos devido à prolongada seca.
O técnico agrícola da Emater Juliano Diogo Pereira, que percorreu cafezais da região nos últimos dias, disse que os municípios vizinhos de Ibiraci, como Cássia e Claraval, não foram tão afetados, mas também sofreram.
Em Ibiraci, ele estimou que as geadas afetaram mais de mil hectares.
“Tivemos um estrago grande, área bem considerável, teve dano sim”, afirmou Pereira. “Mais ou menos 10% da área de café de Ibiraci foi afetada, mesmo aquele café que não teve danos aparente está abortando folhas, certamente vai comprometer a florada que está por vir”, comentou.
Os cafezais do município paulista de Franca, próximo de Ibiraci, também sofreram com as geadas, disse à Reuters o presidente do Sindicato Rural da cidade, José Henrique Mendonça, citando ainda o impacto das geadas em outras áreas de Minas Gerais.
“O café reage muito mal a qualquer temperatura abaixo de 10 graus. Na maioria dos municípios as temperaturas foram de 3 a 7 graus. O que acontece, estamos saindo de uma seca violentíssima, já afetou a safra 21, agora vem esse frio, e vai afetar a safra 22”, declarou Mendonça, que atua também como gestor em agronegócio e presta consultorias.
Segundo ele, a região da Alta Mogiana já contava com uma safra 25% menor em 2022, devido à seca. “Agora devemos passar dos 35% (de perda)”, afirmou ele, referindo-se à Franca.
Ele comentou que, mesmo quem tem café ainda amadurecendo para a safra deste ano, deverá sentir os efeitos negativos das geadas.
Em relatório, o Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de café de Santos, citou em boletim semanal relatos “de um número não desprezível de cafezais atingidos” pelas geadas da semana passada em áreas produtoras do Brasil.
Segundo Carvalhaes, é preciso aguardar o levantamento dos agrônomos para que se saiba a extensão dos estragos nos cafezais pela massa de ar polar.
A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, com atuação nas regiões do Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo (no Estado de São Paulo), informou por meio de sua assessoria de imprensa que os técnicos ainda estão fazendo levantamento do impacto das geadas (Reuters, 5/7/21)