Cenário de desafios para os produtores de açúcar da UE
Os países da União Europeia se prepararam para o fim das restrições às exportações de açúcar pelo bloco, a partir desta safra, o que deve lhes assegurar um espaço adicional no tabuleiro global do produto, com a possibilidade até de competir com o açúcar branco (refinado) do Brasil em alguns mercados. Mas esse espaço não está garantido por muito tempo, já que há mais mudanças previstas e outras incertezas, avalia o banco holandês Rabobank.
Meses antes do fim da restrição de uma década imposta pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em decorrência da prática de dumping pelo bloco no mercado mundial de açúcar, os agricultores europeus ampliaram a área de cultivo de beterraba (matéria-prima para a produção de açúcar na Europa). Também foram feitos investimentos nos portos de França, Bélgica, Holanda e Alemanha para garantir o escoamento do produto, segundo Ruud Schers, analista do Rabobank.
Como resultado, a UE deve exportar nesta safra (2017/18), iniciada em outubro, cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar, estima o Rabobank. O volume é mais que o dobro do permitido até a safra passada, quando a punição imposta pela OMC estava em vigor.
Segundo o banco, a produção na UE deve ir a 19 milhões de toneladas de açúcar na safra atual, 2 milhões de toneladas a mais do que no ciclo passado, e há capacidade para alcançar até 22 milhões de toneladas.
Mas essa possibilidade de crescimento pode ser limitada por mais uma mudança. A Comissão Europeia discute atualmente se proíbe o subsídio dado a países produtores de beterraba no leste e do sul do bloco. A decisão pode ser tomada no próximo ano e, se aprovada, entrará em vigor em 2020.
Se adotada, a medida pode desestimular o aumento da produção de açúcar no futuro, segundo o analista do Rabobank. Dessa forma, a tendência é de uma "racionalização" nas exportações, que cairiam abaixo do patamar atual. "Essa reforma gestada agora pode ser uma boa notícia para os produtores brasileiros", diz.
Até o momento, o fim das restrições à produção de açúcar pela UE deve prejudicar principalmente o Brasil, já que o país exporta açúcar bruto ao bloco. Conforme Schers, nas últimas semanas já houve uma redução da demanda do bloco por açúcar bruto ante safras anteriores.
Além disso, o açúcar refinado da UE irá prioritariamente para Oriente Médio e África, concorrendo com o açúcar branco de Brasil, Tailândia, Guatemala e Ucrânia. As duas regiões respondem por 80% das exportações brasileiras do açúcar branco (4 milhões de toneladas ao ano). Ainda que o grosso das exportações brasileiras seja de açúcar bruto, o país poderia se beneficiar de eventual redução das vendas externas de açúcar branco da UE, caso a medida em discussão entre vigor.
A medida também poderia intensificar a concentração da produção no oeste do bloco, que já tem 80% da produção da UE, observa o analista do Rabobank.
A própria dinâmica do mercado de açúcar pode limitar o crescimento da produção no bloco. Desde julho, o "prêmio" do açúcar branco caiu de um patamar de US$ 110 para US$ 60 a tonelada. Como as indústrias da UE, que produzem só açúcar branco, negociam agora diretamente com os agricultores, esse recuo pode ser repassado ao produtor. Isso pode levar os agricultores europeus a migrarem para outras culturas, que tenham preços mais atrativos (Assessoria de Comunicação, 17/11/17)