01/07/2019

Centro em Piracicaba desenvolve novas gerações de cana-de-açúcar

Centro em Piracicaba desenvolve novas gerações de cana-de-açúcar

Legenda: Lavoura de cana com variedades convencional e transgênica; as fitas vermelhas apontam incidência da broca

 Objetivo é resistir à praga que gera prejuízo de R$ 4 bilhões por safra.

Após ter desenvolvido variedades de cana-de-açúcar resistentes à broca, cujo açúcar foi aprovado por organismos internacionais como o FDA, dos EUA, o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) mira agora duas novas gerações da planta, uma delas com o objetivo de resistir a uma praga que gera prejuízos estimados em R$ 4 bilhões por safra ao setor sucroenergético.

O centro, com sede em Piracicaba (a 160 km de São Paulo), já teve, em 2017, aprovação para uso comercial da primeira cana geneticamente modificada no mundo, que tem como característica ser resistente à broca (Diatraea saccharalis). 

Ela é responsável por perdas que chegam a R$ 5 bilhões por safra ao setor sucroenergético, ao reduzir a produtividade agrícola e industrial e a qualidade do açúcar, além de gerar custos com inseticidas.

Essa cana é uma das variedades que integram a primeira geração, todas resistentes à praga. Agora, o CTC iniciou a segunda geração, que terá de 8 a 10 variedades de cana não só resistentes à broca (mariposa que se alimenta dos canaviais), mas também tolerantes a herbicidas.

E já projeta a terceira geração, ainda em fase preliminar, que tem como objetivo combater o besouro Sphenophorus levis, conhecido como bicudo, que causa danos na cana em desenvolvimento e reduz a vida útil dos canaviais.

“Ela gera R$ 4 bilhões de prejuízo por safra e, se perguntar a qualquer usina, ela dirá que tem mais medo dela que da broca. A broca é homeopática, enquanto o Sphenophorus é uma pancada gigantesca onde atinge. Ou seja, ao mesmo tempo desenvolvemos variedades para inserir genes cada vez mais resistentes a doenças, para que possamos inserir nas melhores variedades possíveis”, diz o presidente do CTC, Gustavo Leite.

Há uma série de variedades na mesma geração devido às condições de clima, solo e época de plantio da cana e propensão à colheita precoce, intermediária ou tardia. Elas buscam melhorar condições como resistência, maturação e teor de sacarose da planta.

Duas das variedades da primeira geração foram aprovadas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e há seis que foram transformadas —genes foram inseridos no DNA da planta— e estão em diferentes estágios. Uma já foi entregue à CNTBio e as outras devem ser enviadas entre dois e três anos.

São, segundo Leite, variedades próprias e de outros institutos, como Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético).

Já a segunda geração, tolerante à broca e a herbicidas, começou a ser desenvolvida no fim do ano e terá de 8 a 10 variedades. Elas estão em testes preliminares, ou seja, ainda não foram ao campo.
A terceira geração, por sua vez, depende de identificação de genes para combater o bicudo, a segunda principal praga da cana.

O CTC é uma empresa com foco em pesquisa, desenvolvimento e venda de variedades de cana, que neste ano completa 50 anos. Nascida como iniciativa da Copersucar, em 2004 passou a ser uma associação com participação dos principais grupos do setor sucroenergético e, em 2011, se transformou em empresa. Desde 2014, o BNDESPar (braço de participações do banco) é acionista.

O caminho para a aprovação dos produtos surgidos a partir da cana transgênica não é curto. 

Após as aprovações nos centros reguladores do Brasil, há órgãos internacionais que precisam aceitar, por exemplo, o açúcar fabricado a partir da cana geneticamente modificada. O Brasil exporta açúcar para cerca de 150 países.

 

A FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, concluiu em agosto do ano passado que o açúcar produzido a partir da cana brasileira geneticamente modificada é seguro para o consumo, assim como o obtido a partir de variedades convencionais.

Três meses antes, a Health Canada também já tinha aprovado o uso do açúcar oriundo da cana transgênica desenvolvida pelo CTC. Os dois mercados são vistos pelo setor sucroenergético como importantes devido à credibilidade científica de ambos.

O CTC não é, porém, o único a desenvolver cana geneticamente modificada no país. Em 2018, a Embrapa Agroenergia assinou contrato de parceria para produzir uma nova variedade transgênica de canaresistente à broca e ao glifosato, o herbicida mais usado no setor. A expectativa é que em até quatro anos a variedade esteja disponível para negociações (Folha de S.Paulo, 28/6/19)