Centro-Sul processa só em abril cerca de 10% de toda a cana de 2018/19
Ajudadas pelo tempo seco, as usinas e destilarias do Centro-Sul do Brasil processaram só em abril cerca de 10 por cento de toda a cana prevista para a safra 2018/19, sinalizando já no primeiro mês da temporada um potencial encerramento precoce do ciclo vigente.
Conforme a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), o processamento no mês passado foi de quase 60 milhões de toneladas, representando 10,3 por cento dos cerca de 580 milhões estimados para toda a safra. Só na segunda quinzena, foram 37,7 milhões, recorde para o período.
A título de comparação, a moagem em abril de 2017 respondeu por 7 por cento de tudo o que viria a ser processado em 2016/17.
"Estamos com um clima bem seco, o que pode prejudicar a produtividade agrícola nos próximos meses, mas também antecipar o término da safra. Se tivermos um inverno seco, é provável que terminemos mais cedo, sim", disse o analista de Açúcar e Etanol da INTL FCStone, João Paulo Botelho.
A colheita de cana no Centro-Sul ocorre, geralmente, de abril a novembro. Caso termine mais cedo, haveria a possibilidade de uma entressafra maior, com menor oferta de produtos e consequente impacto nos preços, em especial nos do etanol, acrescentou Botelho.
Na última semana, representantes de usinas nos arredores de Ribeirão Preto (SP), principal polo produtor do país, já haviam comentado que as atividades no campo estão aceleradas graças ao tempo seco. Nos últimos 30 dias, por exemplo, as chuvas por lá ficaram mais de 60 milímetros abaixo da média, segundo o Thomson Reuters Agriculture Weather Dashboard.
Sem chuvas, as colhedoras realizam o trabalho com mais facilidade. Ao contrário, quando há precipitações em excesso, o solo fica encharcado, e os equipamentos não conseguem entrar nos canaviais, pois podem atolar.
AÇÚCAR E ETANOL
A produção de açúcar e etanol em abril também cresceu consideravelmente, puxada pela maior moagem e por uma melhora na produtividade, tanto agrícola quanto industrial.
A fabricação do adoçante saltou 21,6 por cento, para 2,2 milhões de toneladas, ao passo que a de etanol subiu 67,7 por cento, para 2,7 bilhões de litros.
Segundo a Unica, porém, o mix segue bem alcooleiro, com usinas favorecendo o biocombustível em razão da melhor remuneração perante o açúcar, cujos preços na Bolsa de Nova York estão no menor patamar em anos.
As vendas totais de etanol pelas usinas do Centro-sul em abril, por exemplo, somaram 1,91 bilhão de litros, um crescimento de 10 por cento comparativamente ao mesmo período do ano anterior.
Da oferta total de matéria-prima em abril, 65,7 por cento foi para a produção de etanol. Como consequência, para cada tonelada de cana processada, foram fabricados apenas 37,4 quilos de açúcar, queda de 14,74 por cento na comparação anual.
"A partir de uma extrapolação simples desses valores, é possível concluir que uma eventual manutenção dessa redução... promoveria uma retração em torno de 5 milhões de toneladas na fabricação de açúcar ao final da safra 2018/19, apenas pelo efeito de alteração no mix de produção", disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em nota.
Por ora, a Unica não divulgou suas estimativas oficiais para a safra 2018/19 (Reuters, 10/5/18)