CEO da Raízen: ‘Se eu pudesse voltar atrás, teria comprado’
Por Pasquale Augusto
Imagem Facebook-Raízen
O CEO da Raízen (RAIZ4), Ricardo Mussa, afirmou que se arrepende de não ter acreditado no potencial do biocombustível produzido por meio do milho. As falas foram dadas durante evento do Bradesco BBI, que reúne autoridades e executivos do setor do agronegócio.
“Se eu pudesse voltar há uns 5 anos, teria comprado o pessoal do etanol de milho. Eu era super cético e tinha minhas dúvidas sobre o sucesso do etanol de milho no Brasil. Eu estava completamente errado, é uma indústria que caminha super bem”, disse.
Mussa ressalta que o mercado de etanol ainda é muito pulverizado, com a Raízen sendo a maior empresa dentro do setor com 15% de market share.
“O segundo maior player deve ter 5% de market share, então há espaço para crescer. No momento, não estamos olhando nenhum M&A, há 3 anos realizamos uma grande aquisição que foi a Biosev. Quando olhamos para nosso negócio, pensamos muito em escala, corte de custos e sinergias com outros parceiros para tornar nossa cadeia mais competitiva”.
RenovaBio e o mercado de carbono
O CEO da Raízen reforça que o mercado de carbono seria o principal fator de combate às mudanças climáticas.
“O mercado de carbono torna o combate ao aquecimento global mais simples, porque você faz investimentos onde faz mais sentido. No mercado de SAF, é um absurdo você ter que levar o SAF do Brasil até outro país. Deixa o avião abastecer aqui 100% com SAF. Há muita distorção no mundo hoje por não termos um mercado de carbono atuante, acaba ocorrendo muito desperdício”.
Mussa citou ainda o RenovaBio como um exemplo de uma política correta para um mercado de carbono, mas disse que a legislação está sob ataque.
“Há muitas empresas que estão sonegando, não recolhendo os CBIOs corretamente, grupos ligados ao PCC e crime organizado, o que detona nossa credibilidade. Fora isso, há coisas erradas. Hoje, a Raízen tem mais florestas sob gestão do que a Holanda, e não recebemos nada por isso. O mercado de carbono traria essa oportunidade”, completa.
O mercado de SAF para Raízen
A maior parte do SAF (combustível sustentável de aviação) produzido no mundo vem a partir dos óleos vegetais via Ácidos Graxos e Ésteres Hidroprocessados (HEFA, em inglês). Além dessa rota, há a produção via alcohol-to-jet (ATJ), com uso do etanol para produção do SAF.
Segundo Mussa, a Raízen olha muito para exportação neste mercado e acredita que o Brasil é o país certo para produção do SAF.
“Só tomamos a decisão de investir quando tínhamos um contrato do outro lado, e é difícil tomar uma decisão quando você tem uma aérea do outro lado, porque é um setor onde quebra muita empresa. No caso do ATJ, a cada 1,7 litro de etanol, você faz 1 litro de SAF. Com isso, produzir o SAF na origem do etanol faz muito mais sentido, porque você economiza na logística”.
O CEO cita Paulínia como um ótimo HUB para o SAF por ter bastante etanol e ser conectado ao Porto de Santos. Segundo ele, a Raízen olha para toda cadeia.
“Não temos a tecnologia do ATJ, somos provedores do etanol e buscamos o parceiro certo. Por outro lado, não há dúvidas de que o investimento tenha de ser feito no Brasil, e isso vai acontecer, desde que as políticas públicas como o Combustível do Futuro permita que aconteça” (Money Times, 11/9/24)