“Chanceler Araújo foi infeliz em comentários sobre soja”, diz líder rural
Galvan diz, no entanto, que mudanças no mercado, tanto internas como externas, são necessárias.
“Uma afirmação infeliz”. Essa a avaliação de Antônio Galvan, presidente da Aprosoja/MT (Associação dos Produtores de Soja e de Milho do Estado de Mato Grosso) sobre a frase do chanceler Ernesto Araújo, feita nesta segunda-feira (11) para alunos do Instituto Rio Branco.
Para Galvan, porém, o chanceler tem uma certa razão. O presidente da entidade crê que sejam necessárias mudanças de atitude do Brasil no comércio exterior.
A China leva matéria-prima e não compra farelo e óleo de soja.
“Vamos ter de agregar valor no produto. É preciso mudar.”
Apoiador do governo Jair Bolsonaro de primeira hora, o presidente da entidade diz que toda mudança gera desconforto, e o país precisa se acostumar com os novos rumos.
Para ele, Araújo se expressou mal e poderia ser menos agressivo. “O recado poderia ter sido dado de forma diferente”, acrescentou.
Assim como ele citou a soja e o minério, poderia ter dito carnes e milho.
“Por trás da mensagem, porém, há uma chamada para mudanças. E com isso eu concordo."
Galvan pode ser condescendente com o chanceler devido ao apoio que ele dá ao novo governo, mas a frase do ministro não deixa de ser inoportuna.
Soja e minério movimentam a balança comercial brasileira. Em 2018, os dois produtos trouxeram US$ 61 bilhões para dentro do país, 25% das exportações brasileiras.
A soja, de longe, é a líder da balança comercial, acumulando receitas externas de US$ 41 bilhões no ano passado.
Dificilmente Araújo terá poderes para brecar as exportações brasileiras desses produtos, mas o acúmulo de comentários e de intervenções desnecessárias no mercado poderá levar os compradores desses produtos para outros fornecedores.
Quando se pensa em soja e em minério, se pensa em China. No ano passado, os chineses compraram 69 milhões de toneladas da oleaginosa vendida pelo Brasil. As receitas vindas da China somaram US$ 28 bilhões. O país exportou 84 milhões de toneladas.
Em um momento de renegociações comerciais entre Estados Unidos e China, esta poderá pender mais para os americanos em um situação incerta no Brasil.
Além de líderes mundiais na produção de soja, os Estados Unidos têm quase 25 milhões de toneladas do produto em seus armazéns à espera de compradores.
Esse volume histórico, e que representa um quinto da produção atual dos EUA, só existe porque o presidente do país, Donald Trump, resolveu peitar o mercado. Pelo menos no que se refere aos assuntos do campo, perdeu (Folha de S.Paulo, 13/3/19)