06/02/2023

ChatGPT e a arte de fazer perguntas – Por Ronaldo Lemos

ChatGPT e a arte de fazer perguntas – Por Ronaldo Lemos

Logos do ChatGPT e da OpenAI - Dado Ruvic Reuters

 

Já surgem empresas especializadas em vender 'prompts' para inteligência artificial.

O nome é péssimo: ChatGPT. Apesar disso, o ChatGPT pegou. Em janeiro de 2023 essa inteligência artificial capaz de processar textos atingiu 100 milhões de usuários. Nada mal para uma ferramenta lançada oficialmente em 30 de novembro de 2022. É difícil pensar em outra plataforma na internet que tenha conseguido 100 milhões de usuários em pouco mais de um mês do lançamento.

Para quem ainda não está familiarizado, o ChatGPT é capaz de responder perguntas, conversar, contar estórias e piadas, organizar e resumir textos, escrever roteiros de vídeo, ensaios e assim por diante. Ele foi treinado com boa parte do conhecimento humano disponível online até 2021 e é capaz de falar fluentemente de futebol a temas técnicos ou acadêmicos.

Com tantas capacidades, a pergunta que tem sido feita por muita gente é: como usar o ChatGPT na prática? O ponto-chave para responder essa questão é o chamado "prompt", ou em outras palavras, a pergunta que é formulada para a plataforma. O ChatGPT é inerte até que o usuário entre algum texto, pergunta ou afirmação, para provocá-lo. A qualidade da resposta depende diretamente da qualidade da pergunta.

Perguntas óbvias vão gerar respostas óbvias. Tanto é assim que estão surgindo empresas especializadas em criar e vender "prompts" para plataformas de inteligência artificial como o ChatGPT. A consequência é que a arte de escrever "prompts" está se tornando uma nova forma de programação. Mais acessível a pessoas sem conhecimento técnico, é verdade, mas igualmente complexa se a ideia é gerar resultados também complexos na interação com uma inteligência artificial.

Uma das especulações é que o ChatGPT é uma ameaça ao trabalho acadêmico. Isso porque os alunos podem facilmente responder a provas e fazer trabalhos acadêmicos com o ChatGPT. Ele é a cola perfeita, o Santo Expedito dos preguiçosos. Como professor adotei uma postura inversa. Na minha aula no Schwarzman College o uso do ChatGPT é obrigatório. Todos os trabalhos DEVEM ser feitos por ele. No entanto, a nota vai ser dada pela qualidade dos "prompts" que os alunos fizeram para chegar no resultado. Em outras palavras, vou dar a nota pela qualidade das perguntas, e não da resposta.

A arte de fazer bom um prompt não é nada simples. Primeiramente vale lembrar que o ChatGPT funciona também para matemática e programação. Nesses campos sua utilidade é inegável. Por exemplo, um programador pode usar a plataforma para encontrar erros em um código, ou pedir para a plataforma reescrever o código de forma mais curta. Já no campo das humanidades uma dica é escrever prompts mais complexos, utilizando parâmetros. Por exemplo, em vez de fazer uma pergunta simples, fazer uma qualificada da seguinte forma: "Tópico: Política externa brasileira; Contexto: Trabalho acadêmico; Demanda: Escrever a estrutura do trabalho; Linguagem: Acadêmica; Tom: Formal".

Dá para brincar com os parâmetros e obter resultados totalmente diferentes. Por exemplo, escrevi o seguinte prompt: "Tópico: Política externa brasileira; Contexto: Programa de TV; Demanda: Escrever uma piada; Linguagem: Informal; Tom: Comédia". O resultado foi: "Por que a política externa brasileira sempre se parece com um jogo de xadrez? Porque sempre tem algum país jogando com o Brasil como peão". Durma com essa.

Já era – Usar só o Google para busca

Já é – usar o ChatGPT para busca

Já vem – usar o TikTok para busca (Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro; Folha de S.Paulo, 6/2/23)