China aumenta consumo de café e chega a ser o 9º maior comprador do Brasil
Barista prepara cappuccino na cidade de Changsha, na China; mercado de café tem crescido exponencialmente no país. Foto Chen Sihan-Xinhua
Por David Lucena
Ingestão da bebida mais que decuplicou nos últimos 20 anos, mas ainda é muito menor do que EUA e Europa.
País conhecido pelo alto consumo de chá, a China tem aumentado consideravelmente a ingestão de café. Com isso, tem elevado suas compras internacionais –inclusive do Brasil, maior produtor mundial–, e empresas fazem investimentos cada vez maiores na região.
A nação asiática mais que decuplicou seu consumo nos últimos 20 anos, segundo dados fornecidos ao Café na Prensa pela Organização Internacional do Café.
Em 2002, a China consumiu 231 mil sacas de 60 kg de café. Em 2022, este valor passou para 2,8 milhões.
Os valores ainda são pequenos se comparados com mercados como Estados Unidos (27,7 milhões), maior consumidor mundial, e Alemanha (9,1 milhões), maior comprador da Europa.
O ritmo acelerado do crescimento chinês, contudo, pode indicar uma importante mudança de comportamento, com novas gerações descobrindo o café no país que outrora praticamente só bebia chá.
Uma pesquisa elaborada pela consultoria Frost & Sullivan em 2020 mostra que há 330 milhões de consumidores de café na China, o que representa um aumento significativo em relação aos cerca de 190 milhões que eram registrados em 2013.
Ainda conforme o estudo, os chineses mais interessados em café são majoritariamente jovens de 20 a 34 anos.
Estimativas do setor apontam que, se a alta mantiver ritmo semelhante, a China pode se tornar o maior consumidor mundial de café até 2040, superando mercados gigantescos, como Brasil e Estados Unidos.
Com isso, empresas e entidades do setor têm investido fortemente na região.
O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) tem desenvolvido ações no sentido de divulgar os produtores brasileiros junto a agentes chineses. Entre elas está o Mês do Café Brasileiro, campanha feita em parceria com a Embaixada do Brasil em Pequim e a rede de cafeterias Mellower Coffee.
As iniciativas têm dado certo, e os embarques de grãos brasileiros para o país têm registrado altas expressivas.
Outrora um parceiro irrelevante, a China agora entrou de vez no radar dos exportadores. De janeiro a agosto deste ano, o país adquiriu 602 mil sacas e se tornou o nono maior comprador dos cafés do Brasil.
"Em 2001, as exportações brasileiras do produto somavam apenas 1.920 sacas para essa potência asiática, realizadas por somente duas empresas. Já em 2022, por meio de 35 exportadores, esse volume totalizou 414.842 sacas, apresentando substancial crescimento de 21.506% em pouco mais de 20 anos", diz Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé.
A tendência tem chamado atenção das multinacionais do setor, que correm para aumentar a presença no mercado chinês.
Em setembro, a Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, inaugurou um centro de inovações em Kunshan, cidade que fica a uma hora de Xangai, de US$ 220 milhões (mais de R$ 1 bilhão), no que já é o maior investimento feito pela companhia fora dos Estados Unidos.
Na ocasião da inauguração, o CEO da Starbucks, Laxman Narasimhan, disse que a China é o maior mercado internacional da empresa e o que cresce em ritmo mais acelerado.
A Nestlé, dona da Nescafé, já faz aportes significativos no país desde o fim dos anos 1990, com novas unidades fabris inauguradas nos últimos dez anos.
A Luckin Coffee, espécie de Starbucks chinesa, vive uma expansão extremamente acelerada. Fundada há apenas seis anos, a rede de cafeterias ultrapassou em junho de 2023 a marca de 10 mil lojas.
A empresa diz servir grãos da espécie arábica provenientes de países como Etiópia, Brasil, Colômbia e Guatemala.
Veja abaixo a evolução do consumo de café na China, segundo dados fornecidos ao Café na Prensa pela Organização Internacional do Café:
AUMENTO DO CONSUMO DE CAFÉ NA CHINA:
Ano |
Consumo (mil sacas) |
||
2000 |
145 |
||
2001 |
190 |
||
2002 |
231 |
||
2003 |
251 |
||
2004 |
278 |
||
2005 |
340 |
||
2006 |
364 |
||
2007 |
392 |
||
2008 |
415 |
||
2009 |
534 |
||
2010 |
750 |
||
2011 |
845 |
||
2012 |
1.146 |
||
2013 |
1.157 |
||
2014 |
1.229 |
||
2015 |
1.702 |
||
2016 |
1.809 |
||
2017 |
1.590 |
||
2018 |
1.445 |
||
2019 |
1.561 |
||
2020 |
2.503 |
||
2021 |
2.684 |
Acompanhe o Café na Prensa também pelo Instagram @davidmclucena e pelo Twitter @davidlucena (Folha, 5/10/23)
Café: Exportação mundial em agosto aumenta 2%, para 10,30 mi de sacas