24/06/2020

China: Compradores de soja pedem garantias de cargas livres de vírus

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Compradores chineses de soja estão pedindo a exportadores que assinem cartas garantindo que seus carregamentos não estão contaminados pelo coronavírus, disseram nesta terça-feira membros da indústria nos Estados Unidos e no Brasil.

O movimento vem à medida que a China tenta prevenir quaisquer riscos de novas infecções por Covid-19 por produtos importados. O país tem tomado medidas agressivas para conter um recente salto nas infecções, associado a um grande mercado de alimentos em Pequim.

Dois operadores ouvidos pela Reuters disseram que suas empresas não responderam ao pedido e estão procurando autoridades agrícolas federais ou grupos mais amplos do setor, como a Associação Norte Americana de Exportações de Grãos e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), para uma resposta unificada.

O Departamento de Agricultura dos EUA e o Ministério da Agricultura do Brasil não responderam de imediato a pedidos por comentários.

Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec, disse que o grupo está estudando sua resposta. A contaminação é virtualmente impossível, uma vez que o processo de carregamento dos navios é quase que totalmente automatizado, segundo ele.

“Nós estaríamos garantindo o inimaginável”, disse Mendes.

Na semana passada, a Administração Geral de Alfândegas pediu a fornecedores de carnes e frutas do exterior que assinassem declarações garantindo a segurança de seus embarques à China.

Os esforços para assegurar que os carregamentos de soja estão livres do coronavírus, no entanto, têm sido conduzidos por autoridades alfandegárias locais, não por Pequim, disse o diretor de China do conselho norte-americano de exportadores, Zhang Xiaoping.

Agências locais pediram para os importadores chineses que garantam a segurança dos embarques, e os importadores têm buscado esse comprometimento de seus exportadores de soja nos últimos dias, disse ele.

“Parece algo pronto para falsos positivos”, afirmou um operador de exportações de soja dos EUA, que pediu para não ser identificado para que pudesse falar francamente.

“Como no mundo você argumenta que verificou a carga como livre de coronavírus? Nós não respondemos a isso.”

Os trabalhadores portuários que descarregam os produtos representam um risco maior de contaminação do que os próprios grãos, já que os carregamentos passam pelo menos três semanas no mar, tempo que supera o que o vírus pode sobreviver sem um hospedeiro, disse Charles Hurburgh, especialista em qualidade de grãos da Universidade Estadual de Iowa e professor de Engenharia Agrícola.

“Ninguém vai dar garantia para esse risco, tenho certeza”, afirmou.

A China é a principal importadora global de soja e deve comprar neste ano-safra 2019/20 cerca de 94 milhões de toneladas, principalmente do Brasil e dos Estados Unidos. A soja importada é esmagada para produzir farelo de soja para ração animal.

Não estava claro quantos exportadores já assinaram tais cartas, segundo Xiaoping.

Um operador com base na China, que atua em uma empresa internacional do setor, disse que a companhia recebeu diversas cartas de unidades de processamento chinesas em busca de garantias de que as cargas estão livres de coronavírus.

Essa trading ainda não assinou nenhuma carta, já que está em busca de orientações das autoridades de seu país-sede, acrescentou.

As multinacionais Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus não responderam de imediato a pedidos por comentários.

A maior parte das autoridades internacionais diz que não há evidência de que o coronavírus possa ser transmitido para as pessoas por meio de alimentos (Reuters, 23/6/20)