Cigarrinha-do-milho eleva gasto com inseticida
Nem todos os produtores brasileiros de milho conseguiram se apropriar do aumento de margens provocado pela guinada dos preços do primeiro trimestre deste ano. Afora questões ligadas ao período de comercialização da colheita, em muitos polos da região Centro-Sul onde o cereal foi semeado na safra de verão desta temporada 2017/18 o aumento da incidência de cigarrinha-do-milho nas lavouras, em razão do calor, elevou os gastos com inseticidas e limitou ganhos adicionais.
Estudo elaborado pela Kleffmann indica que, no total, os gastos com agroquímicos para o controle da praga (Dalbulus maidis) cresceram 85% em relação à primeira safra do ciclo passado. Esse crescimento impulsionou a comercialização de agrotóxicos para combate a insetos sugadores – caso da cigarrinha – de US$ 9,2 milhões, no verão de 2016/17, para US$ 17,1 milhões em 2017/18. Na comparação, a área tratada com inseticidas para o combate da cigarrinha cresceu de 937 mil hectares para 1,84 milhão de hectares.
Em 2016, a venda total de inseticidas foliares no país somou US$ 2,3 bilhões. O resultado de 2017 ainda não foi divulgado.
Daniel Holzhausen, gerente de produto Agricultural Marketing Information System (AMIS) da América Latina da Kleffmann, observa que a cigarrinha, em si, não é um grande problema para o agricultor. O problema é o que ela gera. "A cigarrinha é vetor de uma bactéria que causa os enfezamentos [doença que prejudica o desenvolvimento das espigas]". Atualmente, não há nenhuma semente que ofereça resistência à doença. "Vemos até alguma tolerância, mas as lavouras continuam adoecendo".
Os enfezamentos costumam causar danos expressivos, especialmente nas regiões quentes do país. Podem reduzir em 70% a produção de grãos na comparação com uma planta sadia. Em surtos epidêmicos, as perdas podem superar esse percentual.
O vírus da risca do milho também é transmitido pela cigarrinha. A doença causa uma infecção precoce e pode provocar redução de crescimento e aborto das gemas florais. A virose pode reduzir em até 30% da produção e, em geral, ocorre simultaneamente ao enfezamento, por ser provocada pelo mesmo vetor.
Na safra de verão de 2017/18, a cigarrinha teve maior incidência no Sudeste, a segunda maior produtora de milho de primeira safra do país. "Houve muito agricultor que desistiu de plantar na safra de verão porque a cigarrinha já havia pesado no bolso no ciclo passado", afirmou Marcelo Nunes gestor comercial da Coagril, cooperativa com sede em Unaí (MG) que faturou R$ 650 milhões em 2017.
Na safra de verão de 2016/17, os associados da cooperativa plantaram 70 mil hectares, área que caiu para 20 mil hectares em 2017/18, também por causa de fatores climáticos " Neste ano, a chuva foi mais tardia", afirmou Nunes.
No ano passado, as cigarrinhas, que se tornam um problema mais grave com temperaturas elevadas, provocaram enfezamentos no oeste da Bahia, no sudoeste de Goiás, no Triângulo Mineiro e no noroeste de Minas Gerais. "Já tivemos anos em que o enfezamento provocou problemas de produtividade", disse Simone Brand, pesquisadora do Centro Tecnológico da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo).
Segundo ela, na área da Comigo os problemas foram menores este ano porque o pico populacional do inseto ocorre em janeiro, e a semeadura atrasou diante das chuvas mais tardias. "O que acontece são infecções em estágios mais avançados das plantas. É menos danoso", afirmou.
O aumento do uso de inseticidas deverá dar o tom também na safrinha deste ciclo 2017/18, já que o impacto causado nas lavouras é muito prejudicial à produtividade dos híbridos de milho, disse Holzhausen, da Kleffmann. Na safrinha de milho de 2015/16, foram tratados 673 mil hectares com agroquímico eficazes contra insetos sugadores, área que aumentou para 4,081 milhões de hectares em 2016/17. Na mesma comparação, as vendas desses produtos aumentaram de US$ 5,9 milhões para US$ 36,1 milhões.
Com tudo isso, o mercado de inseticidas para combate a sugadores na safra de verão 2017/18 foi o único a crescer na área de defensivos. "O clima mais seco contribuiu para o aumento da pressão da praga nesta safra", reforçou Holzhausen (Assessoria de Comunicação, 3/5/18)