Clima e incêndios afetaram PIB do agronegócio, aponta economista
Fogo consumiu lavouras em Sertãozinho. Foto Reprodução - Redes Sociais
Segundo dados do IBGE, houve queda de 14,9% na estimativa de produção anual da laranja — Foto: Jaelson Lucas/AEN
As intempéries e os incêndios que atingiram muitas lavouras, derrubaram a produtividade de lavouras e causaram queda no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no terceiro trimestre. A avaliação é do Sergio Vale, consultor econômico da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e diretor da MB Associados.
De acordo com dados divulgados nesta terça-feira (3/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB da agropecuária teve queda de 0,9% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre do ano. O PIB nacional teve aumento de 0,9% no período, na série com ajuste sazonal. Do lado da produção, serviços e indústria cresceram 0,9% e 0,6%, respectivamente. Apenas a agropecuária teve retração.
“O recuo do PIB do agronegócio no período pode ser atribuído à perda de produtividade de culturas importantes, como a laranja, o milho e a cana-de-açúcar, o que era esperado em função das intempéries e dos incêndios que atingiram muitas lavouras recentemente”, afirmou Vale.
O economista ponderou que, no último verão, o tempo seco e quente, e as chuvas irregulares e abaixo da média histórica em regiões produtoras prejudicaram o desenvolvimento dessas culturas.
Segundo dados do IBGE, houve queda de 14,9% na estimativa de produção anual da laranja, queda de 1,2% para a cana-de-açúcar e de 11,9% para o milho.
Outras culturas tiveram crescimento, mas insuficiente para anular o efeito negativo das três commodities. O IBGE destacou o crescimento de 14,5% do algodão, de 5,3% do trigo e de 0,3% do café.
De acordo com a Organização de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), os incêndios que atingiram lavouras de cana-de-açúcar no Sudeste e no Centro-Oeste queimaram 414 mil hectares de área, causando um prejuízo de R$ 2,67 bilhões aos produtores de cana.
Além disso, a forte estiagem que atingiu o Centro-Sul do país criou condições para o aumento da incidência de pragas nas lavouras, reduzindo as projeções de produção na safra atual (2024/25) e na safra 2025/26. A Orplana projeta quebra de pelo menos 9% na safra 2024/25, para 590 milhões de toneladas, e quebra de 1,36% na safra 2025/26, para 582 milhões de toneladas.
A safra 2023/24 de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais alcançou produção de 307,2 milhões de caixas de laranja, com queda de 2,2% em relação à temporada anterior, e com previsão de produção de 215,8 milhões de caixas no ciclo 2024/25, de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). De acordo com a entidade, além das perdas dos pomares por causa do greening, a produção foi afetada pelas temperaturas mais altas e chuvas abaixo do esperado, que afetaram o tamanho das frutas.
No caso do café, a forte estiagem que atingiu a região Centro-Sul afetou a produtividade da cultura. Em São Paulo, produtores foram afetados ainda pelos incêndios, que devem trazer impacto na produção de café até 2027. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima colheita da safra 2024/25 em 66,4 milhões de sacas, redução de 3,5 milhões em relação à estimativa anterior.
O crescimento do PIB nacional no terceiro trimestre de 2024, 0,9% em relação ao trimestre anterior, confirma que a atividade econômica do país ainda continua boa, principalmente no setor de serviços e no segmento industrial, basicamente a indústria de transformação. A MB Associados projetava alta de 0,8% (Globo Rural, 3/12/24)