Clima extremo na América Latina abre ciclo vicioso e mais riscos climáticos
Incêndios em 2022 levaram a nível mais alto em 20 anos de emissões de carbono na região.
O clima extremo está causando devastação em toda a América Latina, acumulando bilhões em danos e desencadeando um ciclo vicioso que leva a uma maior demanda por combustíveis fósseis e mais mudanças climáticas, disse nesta quarta-feira (5) a OMM (Organização Meteorológica Mundial), que faz parte da ONU.
As temperaturas subiram em média 0,2°C por década nos últimos 30 anos —a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.
À medida que as temperaturas sobem, os eventos climáticos extremos tornam-se mais comuns, com consequências muitas vezes inesperadas que agravam a mudança climática, disse o relatório.
"A seca prolongada levou à queda da geração hidrelétrica em grande parte da América do Sul, provocando um aumento da demanda por combustíveis fósseis numa região com grande potencial de energias renováveis", explica o relatório.
Os incêndios florestais em faixas da América Latina em 2022, alimentados por solos secos e calor extremo, levaram as emissões de dióxido de carbono a atingirem seu nível mais alto em 20 anos, elevando as temperaturas e intensificando o risco de desastres, observou o relatório.
"Muitos dos eventos extremos foram influenciados pela La Niña de longa duração, mas também traziam a marca da mudança climática induzida pelo homem", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
"O recém-chegado El Niño vai aumentar o calor e trazer um clima mais extremo."
A seca e as tempestades representaram a maior parte dos US$ 9 bilhões em danos econômicos relatados em 2022 ao Banco de Dados de Eventos de Emergência (EM-DAT) do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED, na sigla em inglês).
O relatório da Organização Meteorológica Mundial vem em meio à Convenção sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em Havana e organizada pelo grupo G77 de países em desenvolvimento, que inclui a China.
O documento também foi divulgado enquanto o mundo registra dois recordes consecutivos na média global de calor.
Nesta terça-feira (4), foi registrada a média de 17,18°C no planeta, um novo recorde. Na segunda-feira (3), a média de temperatura global tinha alcançado 17,01°C, superando o maior índice registrado pelos cientistas até então, de 16,92°C, em 2016, e que se repetiu em 2022.
A ministra do Meio Ambiente de Cuba, Elba Rosa Perez, disse durante a sessão inaugural da convenção, nesta terça-feira (4), que a situação levou muitos países em desenvolvimento ao limite.
"Estamos enfrentando impactos cada vez mais fortes da mudança climática, mas as decisões adotadas nas negociações climáticas para a implementação do Acordo de Paris não avançam no mesmo ritmo", disse ela.
O Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu uma meta de manter o aquecimento abaixo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, mas os cientistas e ativistas alertam que há necessidade de mais ações para evitar os piores impactos da mudança climática (Folha, 6/7/23)
unnamedMapa global indica as temperaturas em 4 de julho de 2023, quando novo recorde de calor foi registrado no planeta - NCEP Climate Change Institute University of Maine