CNA:Investigação contra varejistas que pediram boicote a produtos do Brasil

Imagem: Autor Carol Galand – Site boycottcitoyen.wordpress.com
Entidade apresentou petição à Comissão Europeia, o braço executivo da UE, nesta terça-feira (27/5).
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) quer que a Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, investigue os supermercados franceses que deram declarações contra a carne brasileira e pediram boicote aos produtos brasileiros e dos países do Mercosul em novembro de 2024. A CNA apresentou uma petição ao órgão europeu, em Bruxelas, nesta terça-feira (27/5).
A entidade alega que, com as "declarações infundadas", Carrefour, Les Mousquetaires, E. Leclerc e Coopérative U infringiram regras concorrenciais do bloco europeu e colocaram em risco a reputação dos produtos brasileiros e do Mercosul. As quatro redes controlam 75% do mercado varejista da França.
No documento, a CNA diz que os supermercados franceses fizeram anúncios coordenados para atacar os produtos do Brasil e do Mercosul. Com isso, as empresas teriam levantado “preocupações infundadas sobre a qualidade e a segurança da carne brasileira, mesmo que toda carne importada pela UE cumpra integralmente os padrões europeus de segurança alimentar”.
“Os varejistas declararam explicitamente que boicotariam a carne proveniente dos países do Mercosul, o que representa risco ao acesso dos fornecedores de carne do Brasil e de outros países do bloco ao mercado da União Europeia”, diz a CNA.
Na petição, a entidade solicita à Comissão Europeia a abertura de uma “investigação formal” sobre as práticas dos grupos de varejo da França. A CNA pediu ainda retratações pelas alegações depreciativas contra os produtos do Mercosul, a imposição de uma multa aos grupos proporcional às infrações e também o fim de boicotes.
O documento reúne declarações públicas de lideranças dos supermercados franceses, nas quais os executivos pediram engajamento no boicote de toda a cadeia agroalimentar, e não apenas das varejistas.
"Preocupações legítimas"
“A CNA tem preocupações legítimas de que essas ações coordenadas dos varejistas franceses para exclusão dos fornecedores do Brasil e do Mercosul violem as regras de concorrência da União Europeia”, diz o documento.
Para a entidade, a atuação dos varejistas franceses interferiu, inclusive, na negociação do acordo Mercosul-União Europeia, que havia ganhado tração naquela época, além de ter minado o papel da Comissão Europeia na articulação com o bloco da América do Sul.
“A CNA conclama a Comissão Europeia a investigar a conduta dos varejistas franceses e assegurar que suas ações não comprometam os esforços conjuntos da União Europeia e dos países do Mercosul para a criação de um mercado mais aberto e competitivo”, diz a petição.
A origem da polêmica
A polêmica que envolve os grupos varejistas franceses começou com declarações do presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, em uma rede social. O executivo escreveu que a rede deixaria de vender carne importada do Mercosul e colocou em dúvida a sanidade e a qualidade do produto. Outros supermercados foram na mesma linha nos dias seguintes.
As manifestações geraram forte repercussão do setor produtivo brasileiro e do governo e desencadearam uma crise diplomática. Frigoríficos interromperam temporariamente o fornecimento de carnes ao Carrefour no Brasil, além de lojas do Atacadão e do Sam’s Club, que pertencem ao grupo no país.
A pressão surtiu efeito. O embaixador francês em Brasília, Emmanuel Lenain, reuniu-se com representantes do Ministério da Agricultura para intermediar um pedido de desculpas. No dia seguinte (26/11), o Carrefour encaminhou uma carta ao ministro Carlos Fávaro com a retratação.
Procurado pelo Valor, o Carrefour disse que não comentaria o caso (Globo Rural, 27/5/25)