CNC: Balanço Semanal de 25 a 29/3/2019
OIC apresenta guia para promover consumo nos países produtores
Iniciativa foi orientada pelo Brasil, que entende que aumentar o consumo é fundamental para o equilíbrio entre oferta e demanda.
O Conselho Nacional do Café (CNC) integrou a delegação brasileira que participou da 124ª Sessão do Conselho Internacional e das demais reuniões da Organização Internacional do Café (OIC), esta semana, em Nairóbi, no Quênia. A pauta central das discussões foi a crise de baixos preços que assola a cafeicultura mundial.
Segundo o presidente do CNC, Silas Brasileiro, um grande avanço foi o despertar da consciência das delegações dos países produtores sobre a fundamental importância do aumento do consumo doméstico para que seja alcançado o equilíbrio entre oferta e demanda, única forma de garantir preços remuneradores aos cafeicultores.
“Há anos, defendemos a implantação deste projeto no âmbito da OIC e, finalmente, constatamos sucesso em nosso pleito, com muitos países produtores adotando o Brasil como referência para seus projetos de ampliação do consumo doméstico de café”, destaca.
Nesse sentido, o foco da reunião do Comitê de Promoção e Desenvolvimento de Mercado foi a apresentação das lições e recomendações do Guia Detalhado da Organização para Promoção do Consumo de Café nos Países Produtores e discussões visando ao seu aprimoramento.
A implantação da Resolução 465, que trata dos baixos preços do café, foi outro destaque nas reuniões, e o diretor executivo da OIC, José Sette, apresentou os avanços alcançados até o momento, apesar das limitações orçamentárias.
“Destaca-se a ampla mobilização realizada nos últimos meses junto a universidades e centros de pesquisas, outros organismos internacionais (Nações Unidas, FAO, União Europeia) e torrefadores, que se mostrou positiva para o estabelecimento de parcerias visando ao desenvolvimento de estudos, melhoria das estatísticas e da transparência ao longo da cadeia café, além da captação de recursos para apoiar os pequenos cafeicultores ao redor do planeta”, comenta Brasileiro.
O presidente do CNC anota, ainda, que a indústria torrefadora internacional sinalizou que reconhece a OIC como o fórum legítimo para o estabelecimento do diálogo e busca de soluções para as dificuldades enfrentadas pelas regiões produtoras de café.
“Como consequência dessa aproximação realizada pelo diretor José Sette, será realizado, em setembro, o Fórum de CEOs, evento que dará andamento às parcerias com o setor privado visando à sustentabilidade econômica da cafeicultura mundial”, conclui.
BOLSA DE NOVA YORK
Com o objetivo de conferir base técnica às recentes discussões envolvendo a Bolsa de Nova York, os economistas da OIC elaboraram o estudo “O papel dos traders não comerciais nos mercados futuros”, o qual não encontrou relação causal consistente entre a especulação financeira e a recente retração dos preços do café, permitindo concluir a existência de outros fatores determinantes, entre eles o desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
”A análise aponta que o efeito da atividade especulativa é de curta duração e em dois sentidos: pode ser positivo ou negativo para produtores e indústria, à medida que os preços subam ou desçam”, explica o presidente do CNC.
O professor Jeffrey Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Instituto de la Tierra da Universidade de Columbia, em sua apresentação, também confirmou que a causa da crise de preços é o desequilíbrio entre oferta e demanda e que eventuais alterações contratuais ou de comercialização não são a solução para o problema.
A delegação da Colômbia esclareceu, também, que não existe o intuito de abandonar o Contrato “C”, mas, sim, fomentar a discussão sobre formas alternativas de precificação do café, devido à grande insatisfação com o nível de preços, que inviabiliza a cafeicultura local, também expressa na declaração de Nairóbi, divulgada pelas entidades coordenadoras do Fórum Mundial de Produtores de Café, em reunião paralela e independente da OIC.
Por fim, outro assunto relevante foi a indicação, pela delegação brasileira, do Embaixador Hermano Telles Ribeiro, Representante Permanente do Brasil junto aos Organismos Internacionais sediados em Londres, para presidir o grupo de trabalho que proporá, para aprovação do Conselho Internacional do Café após o vencimento do AIC 2007, que ocorrerá em 2 de fevereiro de 2021, uma das medidas: (a) manutenção do atual acordo; (b) revisão com emendas; e (c) extinção com a proposta de um novo acordo.
Países produtores solicitam apoio para solucionar crise de preço
Em comunicado, nações pedem atuação rápida e responsável na solução do problema, que está devastando comunidades inteiras de produtores.
Na terça-feira, 26 de março, o Grupo de Coordenação do Fórum Mundial de Produtores de Café emitiu um comunicado solicitando, com urgência, a todos os atores da cadeia produtiva, que atuem de forma rápida e responsável na solução da atual crise internacional de preços, a qual está devastando comunidades inteiras de produtores em todo o planeta. O Conselho Nacional do Café (CNC) é signatário do documento, que traduzimos abaixo.
DECLARÇÃO DO GRUPO DE COORDENAÇÃO DO FÓRUM MUNDIAL DE PRODUTORES DE CAFÉ
NAIRÓBI, QUÊNIA
26 DE MARÇO DE 2019
Nairóbi, 26 de março de 2019 - A atual crise social e econômica criada pelos preços internacionais do café extremamente baixos chegou a um ponto em que a cadeia de valor do café, como um todo, não pode seguir falando a respeito sem tomar medidas sérias e imediatas.
De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), aproximadamente 25 milhões de famílias, em sua maioria pequenos produtores, produzem café no mundo. Atualmente, a maioria deles sequer pode cobrir os custos de produção e muitos desses produtores nem sequer podem ganhar a vida para eles e suas famílias.
O mundo consome 1,4 bilhão de xícaras de café ao dia (*) e os consumidores pagam preços muito altos por elas (US$ 3,12 nos Estados Unidos, US$ 4,60 em Shanghai e US$ 6,24 em Copenhague, em 2018**). Em muitos casos, chega-se a esses preços com a promessa de que o café é sustentável. No entanto, a promessa de sustentabilidade geralmente se concentra apenas em dois de seus três aspectos: ambiental e social. A sustentabilidade econômica, a renda dos cafeicultores de fato, tem sido negligenciada pela cadeia de valor do café sob a premissa de que "o mercado é o mercado" e devemos deixá-lo governar.
O atual Contrato "C" foi criado como referência de preço para uma cesta de cafés arábicas suaves, de qualidade similar, conhecidos como "Centrais". Hoje, com várias mudanças introduzidas ao longo do tempo, é amplamente reconhecido que o preço baseado no contrato futuro "C" não cobre os custos de produção para a maioria dos produtores devido a vários fatores, incluindo a especulação dos fundos, que não compreendem ou não se importam com o café.
Em 1982, o preço do café flutuou entre US$ 1,18 e US$ 1,41 no mercado internacional e uma xícara de café ficou em US$ 1,10 nos Estados Unidos; em 2018, o preço médio de um quilo de café arábica no mercado internacional foi de US$ 1,01. Em 22 de março de 2019, o preço ficou abaixo de US$ 0,95. Os produtores de café têm perdido mais de 80% de sua capacidade de compra nas últimas décadas.
O atual processo de empobrecimento dos produtores de café está destruindo o tecido social nas áreas rurais de mais de 40 países na África, Ásia e América Latina, o que leva a um aumento da criminalidade nas nações produtoras, a uma maior pobreza nas cidades e a migrações em massa para Estados Unidos e Europa. Em alguns países, a crise atual se tornou incentivo para os produtores mudarem para cultivos ilegais porque não podem viver apenas do café.
A qualidade e a disponibilidade também estão ameaçadas. Os produtores que permanecem na cafeicultura não poderão pagar pelo cuidado adequado de suas lavouras e seu café, o que leva à fertilização e a cuidados inadequados nas plantas, afeta a qualidade e priva os consumidores da diversidade que eles desfrutam hoje em dia. A adaptação e a mitigação dos efeitos da mudança climática são outros encargos que recaem sobre os ombros dos produtores.
Os países produtores e os outros atores estão preocupados com o fato de o Contrato "C" não ser o mecanismo correto para formar referência de preço e que, ao permitir o empobrecimento dos produtores, a indústria de café está arriscando seu próprio futuro.
A atual crise de sustentabilidade econômica dos produtores de café deve ser abordada imediatamente antes que se converta em uma crise humanitária. Deve-se implementar um enfoque embasado no princípio de corresponsabilidade e transparência total para garantir que todos os elos da cadeia de valor sejam rentáveis e saudáveis. Mesmo que um café resulte em uma excelente bebida, se isso ocorre a custas da dignidade, do valor ou do bem-estar das pessoas e da terra, não pode ser realmente um café sustentável. A ICE (bolsa de Nova York) não pode estar ausente nessa discussão.
Os produtores de café de todo o mundo estão procurando, durante anos, o resto da cadeia de valor com a esperança de uma abordagem coletiva, construtiva e realista para garantir a sustentabilidade econômica dos produtores. A resposta – infelizmente – tem sido muito fraca. Quando se trata da sustentabilidade econômica dos produtores de café, está claro: NÃO AGIR NÃO É UMA OPÇÃO!
* Pesquisa: Organização Internacional do Café
** Pesquisa: Statista
Lista de Associações, Federações e países que assinam a declaração
ACRAM – Agence des Cafés Robusta d’Afrique et Madagascar
Camarões, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Gabão, Madagascar, República Democrática do Congo, Togo
AFCA - African Fine Coffees Association
Burundi, Camarões, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Quênia, Malawi, Rwanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue
AMECAFE - Asociación Mexicana de la Cadena del Café
ANACAFE - Asociación Nacional del Café Guatemala
BSCA - Brazilian Specialty Coffees Association
CNC – Conselho Nacional do Café – Brazil
CONAPROCAFE - Coalición Nacional de Organizaciones de Productores de Café – México
FNC - Federación Nacional de Cafeteros de Colombia
IACO - Inter-African Coffee Organization
India Coffee Trust
PROMECAFE
México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana, Jamaica
SCA – Specialty Coffee Association USA
VICOFA - Vietnam Coffee and Cocoa Association
Estoque: Conab envia senhas para armazenadores de café
Estatal receberá informações sobre o estoque do produto até abril e deve divulgar resultado em junho.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou, na quarta-feira, 27 de março, que iniciou o envio das senhas de acesso a indústrias, cooperativas, associações e armazenadores de café do país cadastrados no Sistema de Pesquisa de Estoques Privados (Sipesp) para participar da pesquisa de 2019 sobre o estoque do produto no Brasil. A pesquisa poderá ser respondida entre os dias 1º e 21 de abril.
Segundo a Conab, o campo de atuação abrange diversos estados de todas as regiões do país e vai mostrar o estoque final do produto colhido em 2018. A previsão é que o resultado seja divulgado até o mês de junho. As informações deverão ter como data base os estoques do dia 31 de março de 2019 e não devem incluir o produto da nova safra.
Também conforme a estatal, os volumes devem ser informados separadamente, por unidade armazenadora, cadastrada ou não, e por tipo (arábica ou conilon). “Mesmo que os armazenadores não possuam estoques na data de referência, a Conab reforça que o boletim de estoque deve ser preenchido”, reforça.
Para os não possuem cadastro no Sipesp e não receberem as senhas de acesso, há a possibilidade de baixar o formulário “Boletim de Levantamento de Estoque - Café 2019” disponível no site da Conab. Assim que preenchido, esse documento deverá ser enviado para o e-mail estoque-privado@conab.
O Conselho Nacional do Café (CNC) reforça a seus associados e demais entidades armazenadoras que é fundamental haver compromisso em comunicar esses dados e de maneira correta, pois essa informação servirá de subsídio para a elaboração de políticas públicas e privadas à cafeicultura.
Semana foi de baixa volatilidade e de ausência de novidades que estimulem um movimento de recuperação
Em uma semana de baixa volatilidade e sem novidades que estimulem um movimento de alta, os contratos futuros do café permaneceram praticamente estáveis nos mercados internacionais, com a flutuação se apegando à movimentação do dólar.
Na Bolsa de Nova York, o vencimento maio/2019 do contrato "C" encerrou a sessão de ontem a US$ 0,966 por libra-peso, registrando perda mínima de 5 pontos na semana. Na ICE Europe, o vencimento maio/2019 do café robusta caiu US$ 2, negociado a US$ 1.492 por tonelada.
Em meio à turbulência política ocorrida no Brasil nos últimos dias, o dólar comercial chegou a romper a barreira dos R$ 4 ontem (28), mas perdeu força conforme diminuiu a temperatura entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro.
Um cenário externo menos agitado também contribuiu para acalmar o nervosismo do mercado e os investidores realizaram ajustes depois da forte valorização da divisa. Ontem, a moeda encerrou os negócios valendo R$ 3,9174, com avanço de 0,4% na semana.
Em relação ao clima, a Somar Meteorologia informa que a chegada de uma frente fria pela costa do Sudeste, nos próximos dias, aumenta as instabilidades, principalmente no Estado de São Paulo, favorecendo o retorno das pancadas de chuva. A partir de segunda-feira, as precipitações devem se espalhar por toda a Região, com as temperaturas tendo leve declínio devido ao aumento da nebulosidade.
No Brasil, os preços dos cafés arábica e conilon avançaram 1,2% e 1,1%, respectivamente, cotados a R$ 393,99/saca e a R$ 304,54/saca conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Contudo, a oscilação do dólar mantém os operadores afastados do mercado.
Ainda de acordo com a instituição, a perspectiva de ampla oferta de café na safra 2018/19 e de reservas confortáveis em 2019/20 tem pressionado os valores internacionais e, consequentemente, internos do arábica e do robusta.
"Com as recentes e contínuas quedas nos preços, as médias mensais atuais são as mais baixas desde janeiro de 2014 para o arábica e de dezembro de 2013 para o robusta, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de fevereiro/19). Esse cenário mantém produtores retraídos do mercado, negociando apenas quando necessário", conclui o Cepea, em nota (Assessoria de Comunicação, 29/3/19)