Com colheita na reta final, safra de soja do Brasil encosta na dos EUA
Com a colheita na reta final, a safra de soja 2017/18 do Brasil continua a ser revisada para cima em meio a elevadas produtividades, e as estimativas apontam que o país está cada vez mais próximo dos Estados Unidos na liderança global da produção da oleaginosa.
A perspectiva de uma produção ainda maior coloca o Brasil, principal exportador mundial da oleaginosa há alguns anos, em posição mais competitiva no cenário internacional, marcado pela crescente tensão comercial entre EUA e China e uma forte quebra de safra na Argentina.
Nesta segunda-feira, a consultoria AgRural elevou a estimativa da safra nacional para 119 milhões de toneladas, mais de 1 milhão de toneladas acima da previsão feita em março, versus 114 milhões de 2016/17.
Enquanto o Brasil ainda tem pouco mais de 20 por cento de sua área de soja para ser colhida, a safra 2017/18 dos EUA, já finalizada, está oficialmente estimada em 119,5 milhões de toneladas.
“A colheita de soja começa a ganhar ritmo nas regiões mais tardias, principalmente no Matopiba e no Rio Grande do Sul. No Matopiba a safra é esplêndida, com produtividades acima de 60 sacas por hectare. É com certeza a melhor safra daquela região”, disse o analista Adriano Gomes, da AgRural, referindo-se à fronteira agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Ele evitou fazer comentários sobre a eventualidade de o Brasil superar pela primeira vez, já na safra atual, os EUA como maiores produtores de soja.
Mas isso não é uma ideia descartada entre analistas.
“Existe a possibilidade, sim, de o Brasil ameaçar a liderança dos EUA, pois as produtividades no Matopiba e no Rio Grande do Sul, que ainda estão colhendo, podem ser revisadas positivamente”, disse a Agroconsult à Reuters após ser consultada.
Por ora, a Agroconsult ainda prevê uma produção de 118,9 milhões de toneladas no Brasil neste ano, mas afirmou já estar “rodando” um novo levantamento.
Se a liderança em soja não se confirmar na temporada atual, as chances de isso ocorrer seriam maiores no próximo ciclo, em condições climáticas normais, pois há indicações de que os EUA vão reduzir o plantio, enquanto o Brasil tem avançado continuamente sua área plantada.
As avaliações de Agroconsult e AgRural ocorrem um dia antes de a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) atualizar suas previsões de safra para o ciclo 2017/18 no Brasil, enquanto o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) também divulgará novos números sobre oferta e demanda.
REVERSÃO DE EXPECTATIVAS
As mais recentes previsões para a atual safra de soja do país contrastam com o sentimento inicial.
Em meados do ano passado, o mercado apostava que a cultura dificilmente registraria as boas produtividades de 2016/17. Uma forte seca entre setembro e outubro, no momento do plantio, também levantou dúvidas quanto ao potencial das lavouras.
De lá para cá, contudo, as condições climáticas melhoraram, e as surpresas começaram a aparecer no campo.
“O mercado sentiu uma resposta surpreendente (com o desenrolar da colheita), que foi a produtividade melhor do que a esperada”, afirmou o diretor da Cerealpar, Steve Cachia.
Segundo ele, a corretora aposta agora em produção de 115 milhões de toneladas de soja em 2017/18, ante previsão de 113,5 milhões em março.
“O clima considerado excelente e a tecnologia usada contribuíram em conjunto para que o produtor brasileiro pudesse obter rendimentos nas lavouras bem acima dos níveis históricos e do que era esperado pelo mercado de modo geral.”
Recentemente, a consultoria INTL FCStone também passou a projetar uma safra recorde de soja, de 115,9 milhões de toneladas, com “os Estados da região Centro-Oeste e do Matopiba apresentando um resultado excepcional” (Reuters, 9/4/18)