30/05/2019

Com dívida de R$ 12 bi, Atvos Odebrecht faz pedido de recuperação judicial

Com dívida de R$ 12 bi, Atvos Odebrecht faz pedido de recuperação judicial

Derrocada da Atvos é revés para o grupo e seus credores, principalmente bancos públicos.

Com uma dívida de R$ 11,96 bilhões, a Atvos, braço sucroalcooleiro do grupo Odebrecht, entrou nesta quarta-feira (29) com um pedido de recuperação judicial. O pleito foi protocolado na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo e aprovado pelo juiz João de Oliveira Rodrigues Filho.

A derrocada da companhia é um revés importante para o grupo Odebrecht e para os bancos, principalmente os públicos. O BNDES é o maior credor, com R$ 4,1 bilhões a receber. Em seguida vem Banco do Brasil, com R$ 3,8 bilhões, a Caixa Econômica Federal, com R$ 530 milhões, o Itaú, com R$ 390 milhões, e o Bradesco, com R$ 260 milhões.

Com o aval da Justiça, a companhia deverá apresentar um plano de recuperação dentro de 60 dias. Conforme apurou a reportagem, é bem provável que o plano implique numa perda expressiva para os credores, porque sua estrutura de capital não comporta mais que R$ 5 bilhões em dívida.

No pedido de recuperação judicial, ao qual a Folha teve acesso, a Atvos relata que vinha negociando uma “saída amigável” com os bancos, quando foi surpreendida por um “ataque específico e desgarrado” de um dos credores.

Segundo próximas ao processo, trata-se do fundo americano LoneStar, com o qual a companhia possui uma dívida de R$ 1,1 bilhão. Os americanos arrestaram na Justiça parte da receita com a venda de etanol, o que asfixiou financeiramente a empresa. Com a recuperação judicial, vão parar de receber o dinheiro.

Em nota à imprensa, a Atvos informou que “entrou com o pedido de recuperação judicial para preservar suas operações, garantir o equilíbrio financeiro e reforçar o seu compromisso com os mais de 10 mil empregados”. A empresa está sendo assessorada pelo escritório E. Munhoz Advogados e pela RK Partners.

O presidente Odebrecht S.A, Luciano Guidolin, também enviou comunicado aos funcionários a fim de tentar isolar o restante do grupo da crise. “O pedido da Atvos restringe-se a ela própria e não envolve a Odebrecht S.A, nem outras empresas”, disse.

Mas o fato é que o todo o grupo enfrenta uma situação financeira delicada. A construtora OEC está renegociando diretamente com os detentores de bônus no exterior uma dívida de US$ 3 bilhões (R$ 12 bilhões) . As conversas não vem sendo fáceis.

A OR, do ramo imobiliário, passa por dificuldades e está na mesa a possibilidade de também pedir uma trégua à Justiça. O estaleiro Enseada entrou em recuperação extra-judicial, mas seus negócios não vão bem. Apenas a Ocyan, de petróleo e gás, equacionou satisfatoriamente suas dívidas, enquanto a petroquímica Braskem vai bem.

A Atvos –ainda com o nome de Odebrecht Agroindustrial–iniciou suas atividades em meados de 2007, no auge do poder político e dos negócios da família Odebrecht, que entrou em diferentes ramos e se endividou significativamente.

Hoje a companhia tem nove usinas de açúcar e álcool em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e capacidade para produzir 700 mil toneladas de açúcar e 3 bilhões de litros de álcool combustível. É a segunda maior produtora de etanol do país.

A empresa entrou em dificuldades pela primeira vez em 2016, após a prisão do herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, por corromper políticos e funcionários públicos. Também agravou o problema a situação do setor de açúcar e álcool, que sofria com o congelamento do preço da gasolina pela Petrobras, tornando o etanol pouco rentável.

Na época, a então Odebrecht Agroindustrial promoveu uma primeira reestruturação de sua dívida, transferindo cerca de R$ 2 bilhões de débitos para sua holding e oferecendo em garantia ações da Braskem, até hoje a empresa mais saudável do conglomerado.

Itaú e Bradesco aproveitaram a operação e passaram boa parte de seus créditos para a holding e, por isso, estão menos expostos hoje à recuperação judicial da companhia do que as instituições públicas. A condição, no entanto, foi emprestar mais R$ 1 bilhão à família Odebrecht para injetar em outros negócios.

Já naquela época especialistas em reestruturação de empresas diziam que a melhor saída para a empresa de açúcar e álcool era a recuperação judicial, mas os Odebrecht resistiram, com receio de perder o crédito nos bancos e de que a crise engolfasse todo o grupo.

A empresa então mudou de nome para Atvos. Os problemas, contudo, persistiram conforme o previsto. No pedido de recuperação judicial, a companhia informa que perdeu R$ 1,2 bilhão de receita com a greve dos caminhoneiros e que sofreu com problemas climáticos na safra de cana de 2018 e 2019. Sua principal dificuldade, contudo, é o endividamento excessivo (Folha de S.Paulo, 30/5/19)


Atvos é primeira do grupo Odebrecht a pedir recuperação judicial

A produtora de etanol Atvos tornou-se nesta quarta-feira a primeira empresa do grupo Odebrecht a pedir recuperação judicial, após o embate com um investidor jogar por terra negociações com bancos para tentar evitar um embate na Justiça.

“A Atvos, segunda maior produtora de etanol do país, entrou hoje (29) com pedido de recuperação judicial na Justiça do Estado de São Paulo com o objetivo de preservar suas operações”, afirmou a companhia em seu website.

O movimento confirmou o que havia sido publicado pela Reuters mais cedo, que o pedido de recuperação judicial seria pedido nesta semana, após a norte-americana Lone Star ter conseguido na Justiça uma ordem de bloqueio do caixa da Atvos no início da semana.

A decisão pegou de surpresa credores como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil, a quem a Odebrecht vinha oferecendo o controle da Atvos como opção para um processo de reestruturação de dívida do conglomerado.

“Este processo é resultado da investida hostil de um fundo internacional, credor da Atvos, que por meio de processo judicial colocou em risco as operações da empresa”, disse a Atvos, sem citar nomes.

Enquanto negociava com credores, a Odebrecht vinha tentando isolar a gestão financeira da Atvos, justamente para evitar que a eventual derrocada dela contaminasse o conglomerado, trabalho que vinha sendo coordenado por Ricardo Knoepfelmacher, também conhecido como Ricardo K, por meio da consultoria RK Partners.

Com outra empresa do grupo, a Ocyan (ex-Odebrecht Óleo e Gás), a solução encontrada foi uma recuperação extrajudicial, modelo em que um alongamento de dívida é pactuado com credores.

O processo da Atvos (ex-Odebrecht Agroindustrial) vinha evoluindo, mas foi atropelado pela movimentação da Lone Star, bloqueando o caixa da Atvos, que por sua vez não viu alternativa a não ser a recuperação judicial.

Ainda nesta quarta-feira, fontes bancárias minimizaram notícias de que a Atvos, com mais de 12 bilhões de reais em dívidas, se preparava para pedir recuperação judicial. A notícia foi vista inicialmente como um blefe, uma pressão da própria Odebrecht para tentar forçar um acordo.

Com o revés, o tom das conversas entre Odebrecht e bancos tende a piorar.

Outras empresas do grupo incluem a empreiteira OEC, a Odebrecht Latinvest e a petroquímica Braskem.

A Atvos enfatizou no comunicado desta quarta-feira ainda sua expectativa de moer cerca de 27 milhões de toneladas de cana na safra 19/20, suficientes para produzir 2,1 bilhões de litros de etanol, 237 mil toneladas de açúcar VHP e gerar 2,9 mil GWh de energia elétrica, numa tentativa de mostrar que seu negócio segue firme.

Após o deferimento do pedido de recuperação pela Justiça, a empresa terá 60 dias para apresentar a primeira versão do plano de recuperação judicial (Reuters, 29/5/19)