Com foco em custo, Adecoagro cresce no País
Muitos grupos estrangeiros que há alguns anos entraram no Brasil de mala e cuia, atraídos por um cenário então promissor para o setor sucroalcooleiro, enfrentaram mais problemas do que imaginavam. Alguns se endividaram a tal ponto que tiveram que pedir proteção na Justiça contra credores; outros já se sentaram à mesa várias vezes para renegociar débitos, e há ainda os que tiveram de colocar ativos à venda. Os argentinos da Adecoagro, porém, não se encaixam em nenhum dos três casos, e após elevarem seu faturamento em oito vezes nos últimos dez anos, buscam agora formas de extrair mais valor de seus ativos e projetam até começar a dar retorno aos acionistas.
Com origem na produção de grãos na Argentina, a Adecoagro – de perfil bastante discreto para uma empresa com ações na bolsa de Nova York e cuja receita em 2017 cresceu 6,8%, para US$ 898,8 milhões – deparou-se no Brasil com uma combinação "ótima" de solo e clima para produzir açúcar e etanol. Diante disso, em 2005, tomou uma decisão que ainda lhe rende frutos: investir de forma crescente, independentemente dos ventos da economia, para ser não a maior do setor, mas aquela com o menor custo de produção.
O avanço começou com a aquisição de uma usina em Minas Gerais em 2005 e, posteriormente, com a construção de duas unidades em Mato Grosso do Sul em 2006 e 2011. Hoje, a produção de etanol, açúcar e energia a partir da cana é o principal negócio da Adecoagro em termos de geração de caixa. E os próximos passos envolvem geração de energia a partir de biogás e agregação de valor, como a produção de açúcar orgânico.
"Nosso investimento foi aumentando praticamente todos os anos. 2005 era uma época em que a frota flex [de veículos] estava crescendo, o país estava indo bem. Depois a economia fez assim [faz um gesto de negativo], mas nós continuamos os investimentos. Nossas decisões de investimento são mais de longo prazo", afirma Mariano Bosch – Foto -, CEO e cofundador da Adecoagro, repetindo um mantra típico de usineiros tradicionais do Brasil.
A Adecoagro entendeu rapidamente algo que não é óbvio para alguns players do setor: a atividade sucroalcooleira é essencialmente agrícola. "Somos todos agrônomos aqui. Entendemos de agricultura, e a maior parte da cana é própria", diz o executivo, reunido com seus diretores Leonardo Berridi, à frente dos negócios da companhia no Brasil, e Renato Junqueira Pereira, que assumiu a direção de açúcar, etanol e energia da empresa em 2010, após sua família vender o Grupo Moema à Bunge.
A opção por Mato Grosso do Sul, decidida há mais de dez anos, é hoje vista como um acerto estratégico, apesar dos desafios encontrados à época, quando a região ainda era uma nova fronteira da cana. "Não temos concorrência por cana com usinas nem com outras culturas. E não temos entressafra. Isso dilui nossos custos fixos", ressalta Junqueira, que classifica a região como "o lugar mais competitivo do mundo em produção de cana".
As vantagens que a Adecoagro vê na região justificam os aportes constantes em expansão de lavouras. Em 2017, a empresa cultivou 143,6 mil hectares com cana nas proximidades de suas usinas. Foi um acréscimo de 6,7% sobre 2016, e o plano é seguir ampliando para atender a capacidade de processamento, que cresceu após aportes recentes.
Em julho, a Adecoagro deve concluir o aumento de capacidade da Usina Ivinhema, localizada em Ivinhema (MS), encerrando um ciclo de investimentos industriais que permitirá à empresa moer até 14 milhões de toneladas de cana por ano. Neste ano, Bosch afirma que a moagem não atingirá toda a capacidade, mas deverá crescer em relação a 2017, quando somou 10,2 milhões de toneladas.
Diante do forte crescimento e de dois anos sucessivos de lucro, Bosch diz que está chegando a hora de "começar a desfrutar". "Deve chegar a etapa de remunerar os acionistas". Novas expansões ou aquisições não estão descartadas, embora só devam ocorrer se houver ganho de valor, ressalta Junqueira.
Um dos passos para otimizar os ativos atuais é a aposta em cogeração de energia a partir de gás metano. A empresa usará um concentrado de vinhaça (resíduo da moagem da cana), misturado a uma bactéria desenvolvida por um fornecedor, para produzir biogás, que irá alimentar as caldeiras.
O primeiro tanque de mistura, que demandou investimento de R$ 7 milhões, elevará a capacidade de cogeração em cerca de 6 mil megawatt-hora (MWh) por ano. Segundo Berridi, caso esse investimento, "experimental", mostre-se viável, serão instalados mais tanques que ampliarão a capacidade de cogeração da Adecoagro em Mato Grosso do Sul em 25%. Atualmente, as duas usinas do Estado vendem até 800 mil MWh ao ano, o suficiente para abastecer uma cidade como Campinas.
Já na unidade Monte Alegre, na cidade mineira de Monte Belo, estar longe do cluster de usinas dificulta a diluição de custos, e o caminho para ganhar eficiência é agregar valor. Com produção já consolidada de açúcar cristal para o mercado regional e de açúcar vitaminado, a usina começa neste ano a produzir açúcar orgânico, que deve ser vendido a um valor 60% acima do produto bruto para exportação. Inicialmente, a companhia deve vender até 15 mil toneladas de açúcar orgânico ao ano no mercado doméstico, mas almeja no futuro avançar a mercados mais consolidados para orgânicos, como Europa e Estados Unidos (Assessoria de Comunicação, 2/5/18)